18 de julho de 2012
Esposa de advogado assassinado pela PM depõe pela primeira vez em Goiânia
A mulher do advogado Davi Sebba, de 38 anos, morto no início deste mês por policiais militares no estacionamento de um supermercado, no Setor Vila União, em Goiânia, falou pela primeira vez sobre o caso. Em depoimento à polícia, na terça-feira (17), ela contou que o marido era usuário de drogas, mas não era traficante. “Eu tenho certeza que ele não tinha envolvimento nenhum com o tráfico de drogas”, diz Mariana Eliseu dos Santos.Ainda abalada, a esposa disse também que o marido tinha ido ao supermercado para comprar fraldas, enquanto ela estava em um hospital para dar à luz ao filho do casal. “É muito triste você olhar para um filho e ver que ele está sem o pai. O Davi estava muito feliz com o nascimento do filho”, diz.
O depoimento durou mais de uma hora. Ela disse que o marido nunca teve arma e que não sabia nem mesmo manusear um revólver. Para os advogados da família, precisa ser esclarecido por que um tablete de maconha só foi encontrado no local onde o advogado foi morto três dias após o crime. Droga que, segundo os policiais militares, seria do advogado. “O supermercado passa por duas etapas de limpeza por dia, então, essa droga, de forma estranha, e de uma hora para outra aparece”, afirma o advogado Alan Hahnemmam.
A Delegacia de Homicídios espera agora receber gravações telefônicas que teriam sido feitas pela Polícia Federal e provas da Polícia Científica para esclarecer o caso.
Davi Sebba foi assassinado com um tiro no peito no dia 5 de julho. Segundo a versão da Polícia Militar, os policiais foram informados que o advogado estaria no estacionamento comprando drogas de outro traficante para revender posteriormente. Na hora da abordagem policial, ele teria reagido e apontado um revólver para os militares, que, segundo eles, não tiveram alternativas a não ser atirar.
Um tablete de droga foi encontrado três dias depois do crime no pátio do supermercado. O entorpecente estava no estacionamento onde o advogado foi morto. A PM alega que o tablete de maconha pode ter ligação com o incidente.
A Polícia Militar informou que passava pela entrada do supermercado, na Avenida T-9, quando uma senhora abordou os militares e disse ter visto um embrulho, provavelmente droga. No local também estava um isqueiro azul. A área foi isolada até a chegada da Polícia Civil.
A família da vítima nega a informação de que ele tivesse uma arma. Um parente que preferiu não ser identificado questiona a nova "evidência" encontrada pela polícia: "Na noite do crime a polícia fez uma varredura no local e nada foi encontrado. Três dias depois essa droga ser encontrada em um local de grande fluxo, sem que ninguém tenha pego ou notado, é estranho".
Outro ponto levantado pelo familiar é o fato do tablete de maconha estar bem ao lado de um isqueiro azul. "Dois objetos diferentes, com massas diferentes, não cairiam um do lado da outro caso fossem arremessados para fora do carro. É questão de física", pondera.
Mas o principal, diz o familiar, é que mesmo se a droga fosse de Davi, não justificaria o fato de ele ter sido morto pelo PM descaracterizado. "O papel da polícia é abordar, checar e aplicar a lei",observa.
Davi morreu na mesma noite em que seu filho nasceu. A mulher da vítima só ficou sabendo da morte do marido no sábado de manhã, quando deixou a maternidade para o velório, no Cemitério Parque Memorial, onde foi enterrado.
A morte gerou comoção nas redes sociais. No Facebook, amigos e familiares criaram o grupo 'Justiça por Davi'. A página é estampada com uma foto do advogado encostado na barriga da mulher, quando ela estava gestante.
O filho, nascido no dia do assassinato, ganhará o nome escolhido pelo pai, Gabriel, mas também se chamará Davi. "É uma forma de homenageá-lo", diz o familiar.
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