Entre 2015 e 2019 a mineração sofreu dois sérios abalos no Brasil. As catástrofes de Mariana e Brumadinho, com enormes perdas humanas e ambientais, ambas em Minas Gerais e ambas envolvendo a mineradora Vale, fizeram disparar a preocupação em todo o país e acenderam a discussão sobre a segurança das barragens operadas pela maior mineradora de ferro do mundo.
Embora seja impossível cravar que nada de errado ocorrerá, os fatos mostram que os níveis de segurança das barragens no Pará são superiores aos de Minas Gerais. A seguir, entenda porque.
DPA e CRI: O Que é Isso?
Segundo a Vale, todas as barragens que ela opera na região de Carajás são classificadas como de Baixo Risco. A mineradora tem razão. Consultando o Relatório de Segurança de Barragens 2017, publicado pela Agência Nacional de Águas (ANA), as barragens da Vale, apesar de classificadas como de Dano Potencial Associado (DPA) alto (ou seja, caso rompessem trariam graves prejuízos), têm nível baixo no quesito Categoria de Risco (CRI), ou seja, quando avaliados os aspectos da própria barragem que possam influenciar na probabilidade de um acidente, tais como, aspectos de projeto, integridade da estrutura, estado de conservação, operação e manutenção e atendimento ao Plano de Segurança, não oferecem risco de ruptura.
Isso é explicado pelo fato de, ao contrário de Brumadinho e Mariana, onde as barragens foram feitas pelo sistema de "alteamento à montante", em cidades como Canaã dos Carajás, Parauapebas e Marabá esse modelo não é utilizado e 80% de toda a produção de minério de ferro já é feita sem uso de água, através do processamento a seco, uma técnica mais cara, porém mais segura.
Enquanto as barragens recebem a água juntamente com os rejeitos, no método a seco o rejeito é acumulado e armazenado em uma bacia de disposição, normalmente em áreas inclinadas para facilitar o escoamento. Eles são drenados e depositados em pilhas, que ficam expostas à secagem ao sol, protegidas por diques.
Processamento A Seco: Mais Caro, Mais Seguro
No processamento a úmido,o minério passa por britagem, peneiramento, flotação e concentração. No processamento a seco, há somente britagem e peneiramento.
No Complexo S11D Eliezer Batista, em Canaã dos Carajás, são usadas escavadeiras e britadores que juntos extraem e processam o minério – o chamado sistema "truckless" (sem uso de caminhões). Ao chegar à usina processadora, o beneficiamento do material é feito sem o uso de água. É a própria umidade do minério que é usada para retirar as impurezas.
No processamento do minério a seco, o "enxugamento" dos rejeitos é feito com o uso de um filtro-prensa, que deixa o material com menos água, "espremendo" a lama. O material é depositado em um aterro, com grãos sólidos compactados para diminuir o volume. Isso é feito onde seria o reservatório da barragem. Economiza-se 93% do uso de água e não há mais perigo de desastres do tipo que destruiu Mariana e Brumadinho.
Em recente entrevista ao portal de notícias G1, Paulo Lanzarotto, professor de engenharia da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), conta que o processamento a seco de minério de ferro é mais caro porque demanda mais procedimentos de britagem e moagem da terra, ou seja, mais tempo e mais energia elétrica.
Ele explica que esse processo exige trituração maior do solo porque a separação não é feita por água, mas por peneiramento ou por diferença de densidades, então é feita uma moagem maior do solo para separar o minério.
Em recente entrevista ao portal de notícias G1, Paulo Lanzarotto, professor de engenharia da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap), conta que o processamento a seco de minério de ferro é mais caro porque demanda mais procedimentos de britagem e moagem da terra, ou seja, mais tempo e mais energia elétrica.
Ele explica que esse processo exige trituração maior do solo porque a separação não é feita por água, mas por peneiramento ou por diferença de densidades, então é feita uma moagem maior do solo para separar o minério.
“O processo hidráulico com as barragens é o método tradicional e mais econômico devido à abundância de água no país para limpar o mineral”, disse.
Lanzarotto mostra que são usadas estruturas cilíndricas, como máquinas de lavar de eixo horizontal, onde é jogada a terra com o minério, e o material vai sendo fragmentado em diversos tamanhos. Os pedaços então são separados em peneiras de acordo com as características deles. “Esse processo usa mais energia do que em um processo tradicional. Por isso que o custo é maior, mas o minério sai mais purificado pelo próprio tamanho do grão”, observa.
O engenheiro diz que há diferenças de qualidade do minério. “No Pará é um minério mais caro. Em Minas é bom, mas não tem a mesma qualidade”, diz. Por isso, a Vale tem investido no processamento a seco no Pará, devido às características geológicas do material e pela qualidade melhor do minério.
Lanzarotto mostra que são usadas estruturas cilíndricas, como máquinas de lavar de eixo horizontal, onde é jogada a terra com o minério, e o material vai sendo fragmentado em diversos tamanhos. Os pedaços então são separados em peneiras de acordo com as características deles. “Esse processo usa mais energia do que em um processo tradicional. Por isso que o custo é maior, mas o minério sai mais purificado pelo próprio tamanho do grão”, observa.
O engenheiro diz que há diferenças de qualidade do minério. “No Pará é um minério mais caro. Em Minas é bom, mas não tem a mesma qualidade”, diz. Por isso, a Vale tem investido no processamento a seco no Pará, devido às características geológicas do material e pela qualidade melhor do minério.
O professor aponta ainda as diferenças de topografia entre as regiões. “A condição geográfica na Amazônia não é propícia para fazer reservatório”, afirma.
Segundo a Vale, a transição do processamento a úmido para seco não implica novos investimentos, uma vez que o processo não exige grandes adaptações às plantas das usinas.
Segundo a Vale, a transição do processamento a úmido para seco não implica novos investimentos, uma vez que o processo não exige grandes adaptações às plantas das usinas.
Fiscalizar é Preciso
No Pará, maior província mineral do país, Parauapebas, Marabá e Canaã dos Carajás têm na exploração mineral a fonte de grande parte dos recursos que fazem a roda da economia girar. Impensável abrir mão da atividade mineradora, sem sacrificar milhares de famílias e desintegrar a economia da região e do Estado, com reflexos nas contas do País.
Mas, com os desastres recentes, essas cidades colocam na contabilidade não apenas o volume da Contribuição Financeira Pela Exploração Mineral (CFEM) que entra em seus cofres, mas também o risco de viver nas imediações das barragens da Vale.
Nada há de errado em exigir que a mineradora Vale amplie e reforce as condições de segurança de suas operações - com ou sem barragens. Nada há de errado em discutir medidas que impeçam a contaminação do solo e garantam a recuperação da área após a extração mineral.
Neste sentido, as iniciativas dos prefeitos de Marabá e Parauapebas e do governador Helder Barbalho, todos a propor fiscalização rigorosa e a apresentação de planos de contingência claros e exequíveis, é exatamente o que o se espera de autoridades responsáveis.
O objetivo precisa ser garantir que a extração mineral, da qual não se pode abrir mão, seja feita com responsabilidade e respeito à vida e ao meio ambiente. Sem alarmismo e com as cautelas necessárias, para que tragédias iguais às de Mariana e Brumadinho jamais ocorram entre nós.
Em nota, a Vale reitera as informações apuradas pelo site. Leia a seguir a íntegra da manifestação da mineradora.
As barragens estão em conformidade não apenas com a legislação ambiental brasileira, mas, seguem, também os mais altos padrões internacionais de segurança. No Estado do Pará, todas as barragens da Vale têm modelo de construção diferente da barragem da Mina Córrego Feijão, em Brumadinho.
Nenhuma barragem da Vale tem categoria de risco alto. A barragem do Sossego e da Apa do Gelado são classificadas de baixo risco, conforme norma da Agência Nacional de Mineração (ANM).
São realizados monitoramentos e inspeções periódicas em todas as estruturas que se enquadram na Política Nacional de Segurança de Barragens. A empresa montou ainda um grupo de trabalho que apresentará um plano para elevar o padrão de segurança das barragens da empresa.
O objetivo é superar os parâmetros mais rigorosos existentes hoje no Brasil e no mundo. Essa semana, a empresa anunciou o descomissionamento de todas as suas barragens a montante mesmo modelo da mina em Brumadinho, todas em Minas Gerais.
Processamento a seco no Gelado
No Estado, a Barragem do Gelado integra o Complexo Minerador Norte da Vale (Carajas, Serra Leste e S11D), onde cerca de 80% da produção já ocorre utilizando tecnologia do processo a seco, sem uso de água, reduzindo a quantidade de rejeitos.
O processo a seco está atrelado ao teor do minério de ferro, quanto mais alto o teor, mais é favorecida a adoção do processamento a seco, sem uso de água.
A empresa também reaproveita o material armazenado em barragens de alto teor, fazendo o reprocessamento e gerando produto, como a barragem do Geladinho, no Pará, reduzindo também a quantidade de rejeitos.
Mas, com os desastres recentes, essas cidades colocam na contabilidade não apenas o volume da Contribuição Financeira Pela Exploração Mineral (CFEM) que entra em seus cofres, mas também o risco de viver nas imediações das barragens da Vale.
Nada há de errado em exigir que a mineradora Vale amplie e reforce as condições de segurança de suas operações - com ou sem barragens. Nada há de errado em discutir medidas que impeçam a contaminação do solo e garantam a recuperação da área após a extração mineral.
Neste sentido, as iniciativas dos prefeitos de Marabá e Parauapebas e do governador Helder Barbalho, todos a propor fiscalização rigorosa e a apresentação de planos de contingência claros e exequíveis, é exatamente o que o se espera de autoridades responsáveis.
O objetivo precisa ser garantir que a extração mineral, da qual não se pode abrir mão, seja feita com responsabilidade e respeito à vida e ao meio ambiente. Sem alarmismo e com as cautelas necessárias, para que tragédias iguais às de Mariana e Brumadinho jamais ocorram entre nós.
Em nota, a Vale reitera as informações apuradas pelo site. Leia a seguir a íntegra da manifestação da mineradora.
As barragens estão em conformidade não apenas com a legislação ambiental brasileira, mas, seguem, também os mais altos padrões internacionais de segurança. No Estado do Pará, todas as barragens da Vale têm modelo de construção diferente da barragem da Mina Córrego Feijão, em Brumadinho.
Nenhuma barragem da Vale tem categoria de risco alto. A barragem do Sossego e da Apa do Gelado são classificadas de baixo risco, conforme norma da Agência Nacional de Mineração (ANM).
São realizados monitoramentos e inspeções periódicas em todas as estruturas que se enquadram na Política Nacional de Segurança de Barragens. A empresa montou ainda um grupo de trabalho que apresentará um plano para elevar o padrão de segurança das barragens da empresa.
O objetivo é superar os parâmetros mais rigorosos existentes hoje no Brasil e no mundo. Essa semana, a empresa anunciou o descomissionamento de todas as suas barragens a montante mesmo modelo da mina em Brumadinho, todas em Minas Gerais.
Processamento a seco no Gelado
No Estado, a Barragem do Gelado integra o Complexo Minerador Norte da Vale (Carajas, Serra Leste e S11D), onde cerca de 80% da produção já ocorre utilizando tecnologia do processo a seco, sem uso de água, reduzindo a quantidade de rejeitos.
O processo a seco está atrelado ao teor do minério de ferro, quanto mais alto o teor, mais é favorecida a adoção do processamento a seco, sem uso de água.
A empresa também reaproveita o material armazenado em barragens de alto teor, fazendo o reprocessamento e gerando produto, como a barragem do Geladinho, no Pará, reduzindo também a quantidade de rejeitos.
(Com imagens do G1, Agência Nacional de Águas - ANA, Universidade Federal de Ouro Preto - Ufop, Vale S/A)
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