1 de janeiro de 2019

Posse de Bolsonaro II - Presidente alinhava clichês em discurso. "Nossa bandeira nunca será vermelha", afirma. Leia a íntegra aqui



Na tarde desta terça-feira (1º), Jair Bolsonaro (PSL), tornou-se o 38º presidente do Brasil. No Congresso Nacional fez o juramento à Constituição e assinou o termo de posse; no Palácio do Planalto, recebeu a faixa presidencial, despachou Michel Temer (MDB) para casa (e o esquecimento) e discursou para os poucos mais de 100 mil fiéis que se dispuseram a cumprir uma espécie de via crucis para assistir a cerimônia.

Bolsonaro discursou no Congresso e no Planalto. No Congresso, falou a parlamentares e convidados estrangeiros para delinear as prioridades de seu governo. No Parlatório do Planalto, ele fez seu primeiro pronunciamento à nação já oficialmente como presidente, discursando perante os apoiadores que foram a Brasília acompanhar a posse.

Em ambos os locais, Bolsonaro foi apenas Bolsonaro. Mostrou que ainda está em campanha e não pretende desmanchar os palanques tão cedo. A mesma cantiga, em tons levemente diferentes, foi entoada nos dois discursos: "libertação do Brasil do socialismo", contra a "ideologização das crianças", "fim da ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais", combate à "desconstrução da família" e outras bolsonarianices que são repetidas pelos seus seguidores nas redes sociais. Foram alinhavos de clichês lidos na forma de stacato típica do novo presidente.

No Congresso, retomou a teoria de que uma conspiração teria sido urdida para matá-lo. Bolsonaro foi esfaqueado no início de setembro deste ano quando participava de uma atividade de campanha. Passou mais de 20 dias internado e muitos analistas avaliam que o evento, apesar de trágico, reverteu em favor do ex-capitão.

Em um ponto particularmente interessante de seu discurso no Parlatório, o chefe do novo regime disse que esta terça-feira foi "o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto". E prometeu "restabelecer a ordem neste país".

No Congresso Nacional, Bolsonaro disse contar com o parlamento para aprovar as reformas que considera "estruturantes", mas não disse quais seriam. Ouviu do presidente do Senado e do Congresso Eunício Oliveira que apenas através do diálogo com os congressistas será possível avançar nas reformas, "não importam o quanto sejam boas as ideias". 

"Quando as regras vigentes não permitirem que se faça o que eventualmente se pretenda, será necessária a alteração legislativa pelo Congresso, com o controle de constitucionalidade do Supremo e a permanente fiscalização do Ministério Público. Sob a Constituição e as leis que há pouco Vossa Excelência jurou defender, serão discutidas essas eventuais mudanças, com o Congresso e a sociedade", frisou Eunício.

Eunício, ao dizer que espera de Bolsonaro o "melhor exemplo de conduta", citando Confúcio, lembrou que "a palavra convence, mas o exemplo arrasta". A citação parece ter endereço certo. Pelo menos seis dos colaboradores mais diretos de Bolsonaro estão sendo investigados ou respondem a processos e inquéritos na Justiça. O próprio Bolsonaro já teve que garantir que Fabrício Queiroz, seu amigo e funcionário de um de seus filhos até poucos meses atrás, não é seu "laranja". Queiroz está sendo investigado pelo Ministério Público no que muitos chamam de "Bolsogate", uma referência ao escândalo Watergate que derrubou o presidente norte-americano Richard Nixon.

O tom anti-esquerdista e moralista esteve bem presente no discurso de Bolsonaro diante de sua claque, no Parlatório. "Não podemos deixar que ideologias nefastas venham a dividir os brasileiros. Ideologias que destroem nossos valores e tradições, destroem nossas famílias, alicerce da nossa sociedade", disse o presidente.

No que pareceu um chamado para uma espécie de cruzada, Bolsonaro emendou: "convido a todos para iniciarmos um movimento nesse sentido. Podemos, eu, você e as nossas famílias, todos juntos, restabelecer padrões éticos e morais que transformarão nosso Brasil."  

Logo após seu discurso no Parlatório, Bolsonaro abriu uma bandeira do Brasil e ao lado de seu vice, general Hamilton Mourão, voltou a repetir o mantra segundo o qual "nossa bandeira jamais será vermelha" e emendou que "apenas ficaria vermelha com nosso sangue para defendê-la".

A plateia rugiu em êxtase.

Nesta quarta-feira (2), o governo começa de fato e na quinta-feira (3) haverá a primeira reunião oficial do ministério. A partir de então, quando Paulo Guedes começar a se movimentar oficialmente, será possível avaliar qual futuro terá o novo regime. 

Se Guedes e seus rapazes da "escola de Chicago", conseguirem reduzir o desemprego, conter o déficit público e retomar os investimentos, os clichês de hoje serão apenas clichês.    

Caso Guedes não coloque o país em marcha, os clichês serão tudo que restará a Bolsonaro para saciar sua claque, essa plateia que por ser "contra tudo o que está aí" e não ter certeza de nada, parece esperar tudo de um governo que, aparentemente, não tem muito a oferecer.

A seguir a íntegra do discurso de Bolsonaro:

Amigas e amigos de todo o Brasil,

É com humildade e honra que me dirijo a todos vocês como Presidente do Brasil.

E me coloco diante de toda a nação, neste dia, como o dia em que o povo começou a se libertar do socialismo, da inversão de valores, do gigantismo estatal e do politicamente correto.

As eleições deram voz a quem não era ouvido.

E a voz das ruas e das urnas foi muito clara.

E eu estou aqui para responder e, mais uma vez, me comprometer com esse desejo de mudança.

Também estou aqui para renovar nossas esperanças e lembrar que, se trabalharmos juntos, essa mudança será possível.

Respeitando os princípios do estado democrático de direito, guiados por nossa Constituição e com Deus no coração, a partir de hoje, vamos colocar em prática o projeto que a maioria do povo brasileiro democraticamente escolheu, vamos promover as transformações de que o país precisa.

Temos recursos minerais abundantes, terras férteis abençoadas por Deus e um povo maravilhoso.

Temos uma grande nação para reconstruir e isso faremos juntos.

Os primeiros passos já foram dados.

Graças a vocês, eu fui eleito com a campanha mais barata da história.

Graças a vocês, conseguimos montar um governo sem conchavos ou acertos políticos, formamos um time de ministros técnicos e capazes para transformar nosso Brasil. Mas ainda há muitos desafios pela frente.

Não podemos deixar que ideologias nefastas venham a dividir os brasileiros. Ideologias que destroem nossos valores e tradições, destroem nossas famílias, alicerce da nossa sociedade.

E convido a todos para iniciarmos um movimento nesse sentido. Podemos, eu, você e as nossas famílias, todos juntos, restabelecer padrões éticos e morais que transformarão nosso Brasil.

A corrupção, os privilégios e as vantagens precisam acabar. Os favores politizados, partidarizados devem ficar no passado, para que o Governo e a economia sirvam de verdade a toda Nação.

Tudo o que propusemos e tudo o que faremos a partir de agora tem um propósito comum e inegociável: os interesses dos brasileiros em primeiro lugar.

O brasileiro pode e deve sonhar. Sonhar com uma vida melhor, com melhores condições para usufruir do fruto do seu trabalho pela meritocracia. E ao governo cabe ser honesto e eficiente.

Apoiando e pavimentando o caminho que nos levará a um futuro melhor, ao invés de criar pedágios e barreiras.

Com este propósito iniciamos nossa caminhada. E com este espírito e determinação que toda equipe de governo assume no dia de hoje.

Temos o grande desafio de enfrentar os efeitos da crise econômica, do desemprego recorde, da ideologização de nossas crianças, do desvirtuamento dos direitos humanos, e da desconstrução da família.

Vamos propor e implementar as reformas necessárias. Vamos ampliar infraestruturas, desburocratizar, simplificar, tirar a desconfiança e o peso do Governo sobre quem trabalha e quem produz.

Também é urgente acabar com a ideologia que defende bandidos e criminaliza policiais, que levou o Brasil a viver o aumento dos índices de violência e do poder do crime organizado, que tira vidas de inocentes, destrói famílias e leva a insegurança a todos os lugares.

Nossa preocupação será com a segurança das pessoas de bem e a garantia do direito de propriedade e da legítima defesa, e o nosso compromisso é valorizar e dar respaldo ao trabalho de todas as forças de segurança.

Pela primeira vez, o Brasil irá priorizar a educação básica, que é a que realmente transforma o presente e o futuro de nossos filhos e netos, diminuindo a desigualdade social.

Temos que nos espelhar em nações que são exemplos para o mundo e que por meio da educação encontraram o caminho da prosperidade.

Vamos retirar o viés ideológico de nossas relações internacionais.

Vamos em busca de um novo tempo para o Brasil e os brasileiros!

Por muito tempo, o país foi governado atendendo a interesses partidários que não o dos brasileiros. Vamos restabelecer a ordem neste país.

Sabemos do tamanho da nossa responsabilidade e dos desafios que vamos enfrentar. Mas sabemos aonde queremos chegar e do potencial que o nosso Brasil tem. Por isso vamos dia e noite perseguir o objetivo de tornar o nosso país um lugar próspero e seguro para os nossos cidadãos e uma das maiores nações do planeta.

Podem contar com toda a minha dedicação para construir o Brasil dos nossos sonhos.

Agradeço a Deus por estar vivo e a vocês que oraram por mim e por minha saúde nos momentos mais difíceis.

Peço ao bom Deus que nos dê sabedoria para conduzir a nação.

Que Deus abençoe esta grande nação.

Brasil acima de tudo, Deus acima de todos.

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