16 de janeiro de 2019

Morte de bebê no HMI reabre discussão sobre atendimento a pacientes de outros municípios em Marabá



Gardênia de Castro Lima (abaixo, na foto de Josseli Carvalho, do jornal Correio de Carajás), chegou ao Hospital Materno Infantil, de Marabá, por volta de 1 hora da manhã de terça-feira (15) para dar à luz seu filho. Vinda de Itupiranga, Gardênia deu à luz seu filho por volta das 4h40 do mesmo dia.

Ela afirma que, durante o trabalho de parto, saiu da sala de cirurgia e foi até ao banheiro. Neste momento, a bolsa amniótica teria estourado e a criança teria caído com o cordão umbilical enrolado ao pescoço, mas ainda viva.    

A Prefeitura de Marabá, através de sua Assessoria de Comunicação, se manifestou de forma oficial no final da manhã desta quarta-feira (16) e contestou veementemente a versão de Gardênia.

A Prefeitura afirma que todos os movimentos da parturiente durante o trabalho de parto são acompanhados pela equipe formada por médicos, enfermeiras e técnicos. Assim, seria impossível que o parto ocorresse no banheiro.



Por outro lado, o prontuário da paciente parece apontar para um daqueles casos em que apenas um ato divino poderia garantir um parto sem complicações 

Segundo a nota da Prefeitura de Marabá, Gardênia é portadora de infecção que "poderia causar no bebê sequelas graves", como má formação genética e cegueira, entre outras. A nota não afirma qual seria essa infecção, mas DSTs contraídas pelas mães costumam causar esses males aos bebês.

Para complicar um pouco mais, Gardênia não fez o acompanhamento pré-natal em Itupiranga e há três semanas apresentava perda de líquido amniótico. Trazida por uma ambulância, a gestante não passou por qualquer regulação anterior que pudesse deixar de sobreaviso a equipe médica de Marabá sobre o quadro clínico da paciente.

A criança nasceu com vida, contudo, em condições precárias de saúde. 

Segundo o prontuário médico, o bebê já nasceu com infecção generalizada. Esses casos quase sempre estão associados à idade da mãe (quanto mais jovem, mais vulnerável), assistência pré-natal inadequada ou inexistente, infecção urinária, perda de líquido amniótico e trabalho de parto prolongado, entre outros motivos.

Além disso, o cordão umbilical estava de fato enrolado ao pescoço do bebê, o que dificultou a circulação de sangue.

A equipe médica, segundo está documentado, atuou para salvar a criança fazendo a chamada aspiração mecânica - quando uma sonda suga o muco existente na boca e nas narinas da criança. Em seguida, o bebê foi levado para a Unidade de Cuidados Intensivos (UCI), onde foi entubado, mas não resistiu e veio a falecer.

Segundo a Prefeitura, o caso continuará sendo apurado.

Prefeitura de Itupiranga Questionada


O site entrou em contato com a Ouvidoria da Prefeitura de Itupiranga, através do número de telefone celular que opera um aplicativo de mensagens e informado no site oficial do órgão. Foram formuladas as seguintes perguntas:

1 - Quando e onde foram feitos os procedimentos de pré-natal da paciente?

2 - Por que a paciente foi levada à Marabá?

3 - Foi seguido o protocolo para a regulação dessa paciente? Há documentos que comprovem essa regulação?

4 - Era do conhecimento do serviço médico de Itupiranga que a paciente apresenta quadro de infecção e que essa infecção poderia causar a morte do feto?

Não houve resposta até aqui.

Em novo contato, o site perguntou se poderia falar com o médico que atendeu Gardênia em Itupiranga. Mas, até as 16h30, a Ouvidoria não respondeu.

Regular É Preciso


O trágico falecimento do bebê de Gardênia, poucos dias depois da morte de Simone Nascimento no mesmo HMI, coloca em questão a ausência de colaboração entre os municípios vizinhos e Marabá. 

Nos últimos seis meses, mais de 500 pacientes vindas de outros municípios foram atendidas no Hospital Materno Infantil de Marabá. Todas sem qualquer regulação.

A história de Gardênia, infelizmente, não é exceção. É recorrente a chegada de mulheres às portas do HMI, já em trabalho de parto, vindas dos mais diversos municípios, sem prontuários, sem regulação prévia, sem que tenham feito sequer um exame pré-natal. São simplesmente deixadas ali e Marabá que providencie leito, equipe médica, internação e UCI, tudo para manter vivos mãe e bebê.

Graças a Deus e à óbvia experiência da equipe médica, na absoluta maioria das vezes salvam-se ambos. E os índices de nascimento com vida mostram isso. Mas, outras vezes, o atendimento à mulher foi tão negligenciado em seu município de origem, que é impossível vencer e assim vidas são perdidas.



A diretora administrativa do HMI, Alciléia Tartaglia, corretamente pediu providências ao Departamento de Média e Alta Complexidade da Secretaria Municipal de Saúde (Dmac/SMS), no sentido de que a Prefeitura de Itupiranga seja notificada que Gardênia Lima não tinha qualquer regulação e que, no momento em que chegou, o HMI estava com sua lotação máxima (imagem acima). O Dmac/SMS deverá oficiar à Prefeitura de Itupiranga no sentido que sejam adotadas providências para impedir que casos iguais a este aconteçam novamente. 

Historicamente, Marabá pratica a política de "portas abertas", recebendo todos os que buscam socorro. Mas, talvez esteja na hora de Tião Miranda deixar claro aos demais prefeitos do entorno que não se pode aceitar que o despejo de pacientes nas unidades hospitalares de Marabá seja a "política de saúde" desenvolvida por nossos vizinhos. 

O HMI pode e deve atender pacientes do entorno, desde que as mamães tenham feito o acompanhamento pré-natal em seu município, que venham devidamente reguladas e com seus prontuários em ordem. Caso os municípios façam isso, caberá ao HMI manter sua equipe em nível elevado de excelência e avançar em áreas como a humanização do atendimento e aprimoramento de seus protocolos.

A continuar do jeito em que está, a reputação do corpo clínico e técnico, do HMI e da Prefeitura de Marabá continuarão a sofrer fortes abalos a cada vez que não for possível operar milagres. 

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