14 de fevereiro de 2012

Que a morte de Thaís afaste a letargia e desperte a cidadania. Eis um legado decente.

Toda vida interrompida pela brutal violência que nos cerca tem sobre mim um impacto tremendo. Sempre que possível, evito ler a crônica policial dos jornais. Confesso que lido melhor quando as vidas ceifadas estão encapsuladas nas estatísticas. Pode não parecer, mas, adoro números. São tranquilizadores e impessoais. Sei que trata-se de uma forma de afastar-me, por mínimo que seja, deste cotidiano rombudo. Mas, é assim que sou. 
Contudo, por mais repugnância que isso me cause não consigo ficar calado especialmente quando a vítima é uma criança. Dostoyevsky, pela boca de Ivan Karamazov diz que, "acima de tudo o mais, a morte de uma criança lhe dá ganas de devolver ao universo o seu bilhete de entrada." Junto-me a ele.
Faço este introito para referir-me à morte da pequena Thaís, 12 anos de idade e a vida inteira pela frente. Para ela não haverá festa 15 anos, namorados, casamento, filhos, nada. Ao ir para a escola, no que seria um dia comum, igual a tantos outros idos e a vir, ela foi raptada, violentada, morta e decapitada, vítima da selvageria que parece não ter mais paradeiro.
Desaparecida desde a sexta-feira passada, Thais foi encontrada hoje em um bairro da periferia de Parauapebas, ironicamente chamado de "Paraíso", sem a cabeça e as mãos. Ao lado do corpo mutilado, roupas e pertences da criança. A polícia diz-se sem pistas, como sempre.
Sei pelos amigos José Eduardo e Demerval Moreno que não é esta a única ocorrência envolvendo crianças desaparecidas na cidade. Zé Dudu me informa que o Conselho Tutelar já acumula 12 ocorrências desde o ano passado. Demerval me diz que apenas neste ano seriam três os casos conhecidos.
Não quero e não vou ser leviano para colocar toda a responsabilidade na conta das polícias civil e militar. Pais e responsáveis precisam entender que cada um de nós precisa fazer algo para preservar, ao menos, a vida das nossas crianças.
Conversar com as crianças, orientá-las para andar sempre em grupo, para que evitem o contato com estranhos e manter uma vigilância constante sobre as crianças são tarefas de todos os que não querem chorar a perda de seus filhos.
Não posso sequer imaginar a dor que deve transpassar os pais e familiares da pequena Thais. Posso apenas rezar para encontrem alguma forma de consolo em Deus e lembro que complementado o que diz Karamazov, Marshal Berman afirma que mesmo sentindo ganas de deixar este mundo louco "ele
não o faz. Ele continua a lutar e a amar; ele continua a continuar." Eis o que devemos fazer. Continuar a continuar.
Que a perda de Thais sirva, ao menos, para que todos nós possamos acordar desta letargia e dando a nossa contribuição, cobrar das autoridades que cumpram o seu dever e proteger nossas crianças. 

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