31 de janeiro de 2019

Em Marabá, Tião Miranda nomeia Luciano Dias para Secretaria de Saúde. Novo secretário terá que fazer mais e melhor sem estourar orçamento. Será possível?



Tião Miranda, prefeito de Marabá, resolveu dar o chamado "choque de gestão" na Secretaria Municipal de Saúde (SMS). Para isso foi obrigado a mexer na Educação e na Saúde, dois dos maiores orçamentos do município. Depois de seguidos fracassos no sentido de conter os gastos e melhorar o atendimento, Tião escalou Luciano Dias (à esquerda, na foto), para a Saúde com a responsabilidade de fazer o serviço que os últimos secretários não fizeram. 

Luciano ocupava a Secretaria de Educação de Marabá há dois anos e conseguiu alguns bons resultados. Ter aprovado um novo Plano de Cargos, Carreiras e Remunerações (PCCR) e normalizado o transporte escolar sempre serão colocados em sua lista de sucessos. O PCCR de Luciano, de fato, impede que os gastos com pagamento de pessoal da Semed dispare, pôs fim à progressão funcional em massa e colocou um pouco de ordem no caos.



Organização Melhora. Ideb Precisa Melhorar Também


Infelizmente, até aqui os números de Marabá no Ideb, índice que mede a qualidade do ensino, não melhoraram. Caberá à Marilza Leite, que antes ocupava a Diretoria de Logística (Dilog), a missão de substituir Luciano como secretária de Educação e afinal transformar organização administrativa em resultados concretos. 

Marilza estará à frente de um portento. Com 200 unidades de ensino espalhadas nas áreas urbana e rural, a Semed conta com quase 5 mil funcionários para atender mais de 54 mil alunos, presente em todos os bairros, vilas e distritos de Marabá. Para fazer essa enorme máquina rodar, a Semed consome 22% das receitas de Marabá e é permeada por lutas entre grupos de interesse. Definitivamente, usando mais um clichê, a "Semed não é para amadores".

Mas, experiência não falta à Marilza. Viúva de Gilberto Leite, um dos mais influentes empresários marabaenses, ela acumula mais de 25 anos de serviço público e ocupou cargos de direção na Semed durante o governo de João Salame Neto. Receberá a Semed em melhores condições que Pedro Souza e Luciano Dias receberam. Tem amplas condições para melhorar o que já parece bem razoável.

Enquanto Isso, na Saúde...


Já Luciano Dias deve se preparar para um desafio bem maior na Secretaria de Saúde. E a questão central é como gastar bem e de forma eficiente a montanha de dinheiro disponibilizada para a saúde pública no município. 

Os três secretários anteriores falharam fragorosamente. A última a ocupar o cargo, a enfermeira Dármina Duarte, não conseguiu sequer esquentar o lugar. Durou apenas 30 dias no cargo. Durante este período, gastou boa parte do tempo apresentando explicações ao Ministério Público, aos vereadores e à sociedade sobre mortes e funcionamento imperfeito dos serviços nos hospitais de Marabá.  

Uma fonte do site, que conversou com Tião Miranda horas antes dele decidir intervir na SMS, garante que Luciano assumirá com carta branca para "fechar os ralos" por onde estariam escoando os recursos destinados ao órgão. As últimas gestões fizeram esvaziar o "colchão" de reserva financeira que Tião costuma manter para atender emergências, informa o interlocutor de Tião.



Ao que parece, Luciano não pretende cortar custos de forma sistemática. A ideia é otimizar os gastos, estabelecer processos que levem a atender mais e melhor gastando o recurso disponível, sem avançar em recursos extras e sem "quebrar o porquinho" de Tião.

Ideias boas, como o "Corujão da Saúde", somente poderão ser mantidas se os custos forem colocados dentro do figurino financeiro que Luciano terá que criar. Além disso, colocar para funcionar setores como o Laboratório de Análises do HMM é fundamental para agilizar o atendimento aos pacientes que se socorrem do sistema de saúde de Marabá.

A saúde pública em Marabá apresenta problemas, mas está longe de ser considerada terra arrasada. Como o site mostrou aqui, é referência para mais de milhão de pessoas espalhadas por 21 municípios da região e atendeu mais de 100 mil pacientes de janeiro a novembro de 2018. Luciano terá que organizar a administração do órgão e melhorar a percepção que o público tem dos serviços que a SMS oferece. Não será fácil, mas não parece impossível.

Humanização e Plantões, Dois Desafios Para Luciano


De cara, além dos gastos excessivos, Luciano Dias enfrentará um problemão, que atende pelo nome de Humanização do Atendimento.
 
Uma rápida olhada nas redes sociais é suficiente para verificar que a insatisfação é grande entre os pacientes. Acolher o paciente com atenção, ouvir-lhe as queixas e conhecer minimamente seus hábitos são medidas que humanizam o atendimento e essenciais em dois aspectos. De um lado, favorece um diagnóstico mais preciso e, por decorrência, um tratamento mais eficaz. Por outro lado, dá ao paciente a sensação de que está sendo bem atendido no momento em que mais precisa e se encontra mais fragilizado.

Para que a humanização vire regra nos hospitais e unidades básicas de saúde de Marabá, será preciso estabelecer protocolos de atendimento que sejam seguidos por todos os servidores da SMS e, principalmente, descentralizar os atendimentos. Isso aliviaria a pressão causada pelo grande número de pacientes que precisam ser atendidos por cada médico ou enfermeiro em seus turnos. Convenhamos, com uma fila de espera quilométrica é praticamente impossível dispor de tempo para um atendimento humanizado.



Além disso, é preciso repensar o regime de plantões. A substituição do plantão pelo regime de turnos com escalas parece ser o mais recomendado. Plantões e os chamados "sobreavisos" são caros demais e até aqui se mostram ineficientes. Quando em "sobreaviso", por exemplo, o médico não precisa necessariamente estar na unidade de saúde. Ele será requisitado a partir da demanda por seus serviços. Isso acaba gerando a situação recorrente do paciente chegar ao hospital e não encontrar o médico. Mesmo que não cause nenhum dano à saúde do paciente nem comprometa a eficácia do tratamento, o simples fato do médico não estar lá é suficiente para reclamações e para aumentar a sensação de ineficiência do serviço público de saúde.

Os turnos de 6 horas com escalas fixas para cada médico ou enfermeiro reduziria custos, porque não se pagaria extras por plantões e sobreavisos. Todos saberiam os dias e horários que cada médico estaria nas unidades de saúde. E esse sistema tem a vantagem adicional de permitir que os pacientes saibam com antecedência quem os atenderá. 



Médicos, enfermeiros e demais servidores que são beneficiados com rendimentos extras e com o atual estado das coisas na SMS, não querem nem ouvir falar em grandes mudanças. São refratários a qualquer medida que lhes tire aquilo que acreditam ser "direito adquirido", ainda que não seja. Mas, será muito bom se Luciano conseguir se fazer ouvir para além da gritaria corporativa e sindical que costuma acompanhar qualquer ideia nova em uma área tão controversa quanto a saúde pública.

Luciano Dias foi destacado por Tião para pilotar a SMS. A estrada, como se vê, será cheia de desvios e percalços, mas tomara que Luciano tenha a capacidade e as condições para dar um "cavalo-de-pau" no órgão e colocar a Saúde Pública no rumo certo. 

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