Jair Bolsonaro (PSL) ainda nem assumiu mas os reflexos do que pode vir a ser sua política externa já começam a aparecer. Nesta segunda-feira (5), o Egito desmarcou a visita oficial àquele país do chanceler brasileiro, Aluísio Nunes Ferreira, programada para ocorrer de 8 a 11 deste mês. No comunicado emitido pela chancelaria egípcia, não foi estabelecida qualquer data para a visita.
Nunes Ferreira deveria se reunir com o chanceler Sameh Shoukry e com o presidente egípcio Abdel Fatah el-Sisi. Cerca de 20 empresários das mais diversas áreas também já estavam no Egito para as conversas comerciais que teriam com empresários daquele país. Agora, terão que retornar sem nenhum acordo na bagagem.
Segundo o comunicado, o cancelamento se deve "a compromissos inadiáveis por parte do presidente e do chanceler", mas está claro que trata-se da primeira reação de desagrado do mundo árabe em relação ao posicionamento do presidente eleito brasileiro. Bolsonaro, em claro alinhamento com a atual política dos EUA, sob Trump, afirmou que transferirá a sede da representação diplomática brasileira em Israel, de Tel-Aviv para Jerusalém. Os israelenses consideram Jerusalém sua capital única e indivisível, enquanto os palestinos reivindicam o compartilhamento da cidade considerada sagrada por judeus, cristãos e muçulmanos.
Bolsonaro, através das redes sociais - meio pelo qual, ao que parece, pretende se comunicar durante o mandato - afirmou que os palestinos "poderão ter uma capital, quando tiverem um estado" e que pretende manter a decisão em reconhecer Jerusalém como sede do governo de Israel. Uma viagem de Bolsonaro para Israel está prevista para o mês de dezembro.
A atitude egípcia é preocupante.
Do ponto de vista comercial, o Egito é um dos poucos países árabes a fazer negócios com o Mercosul e em relação ao Brasil, é um dos bons compradores de produtos como açúcar e carne. A ideia da reunião adiada era justamente para ampliar esse comércio.
Sob a ótica da geo-política, no chamado Mundo Árabe o Egito é um dos mais moderados nas suas relações com Israel e com o Ocidente. Costuma ser uma espécie de "poder moderador" que impede radicalismos ainda maiores. Desde os anos 80, com os acordos de Camp Dave, no governo do presidente americano Jimmy Carter, Egito e Israel mantêm boas relações. Mas, nem mesmo a moderação egípcia conseguiu tolerar as declarações estabanadas de Bolsonaro. Como o que Bolsonaro "fala não se escreve", ainda haveremos de aguardar para ver até onde ele realmente pretende comprar essa briga estúpida com muçulmanos, palestinos e países árabes.
Nenhum comentário:
Postar um comentário