2 de março de 2019

EFEITO BRUMADINHO: Fabio Schvarstman não é mais diretor-presidente da Vale. Eduardo de Salles Bartolomeo assume cargo interinamente



Na tarde deste sábado (2), o diretor-presidente da mineradora Vale, Fabio Schvarstman, entregou carta ao Conselho de Administração da companhia, na qual apresenta seu pedido de afastamento temporário do cargo. A decisão do mais alto executivo da Vale veio um dia após o Ministério Público de Minas Gerais e a equipe da Polícia Federal que investigam as causas da tragédia de Brumadinho (MG), terem expedido recomendação na qual sugerem a exoneração de alguns executivos da empresa, entre eles o diretor-presidente. O pedido foi aceito e Eduardo de Salles Bartolomeo (atual Diretor-Executivo de Metais Básicos), acima na foto, foi nomeado diretor-presidente interino.





Bartolomeo ocupa altos cargos na Vale há mais de 12 anos. Segundo a Vale, Eduardo de Salles Bartolomeo tem graduação em engenharia metalúrgica pela Universidade Federal Fluminense e MBA pelo Massachusetts Institute of Technology e pelo Katholieke Universiteit em Leuven, Bélgica. Trabalhou na Vale de 2007 a 2012 liderando diversos departamentos, sendo inclusive Diretor Executivo das Operações de Fertilizantes e Carvão e de Marketing. Foi membro do Comitê Estratégico da Vale de setembro de 2016 a outubro de 2017. É membro do Conselho de Administração da Vale desde setembro de 2016, e membro dos Comitês Financeiro e de Conformidade e Risco desde novembro de 2017.

Desde do dia 25 de janeiro, quando uma das barragens de retenção de rejeito de minério de ferro se rompeu, na mina do Córrego do Feijão, Fabio Schvarstman assumiu de fato a linha de frente das iniciativas de resgate das vítimas, atendimento às famílias, reparação dos danos ambientais e contenção dos danos causados à imagem da companhia.



Schvarstman vinha conseguindo ter um bom desempenho até o dia 26 de fevereiro, quando um depoimento de Alexandre Campanha, gerente da companhia, revelou que o diretor-presidente e outros executivos da Vale teriam conhecimento que a barragem da mina do Córrego do Feijão e outras três barragens do chamado "corredor sudeste" estavam em um nível de segurança inferior ao desejável. O depoimento fragilizou a imagem do executivo que, em 1 ano e 10 meses à frente da Vale obteve grandes resultados financeiros para acionistas e colaboradores. 

Conforme o site informou, por conta das revelações de Campanha, o MPMG tomou, então, a decisão de recomendar o afastamento dos executivos, sob pena de tomar medidas mais drásticas, entre as quais o pedido de prisão preventiva, para preservação de provas e garantia da instrução criminal.

Após receber a recomendação do MPMG, o Conselho Administrativo da Vale reuniu-se durante a noite desta sexta-feira (1º) e este sábado (2) para avaliar quais medidas tomar. Segundo comunicado da Vale, Schvarstman e os outros três executivos apresentaram seus pedidos de afastamento e foi colocado em execução o plano de interinidade.



Assim, de acordo com a determinação do Conselho de administração da Vale, Eduardo de Salles Bartolomeo (atual Diretor-Executivo de Metais Básicos) assumirá o cargo de diretor-presidente interino da Vale a partir de hoje. Claudio de Oliveira Alves (atual diretor de Pelotização e Manganês) ocupará interinamente a função de diretor-executivo de Ferrosos e Carvão e Mark Travers (atual diretor Jurídico, de Relações Institucionais e Sustentabilidade de Metais Básicos) será o novo diretor-executivo de Metais Básicos.

Veja a seguir a nota da Vale e a carta de Fabio Schvarstman, na íntegra.     

Nota da mineradora Vale à imprensa

A Vale informa que, ao final de sexta-feira, 01.03.19, seu Conselho de Administração recebeu do Ministério Público Federal, do Ministério Público do Estado de Minas Gerais, da Polícia Federal e da Polícia Civil do Estado de Minas Gerais a Recomendação nº 11/2019 com considerações e recomendações sobre afastamento de alguns executivos e colaboradores nos diversos níveis organizacionais da companhia. 

O Conselho manteve reuniões durante a noite de sexta-feira 01.03.19 e a manhã de sábado, 02.03.19, incluindo interações com executivos da companhia. Durante as suas discussões, o Conselho recebeu, dos próprios executivos Fabio Schvartsman (Diretor-Presidente), Gerd Peter Poppinga (Diretor-Executivo de Ferrosos e Carvão), Lucio Flavio Gallon Cavalli (Diretor de Planejamento e Desenvolvimento de Ferrosos e Carvão) e Silmar Magalhães Silva (Diretor de Operações do Corredor Sudeste), os pedidos de afastamento temporário de suas funções, que foram imediatamente aceitos. 

O Conselho de Administração acionou então o plano de interinidade previamente discutido: nomear Eduardo de Salles Bartolomeo (atual Diretor-Executivo de Metais Básicos) como Diretor-Presidente interino da Vale a partir desta data. Claudio de Oliveira Alves (atual Diretor de Pelotização e Manganês) ocupará interinamente a função de Diretor-Executivo de Ferrosos e Carvão e Mark Travers (atual Diretor Jurídico, de Relações Institucionais e Sustentabilidade de Metais Básicos) ocupará interinamente a função de Diretor-Executivo de Metais Básicos.

A Vale informa também que seu Conselho de Administração permanece em prontidão, na busca de um relacionamento transparente e produtivo com as autoridades brasileiras visando o esclarecimento dos fatos, a reparação apropriada dos danos e a integridade da empresa e que manterá a sociedade e os mercados informados sobre qualquer fato novo.
 
Relacionamento com a Imprensa - Vale
     

Carta de Fábio Schvarstman ao Conselho de Administração da Vale

Rio de Janeiro, 2 de março de 2019.

Ao

Conselho de Administração da Vale S.A.

Senhores Conselheiros,

Tenho em mãos a Recomendação nº 11/2019, dirigida a esse Conselho pelo Ministério Público Federal em conjunto com o Ministério Público do Estado de Minas Gerais e em atuação coordenada com a Polícia Federal e a Polícia Civil do Estado de Minas Gerais, da qual consta recomendação do imediato afastamento de certos diretores e empregados da Vale, incluindo o meu próprio.

Como é do pleno conhecimento desse Conselho, desde os dramáticos eventos de 25 de janeiro, venho dedicando todos os minutos de meus dias e noites, no limite máximo de minhas forças, às frentes de reação da companhia àqueles eventos, determinadas por esse Conselho e por mim mesmo, em conjunto com os demais membros da Diretoria, com absoluta priorização do atendimento às vítimas e às suas famílias, à apuração direta e à cooperação com a apuração dos fatos e à preservação das atividades da Vale, cruciais para o Estado de Minas Gerais e para o Brasil.

Como esse Conselho de Administração também não desconhece, foram desde logo adotadas pela Diretoria, sob meu comando, todas as medidas necessárias à preservação da integridade da informação disponível, para que a apuração independente dos fatos, pelas autoridades e pelo Comitê imediatamente criado por esse Conselho por proposta da Diretoria, possa ser realizada com a maior brevidade e profundidade.

Desde o momento em que ocorreu a tragédia que se abateu sobre as vítimas, suas famílias e sobre esta companhia estratégica para os interesses do país, fiz questão de atender pessoalmente a todas as demandas, da imprensa e das autoridades, sem intermediação de quem quer que fosse, de maneira a transmitir diretamente às vítimas, a suas famílias, à opinião pública, aos acionistas e a todos interlocutores da Vale, o nosso compromisso com a atuação mais adequada e de alto nível possível da companhia, no momento mais grave de sua história.

Estou absolutamente convicto de que minha atuação pessoal e a dos demais membros de nossa Diretoria, cujo afastamento é agora solicitado, foi absolutamente adequada, correta e, principalmente, fiel aos nossos valores inegociáveis de proteção à segurança das operações da companhia, e às diretrizes nesse sentido emanadas desse Conselho. Assim como estou absolutamente convicto de que a continuidade de nossa atuação continuaria a ser a maneira mais eficaz de a Vale obter e promover os melhores resultados em sua reação à tragédia. Entretanto, há momentos em nossas vidas em que é preciso sacrificar as convicções pessoais em benefício de um bem maior. E este é um desses momentos, pois minha presença no comando da Vale passou a ser percebida como inconveniente por autoridades que seguirão interagindo diuturnamente com a companhia.

É muito difícil para mim, após décadas de atuação como executivo de algumas das maiores empresas do Brasil, e tendo colhido o reconhecimento de minha dedicação e apoio aos milhares de colegas, colaboradores, acionistas e demais constituintes com quem ombreei ao longo de todos aqueles anos na tarefa de gerar empregos, riqueza, tributos e governança de primeiro nível, retirar-me da linha de frente, ainda que temporariamente, quando o desafio mais agudo se apresenta. Mas essa frustação daquilo que percebo como meu dever de dedicação integral às vítimas, a suas famílias, a todos os colaboradores da Vale e ao país, é irrelevante quando comparada à dor que se espalha entre milhares de pessoas neste momento e deve ceder diante do valor maior de preservação dos interesses da nação que a Vale representa.

Por tudo isso, ainda que com a absoluta convicção da retidão de minha conduta e do dever cumprido até aqui, e certo de que a percepção dos fatos que levou à recomendação de afastamento não corresponde absolutamente à sua realidade, tomei a decisão, nesta hora, em benefício da continuidade das operações da companhia e do apoio às vítimas e a suas famílias, de solicitar a esse Conselho, respeitosamente, que aceite o pedido de meu afastamento temporário das funções de diretor presidente da Vale.

Atenciosamente,

Fabio Schvartsman


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