Mas, do aniversário de Marabá ocupo-me mais tarde. Quanto à temperatura de que falo no parágrafo anterior, claro que não tem qualquer relação com o sumiço das chuvas. Falo mesmo é da variação dos termômetros do mundinho político da cidade.
Vejam lá.
Quem já é leitor do blog sabe muito bem o quanto me fascinam os números e as pesquisas de opinião. Já lhes disse que a constância e a frieza dos números inspiram em mim admiração e fascínio. Assim, não posso jamais deixar de comenta-los.
Nos últimos dias, em Marabá, nada menos que três institutos diferentes andaram fazendo suas prospecções sobre o humor do eleitorado.
Digo-lhes que tive acesso a todas.
Duas delas, por não terem sido registradas, acredito que não seja acertado comentar.
Apenas a pesquisa realizada pelo Ibrape e publicada pelo jornal Correio do Tocantins foi devidamente registrada e, portanto, será a única a merecer uma análise mais aprofundada. Listarei os fatos e comento logo a seguir.
Mas, primeiro os dados técnicos. Foram feitas 370 entrevistas, a margem de erro divulgada é de 3,5% para mais ou para menos, o método de entrevistas foi pessoal com uso de celular, a área de abrangência foi a sede do Município de Marabá, talvez por um lapso não foi informada a data da coleta de dados, o registro se deu no dia 30 de março deste ano, o público-alvo foi formado pelos eleitores de Marabá maiores de 16 anos segundo plano amostral ao qual não tive acesso ainda. O estatístico responsável foi Luciano Matos (CONRE/SP nº 5808) e o técnico de campo foi Sérgio Albano. Estas informações estão contidas na reportagem publicada ontem (5) no CT.
Vejamos os números apurados. Na espontânea, quando o entrevistado é instado a responder, sem auxílio de uma relação de nomes, em quem votaria para prefeito, Tião Miranda (PTB) obteve 36% das citações; João Salame, 13%; Maurino Magalhães, 3%; Jorge Bichara e Miguelito, 2% cada um; Luiz Carlos e Ítalo, 1% cada. Indecisos somam 42%.
Na estimulada, quando são apresentados alguns candidatos ao entrevistado, Tião aparece com 56%, João com 18%, Maurino com 6%, Luiz Carlos com 5%, Ítalo com 3% e Jorge Bichara e Miguelito com 2% cada. Indecisos são 5%.
Em outro cenário, quando apenas Tião e Maurino permanecem na disputa, Tião tem 77% das citações e Maurino 12%. Brancos, nulos e indecisos somam 11%.
Maurino é o mais rejeitado com 55% das citações, Miguelito aparece com 26%, João Salame tem 13% de rejeição, Tião Miranda é rejeitado por 10% dos entrevistados, Luiz Carlos, Bichara e Ítalo tem 7% cada um de rejeição.
Resumidamente é isso.
Poderia começar dizendo que não conheço o instituto que realizou a pesquisa. Esta seria a forma maldosa de abordar o assunto. Encheria linguiça, faria volteios e ao final tentaria descredibilizar a aferição. Como todos sabem, uma distância grande me afasta da candidatura de Tião Miranda. Como a pesquisa parece lhe favorecer poderia escolher dois caminhos: a omissão, por medo de "queimar-me" com o virtual prefeito ou partir para a denúncia sobre a tendenciosidade da pesquisa, para "fazer média" com os demais concorrentes.
Mas, queridos, QUE NINGUÉM ESPERE DE MIM ESSE TIPO DE COMPORTAMENTO!
Busco fazer análise, certa ou errada, mas análise. Torcida reservo para os meus mais que adorados Flamengo e Clube do Remo!
Vamos aos fatos em um rápido vermelho e preto.
Fato: O Ibrape é relativamente desconhecido no Pará.
O instituto tem atuado em Mato Grosso, Amazonas, Rondônia e Roraima. Segundo o site do próprio instituto, com elevado índice de acerto. Deve ser verdade. Apesar de não disponibilizarem os relatórios das pesquisas no site Ibrapenet.com.br, (quando se pesquisa no Google apenas "Ibrape", aparece primeiro um instituto de estética e beleza, mas isso é o de menos), acredito que tenham sido devidamente registradas. O fato de ter atuação apenas em estados do Norte não o torna melhor nem pior que qualquer outro instituto de pesquisa. O torna apenas desconhecido. Ponto.
Fato: Já ouvi o argumento segundo o qual a pesquisa é falha por ter sido "feita pelo celular".
O método foi a tabulação dos dados através de um aparelho tipo PDA, que elimina o formulário de papel e faz o registro do resultado em tempo real. Nenhum problema aí.
Fato: O plano amostral, aquela base que norteia e estratifica o eleitorado por faixa etária, nível de escolaridade, sexo, classe social, etc, não foi divulgado.
Isso realmente torna um tanto mais difícil analisar a pesquisa. Mas, acredito que o jornal contratante haverá de explorar em suas próximas edições essas diversas facetas da pesquisa e, pelo menos espero, divulgará o bendito plano amostral. Sigamos.
Fato: O universo pesquisado foi apenas a área urbana do município.
Aí reside o primeiro problema desta pesquisa. Cerca de 18% dos eleitores de Marabá vive na área rural do município. Estamos falando de um contingente de mais de 25 mil eleitores. Esses não foram sondados. E isso é relevante? Claro que sim! Não se pode imaginar que as demandas, conceitos e ideais de governança sejam idênticos quando confrontam-se eleitores urbanos e rurais. Para piorar, dizem-me os mais velhos marabaenses, que Tião Miranda, o líder na pesquisa, tem seu reduto na zona urbana. Ignorar a área rural foi um erro, que, mesmo não ferindo de morte a pesquisa, enfraquece seus resultados.
Fato: Foram entrevistados 370 eleitores marabaenses.
Tive o cuidado de consultar dois amigos que acumularam alguma experiência em pesquisas eleitorais no Pará. Dizem-me eles que não há qualquer problema em uma amostragem reduzida como a executada nesta pesquisa. Apenas fazem a ressalva que, ao reduzir-se a amostragem amplia-se relativamente a margem de erro. Assim, considerando os 134 mil eleitores de Marabá, 370 entrevistas projetaria um margem de erro entre 5,19% e 6%. O instituto afirma que a margem de erro é de 3,5%. Os estatísticos que consultei me dizem que o mais acertado seria ampliar para pelo menos 540 entrevistas e incluindo a área rural, este número poderia subir para 620 entrevistados para ter a margem de erro em torno de 3%.
Ora, uma margem de erro maior tem vasta influência na análise, divulgação e por conseguinte, exploração política da pesquisa (afinal, é para isso que pesquisas são feitas. Ou não?).
Tomemos como exemplo um confronto direto entre Tião e João na pesquisa estimulada.
Tião tem 56%. Usando a margem de erro do Ibrape, na pior hipótese teria 52,5%; João tem 18%. Na melhor hipótese teria 21,5%. Invertendo, Tião poderia atingir, em sua melhor performance 59,5% e João em seu pior desempenho teria 14,5%. Aparece aqui uma diferença de exatos 45%. Uma vantagem tão grande que parece quase impossível ser revertida!
Por outro lado, tomando a margem de erro de 6 pontos percentuais, veremos que Tião, na pior hipótese teria 50% das intenções de voto, mas João, na melhor hipótese, teria 24%. A distância cai para 26%. Uma redução e tanto.
Portanto, é preciso antes de analisar os números e seus desdobramentos na cena política local, que esses três últimos tópicos restem esclarecidos. É isso ou estará aberta uma enorme avenida na qual poderão desfilar o proselitismo do "já ganhou" ou o ainda mais ruinoso e fantasioso mote do "já perderam".
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