12 de julho de 2012

"Fui eu que te pus na suplência, nessa secretaria, fui eu!", diz Cachoeira para Wilder, o sucessor de Demóstenes

Ao tomar posse na vaga aberta com a cassação do ex-senador Demóstenes Torres, o suplente Wilder Morais (DEM-GO) terá que explicar aos senadores a acusação de que foi indicado para o posto pelo empresário Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.
Um grupo de senadores considera que as explicações serão "inevitáveis", especialmente à CPI do Cachoeira, uma vez que áudios da Polícia Federal apontam sete conversas entre o suplente e o empresário do ramo de jogos.
O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), autor da representação que deu início ao processo de cassação de Demóstenes, disse estar claro que Wilder mantém uma relação pessoal com o empresário.
"Ele toma posse sob forte suspeição. São razões que merecem atenção especial da CPI e do Senado. Se eu fosse ele, começava utilizando a tribuna explicando qual o nível das suas relações com o Cachoeira."
O líder do PT, senador Walter Pinheiro (BA), afirmou que o suplente terá que se explicar inclusive no Conselho de Ética do Senado se ficar comprovado que suas relações com Cachoeira vão além da amizade. "Com o quase senador, a nossa obrigação é colher as explicações na CPI ou no Conselho de Ética, se necessário for. Além dele ter a obrigação de dar uma explicação ao eleitorado de Goiás, ele tem com o Brasil."
Para o senador Ricardo Ferraço (PMDB-ES), as explicações serão "inevitáveis" se ficar comprovado que o suplente de Demóstenes compartilhava da "intimidade" do empresário.
"O fato de ter sido indicado para a suplência pelo Cachoeira é uma suspeição evidente. Não acho justo prejulgar, mas os fatos falam mais alto. Na hora que você toma posse, se submete à luz do sol. Se você tiver razão, não derrete."
O líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), disse que a indicação de Wilder para a suplência comprova a necessidade de mudanças na legislação eleitoral do país. "Isso só reforça a tese de que temos que mudar as regras para a indicação de suplentes. Deveríamos extinguir a suplência, deixar a vaga aberta até a próxima eleição."
Reportagem da Folha de S.Paulo publicada hoje revela que o primeiro suplente de Demóstenes foi indicado para o posto por Cachoeira, a quem chamava de "Vossa Excelência".
O empresário relembrou a Wilder o papel que teve na sua ascensão política em uma longa conversa por telefone, em junho de 2011. Ela ocorreu no auge de uma crise gerada pelo envolvimento de Cachoeira com a então mulher do suplente, Andressa Mendonça.
"Eu não vou expor você, cara. Fui eu que te pus na suplência, essa secretaria, fui eu, você sabe muito bem disso. Então, para que eu vou te expor?", afirma Cachoeira na conversa interceptada pela Polícia Federal. Wilder concorda e indica ter gratidão por Cachoeira.
Como o ato de cassação de Demóstenes foi publicado hoje no "Diário Oficial" do Senado, o suplente do ex-senador tem o prazo de 60 dias para assumir o mandato.
O prazo pode ser prorrogado por mais 30 dias, desde que ele comunique o comando da Casa sobre a sua intenção de assumir.
Wilder ainda não comunicou ao Senado sobre a data em que pretende assumir o mandato. A posse pode ocorrer inclusive durante o recesso parlamentar, que tem início no dia 18 de julho. Se for realizada no recesso, ocorre no gabinete do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Do contrário, o senador é empossado em cerimônia no plenário da Casa.
Ao assumir o mandato, o suplente passa a ter todos os direitos concedidos aos parlamentares, como salário de R$ 26,7 mil, auxílio-moradia, atendimento médico e odontológico e a cota de R$ 15 mil para gastos no exercício da função, entre outros.

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