8 de maio de 2012

Nos palcos de Belém, "Batista" celebra os 230 anos de Batista Campos, o Cônego Revolucionário

Se você está em Belém não perca esta oportunidade. "Batista" é o nome da nova peça teatral que o dramaturgo paraense Carlos Correia Santos, da Companhia Teatral Nós Outros, estreia no dia 10 de maio, no Sesc Boulevard, em Belém. O espetáculo celebra os 230 anos do polêmico Cônego Batista Campos. O autor, conhecido por sua dramaturgia histórico-investigativa, faz um passeio pela biografia do líder cabano. Detalhes da obra do sacerdote e momentos importantes da Cabanagem - movimento que o revolucionário ajudou a fomentar - são retratados na peça teatral. 
Quem dará voz e corpo ao inquieto ativista político e jornalista Cônego Batista Campos é o ator Hudson Andrade, que também dirige a peça. Para o ator, é um grande desafio interpretar o histórico e polêmico Cônego. "Temos que administrar com bastante cuidado a imagem do Bastista. Falar da importância dele, e apresentá-lo independente de qualquer mitologia que ele tenha, sem julgar se era revolucionário, defensor dos direitos das pessoas", disse o ator Hudson.
Para dar mais movimento ao espetáculo, que tem estrutura de uma missa metafórica, Carlos Correia Santos e Hudson Andrade ousaram, convidaram a cantora Cacau Novais para interpretar, ao vivo, cânticos em latim ao longo do espetáculo. Uma voz feminina, que segundo o autor da peça teatral, compoe um perfeito e poético contraponto para as falas trovejantes do sacerdote que dá nome à montagem.
O convite foi feito e Cacau Novaes não resistiu ao desafio. “A minha alma de artista sempre pede o palco. Sendo assim, os convites acabam se tornando irresistíveis. E foi desta forma que o projeto de Batista se apresentou: irresistível e desafiador. Ainda mais pelo fato de que dividirei o palco apenas com mais uma pessoa" comenta Cacau. No espetáculo, a artista, quem também, ganhou personagem, além de cantar vai interpretar uma personagem misteriosa, que acalenta Batista Campos em seus momentos de angústia e dor.
O espetáculo exige iluminação especial, uma espécie de viagem ao tempo pra lá de regional. "Vamos deixar de lado a iluminação do teatro. Estou buscando o regionalismo usando velas, lamparinas, porongas", diz Sônia Lopes, responsável pela iluminação de "Batista".Já deu pra perceber que a montagem de 'Batista' está impecável. A trilha sonora da peça fica por conta de Júnior Cabrali, com preparação corporal de Cláudio Temporal e consultoria de direção de Adriana Cruz.. A Companhia Nós Outros ainda conta com a parceria fotográfica de Brends Nunes e Frederico Mendonça.
Paralelo ao espetáculo "Batista", a Companhia Teatral Nós Outros, lança campanha para revitalização e preservação das Ruinas Murutucu. A produção do espetáculo decidiu fazer as fotos oficiais de divulgação da peça nas Ruínas do Murutucu, relevante sítio histórico tombado pela União. O local, além de ter as marcas arquitetônicas do famoso italiano Landi, foi um dos principais acampamentos dos cabanos. De lá, os revoltosos marcharam em 1835 para tomar o poder da capital do Grão Pará, numa ação sem precedentes para a História do Brasil: o povo tomando o poder e decidindo seus rumos.
"Ao realizarmos a pré-produção do ensaio fotográfico, constatamos o estado lastimável, vergonhoso e imperdoável em que se encontra esse incomparável patrimônio. Com todas as dificuldades possíveis, realizamos o ensaio fotográfico para divulgar a peça, mas também cuidamos de registrar a atmosfera de precariedade que toma conta do espaço. Decidimos, assim, atrelar as temporadas de BATISTA a um projeto que batizamos de “Ruínas da Memória”, relatou Carlos Correia Santos.
Em todas as sessões da montagem serão coletadas assinaturas para que a Companhia formalize uma petição pública a fim de exigir providencias do poder público para que as Ruínas do Murutucu sejam revitalizadas, preservadas e mais amplamente divulgadas.
João Batista Gonçalves Campos nasceu em 1782, na Vila do Acará, em Barcarena, nordeste do Pará, e morreu em dezembro de 1834. Além de cônego, João Batista foi jornalista e advogado. Consagrou-se um importante ativista político da história do Pará, desde a época que antecedeu a Independência do Brasil até as lutas partidárias que culminaram com a explosão do movimento da Cabanagem (1835-1840), ocorrido durante o período da regência provisória. Foi ordenado sacerdote pela Igreja Católica em 1805.
Autor intelectual da Cabanagem e autor de 'O Paraense', primeiro jornal publicado em Belém. Na administração pública, foi vice-presidente do Conselho do Governo da Província do Grão Pará e fez parte da Junta Provisória do Governo, no período de 18 de agosto de 1823 a 30 de abril de 1824.
Em 1834, enquanto fazia a barba, Batista Campos provocou, por descuido, um corte profundo em uma espinha no rosto por intermédio da navalha que usava. O ferimento ocasionou a morte de Batista Campos em 31 de dezembro de 1834. Seu corpo foi enterrado na Vila de Barcarena e, mais de 150 anos depois, em 1985, seus restos mortais foram retirados do local de sepultamento, colocados em uma urna, e levados em carreata pela cidade de Belém, na comemoração dos 150 anos da Cabanagem, sendo posteriormente carregados a um monumento comemorativo na capital paraense.
A Praça Batista Campos, localizada no bairro de mesmo nome, em Belém, foi inaugurada em 14 de fevereiro de 1904 em homenagem ao cônego, durante governo do paraense Antônio Lemos. Os restos de Batista Campos atualmente descansam na Igreja de Nossa Senhora de Nazaré ou Matriz, em Barcarena.
O espetáculo teatral escrito por Carlos Correia Santos foi premiado pelo Instituto de Artes do Pará, “Batista”, estará em cartaz nos dias 10, 11, 17, 18, 24 e 25 de maio, no Sesc Boulevard, sempre às 20h30, com entrada franca.

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