Marabá é referência em saúde na região. Este fato não pode ser ignorado. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) fez as contas e chegou a números relevantes. 21 municípios integram o Programa de Pactuação Integrada e todos têm como alternativa os hospitais de Marabá. Isso faz com que o Hospital Municipal de Marabá (HMM) e o Hospital Materno Infantil (HMI) alcancem cerca de 1 milhão e 200 mil pessoas.
Isso explica porque o HMM atende, todos os dias, pelo menos 400 pacientes. Enquanto isso, o HMI atende nada menos que 300 pessoas por dia. Marcos Jovã, diretor técnico do HMM, mostra que foram 110.522 atendimentos registrados entre janeiro e novembro de 2018. Desses pacientes atendidos, 65% são residentes de Marabá. Os outros 35% são de municípios vizinhos.
Esses números já seriam suficientes para deixar qualquer gestor à beira de um ataque de nervos, mas a coisa fica ainda mais complicada.
Uma das formas de organizar minimamente o caos é um protocolo chamado REGULAÇÃO.
Funciona assim. Antes de mandar seus pacientes para Marabá, os municípios vizinhos precisam acessar o Sistema de Regulação (Sisreg) e solicitar o atendimento ambulatorial - consultas com especialistas e exames - ou cirurgias e internação. Assim, é possível avaliar se o HMM, HMI ou o Hospital Regional "Geraldo Veloso" estão em condições de atender os pacientes e se há vagas para recebê-los. Uma vez regulados, os pacientes, com seus prontuários de atendimento, podem ser trazidos para uma das unidades de saúde e receber tratamento adequado.
Ocorre que isso não vem sendo feito.
Que se diga: pacientes, mesmo sem a devida regulação, quando chegam a Marabá são recebidos e atendidos pelos hospitais. Eles são, na prática despejados nas portas dos hospitais de Marabá, sem aviso prévio, sem a certeza de que há vagas, sem saber se aquele hospital está aparelhado para resolver seu caso e sem que tragam qualquer informação capaz de orientar a ação dos médicos.
O atraso no atendimento é certo e o risco de óbito é enorme.
No caso do Hospital Materno Infantil, a média de parturientes sem regulação é de 23%, ou seja, cerca de 100 mulheres vêm diariamente de municípios vizinhos e são atendidas sem passar pelo sistema.
Dos 3.055 partos (cesáreo e normal) registrados nos meses de junho a dezembro, 577 parturientes de municípios pactuados chegaram àquela casa de saúde sem realizar nenhuma regulação pelo sistema, ou seja, foram trazidas sem qualquer informação para dar à luz seus filhos. Somente na primeira quinzena do mês de janeiro de 2019, 51 mulheres não reguladas foram atendidas no HMI. Uma total irresponsabilidade por parte dos gestores da saúde dos municípios vizinhos, que coloca em risco a vida da mulher e da criança em vias de nascer.
“Nos casos que não são perfil do Hospital Municipal ou do Materno, temos de proceder esse cadastro para o Regional, através do outro sistema e aguardar. Enquanto isso, esse paciente fica ocupando leito nos hospitais até liberar um leito no HR”, conta Janaína. E claro, correndo risco de vida e ocupando um leito que poderia estar sendo usado para cuidar de outro paciente.
A verdade é que o uso da ambulância para trazer pacientes tornou-se, em muitos municípios, a única "política de saúde" existente. Por falta de investimentos ou de gestão, esses municípios transferem os pacientes - e a responsabilidade sobre eles - para Marabá como forma de mostrar que estão fazendo "alguma coisa".
Enquanto a regulação não for praxe entre os municípios da região, sempre existirá o perigo de colapso no serviço de saúde. As equipes médicas dos hospitais de Marabá estão entre as mais experientes do Pará e estão acostumadas à pressão inerente de ser retaguarda para toda a região, mas se nada for feito, continuarão a ser pressionadas para além do razoável e estarão cada vez mais expostas a perder pacientes que, caso tivessem sido trazidos de forma regular e a tempo, saíram vivos das unidades de saúde.
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