No início da tarde desta segunda-feira (7), a Prefeitura de Marabá reuniu a imprensa para prestar esclarecimentos sobre o caso de Simone de Souza Nascimento, paciente do Hospital Materno Infantil (HMI) que veio a óbito na sexta-feira (4), após dar à luz seu quinto filho. Presente à coletiva, o dr. Fábio Costa, diretor-técnico do HMI, afirmou que, com base no prontuário da paciente, não considera ter havido qualquer equívoco por parte dos profissionais que atenderam Simone.
O Caso
Simone de Souza Nascimento, de 29 anos, mãe de quatro filhos, deu entrada no HMI na quinta-feira (3), para dar à luz seu quinto filho. Ela havia feito o pré-natal no Centro de Referência em Saúde da Mulher (Crismu), em Marabá.
Tudo transcorreu sem alteração durante os procedimentos prévios e durante o parto natural (sem intervenção cirúrgica). Após o nascimento da criança, a paciente foi levada à área destinada ao pós-parto para passar pelo período de observação.
Foi a partir deste momento que as coisas começaram a se complicar.
Simone passou a apresentar forte Hemorragia Pós-Parto (HPP). Os médicos foram acionados e trabalharam para estancar o sangramento excessivo. Houve a primeira parada cardio-respiratória, que foi contornada pelo corpo clínico do hospital. Infelizmente, a paciente sofreu uma segunda parada cardíaca, não resistiu e veio a falecer.
A criança sobreviveu e passa bem.
Após a família ser comunicada do óbito, uma nota oficial foi divulgada pela Prefeitura de Marabá na qual informava que o Departamento de Vigilância em Saúde estava apurando os fatos.
Simone foi velada na sexta-feira (4) e seu enterro aconteceu em São João do Araguaia, no sábado (5), sob forte comoção.
A Repercussão
Quase que imediatamente, populares passaram a usar as redes sociais para cobrar maiores explicações sobre o caso e começaram a ser levantadas diversos questionamentos a respeito dos procedimentos adotados pelo corpo clínico do HMI.
Inevitavelmente, começou a ser cogitado que teria havido negligência ou imperícia no atendimento dispensado à Simone.
O fato de Simone ter feito partos cesarianos e este ter sido parto normal, passou a ser apontado como um "erro médico sem precedentes", pelo médico e ex-secretário de Saúde de Marabá, Dr. Nagib Mutran Neto. Para ele, a máxima "uma vez cesária, sempre cesária" não foi respeitada pela equipe médica do HMI no caso de Simone. Segundo esta máxima, pacientes que já tiveram filhos através de cesarianas, não podem ter filhos através de parto natural.
A morte de Simone mobilizou o Conselho Municipal de Saúde e a Câmara Municipal formou uma comissão para acompanhar o caso e cobrar esclarecimentos.
A secretária de Saúde de Marabá, Dármina Duarte Leão, solicitou ao Conselho Regional de Medicina - Pará (CRM/PA) que acompanhe o caso e determinou que uma Comissão de Sindicância fosse formada para apurar as circunstâncias que levaram à morte da paciente. Dármina comunicou ao Ministério Público do Estado as providências que tomou e convidou o MP para acompanhar as averiguações.
As Explicações
O Dr. Fábio Oliveira Costa, diretor-técnico do HMI, foi escalado para dar os esclarecimentos à imprensa sobre a tragédia.Segundo Fábio Costa, Simone foi internada no HMI com 40 semanas e 5 dias de gestação, ou seja, estava dentro do limite normal que é de até 42 semanas e a equipe médica estava pronta para fazer o parto cesáreo.
“Em todo o caso, ela estava dentro do prazo de resolutividade da maternidade que é de 40 semanas, e isso aliado ao histórico da paciente, de parto cesáreo, a equipe médica só marcou a cesariana para o dia seguinte, já que a paciente havia se alimentado”, destacou o diretor do HMI.
Fábio Costa justificou o adiamento do parto cesáreo. “Cirurgias em pacientes alimentadas provocam risco de vômitos, broncoaspiração e pneumonia química alimentar, sendo optado deixa-la em jejum para no outro dia fazer a cirurgia em condições mais adequadas”, disse.
Rebatendo as críticas sobre os procedimentos adotados, Fábio Costa lembrou que em pacientes cujos partos anteriores foram cesáreos, existe uma limitação à indução ao parto natural - por conta do risco de ruptura do períneo. Mas, no caso de Simone não houve qualquer procedimento de indução ao parto natural.
O diretor do Hospital Materno Infantil ressaltou que diferente de 1819, época em que se acreditava não ser possível um parto normal após a mulher ter tido um parto cesáreo, já é um consenso nas Sociedades Brasileira e Americana de Medicina que essa prática é perfeitamente possível e ocorre há muitos anos.
O médico explicou que a paciente entrou em trabalho de parto normal de forma espontânea às quatro horas e 26 minutos da manhã do dia 4 de janeiro e imediatamente foi levada ao centro cirúrgico.
Fábio Costa esclareceu que o quadro de Simone se complicou após o parto, devido a uma atonia uterina (veja em detalhes o que é atonia uterina, ao final deste artigo), uma das formas graves de Hemorragia Pós-Parto (HPP). No entanto, a equipe realizou todos os procedimentos estabelecidos no protocolo da maternidade.
“Foi feita medicação com drogas uterotônicas (aquelas capazes de fortalecer o útero e ajudá-lo a contrair-se), misoprostol, ocitocina e ergotrate, mas a paciente continuou sangrando. Foi pedido sangue para estabilizar, foi infundido soro “Hinger” (um composto usado para diluir o sangue e impedir um choque hemorrágico, quando a paciente perde um litro ou mais de sangue), para que ela fosse submetida a uma cirurgia de urgência para a retirada do útero, mas o caso complicou rapidamente e mesmo com todas medidas tomadas ela teve uma parada cardiorrespiratória e veio a óbito”, disse.
O diretor afirmou ainda que a paciente foi acompanhada o tempo todo pela equipe médica, inclusive anestesista e nega qualquer negligência no caso. Fabio Costa garantiu a permanência dos médicos que atenderam Simone e foi enfático ao defendê-los. "Eles continuarão atendendo. São médicos competentes, de minha total confiança e reconhecidos na cidade", afirmou.
“Foi feita medicação com drogas uterotônicas (aquelas capazes de fortalecer o útero e ajudá-lo a contrair-se), misoprostol, ocitocina e ergotrate, mas a paciente continuou sangrando. Foi pedido sangue para estabilizar, foi infundido soro “Hinger” (um composto usado para diluir o sangue e impedir um choque hemorrágico, quando a paciente perde um litro ou mais de sangue), para que ela fosse submetida a uma cirurgia de urgência para a retirada do útero, mas o caso complicou rapidamente e mesmo com todas medidas tomadas ela teve uma parada cardiorrespiratória e veio a óbito”, disse.
O diretor afirmou ainda que a paciente foi acompanhada o tempo todo pela equipe médica, inclusive anestesista e nega qualquer negligência no caso. Fabio Costa garantiu a permanência dos médicos que atenderam Simone e foi enfático ao defendê-los. "Eles continuarão atendendo. São médicos competentes, de minha total confiança e reconhecidos na cidade", afirmou.
Além disso, Doutor Fábio deixou claro que, caso a família queira, a necropsia do corpo pode ser solicitada, algo que o HMI faz questão."É de nosso interesse que vá ao IML, por ser uma forma da gente se resguardar e mostrar que a equipe fez o correto. Mas, isso (a necropsia) depende da família ou da autoridade competente".
O HMI realiza cerca de seis mil partos por ano. Em 2018, houve apenas um óbito na maternidade. De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o índice mundial é de 20 mortes maternas para cada 100 mil nascidos vivos. Mesmo Marabá estando muito abaixo dos índices, Fábio Costa frisou que "o aceitável mesmo é nenhuma morte. Lutamos todo dia para não ter nenhuma morte."
Fábio Costa garantiu ainda que dentro de quinze dias a sindicância instaurada estará concluída. Segundo ele, haverá tempo suficiente para análise do prontuário e o fornecimento de explicações às autoridades que investigarem o caso.
O diretor-técnico do HMI também disponibilizou atendimento à criança, com o fornecimento de leite e o suporte psicológico à família através de assistentes sociais e psicólogas.
A Atonia Uterina
A Hemorragia Pós-Parto (HPP) é a maior causa de morte materna por complicações no parto e no puerpério (período imediatamente após o parto). No Brasil, a taxa de mortalidade por HPP é 1 para cada 30 mil nascidos vivos. A HPP manifesta-se em 80% dos casos como Atonia Uterina e é causada por diversos fatores, entre os quais a chamada fadiga uterina (trabalho de parto prolongado, indução do trabalho de parto e uso de remédios que aceleram o parto, os chamados ocitócitos), inversão uterina e retenção de fragmentos placentários.
Em pacientes acometidas com Atonia, o útero não consegue contrair naturalmente, não consegue conter o sangramento e instala-se o quadro de hemorragia grave capaz de levar ao óbito.
A HPP é algo tão relevante que a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou em 2014 um compêndio chamado Recomendações da OMS para a Prevenção e Tratamento da Hemorragia Pós-Parto. Nestas Recomendações constam um conjunto de procedimentos que devem ser seguidos pelas equipes médicas, bem como são preconizados os medicamentos que devem ministrados às pacientes vítimas da HPP.
De fato, a OMS prevê o uso de diferentes agentes uterotônicos, ou seja, medicamentos que forçam a contração do útero. Entre os remédios preconizados estão a ocitocina, a metilergonovina e o misoprostol. Muitos protocolos recomendam a administração conjunta de ocitocina e metilergonovina
em casos de hemorragia moderada ou grave, seguida pelo misoprostol.
A remoção do útero é a medida extrema, necessária quando se mostra a única capaz de impedir a morte da paciente.
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