6 de abril de 2012

A pesquisa Ibrape/CT para prefeito de Marabá (Parte II)

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Vamos partir da premissa segundo a qual os números apurados pelo Ibrape, esta novidade entre nós, estão absolutamente corretos. O que isso significa? Pouco ou quase nada. Tenham paciência que explico a seguir.
Tião Miranda (PTB) tem 56% das intenções de votos na pesquisa estimulada. Seu mais próximo concorrente é João Salame com 18%. Fatura liquidada? Longe disso!
Sei de alguns afobadinhos que estavam ávidos por saírem a gritar "eu já sabia!" ou "Tião já ganhou!"
Mas, não é assim que a banda toca. Acalmem seus ardores.
Perceberam que a eleição deste ano ainda não conseguiu atrair metade do eleitorado para a discussão? A pauta da cidade está ocupada por outros assuntos. Segurança, transporte público, obras (Alpa, hidrovia, duplicação...) , a questão da saúde e até a criação do Estado do Carajás estão à frente das eleições no imaginário popular. Uma enquete feita e divulgada na mesma edição do Correio do Tocantins que publicou a pesquisa Ibrape/CT mostra isso. Mais da metade dos entrevistados citou segurança, uma atribuição constitucional do Governo do Estado, como o assunto mais importante a requerer providências imediatas!
Na pesquisa Ibrape/CT, em sua modalidade "espontânea", o índice de indecisos em relação às eleições deste ano é de 42%. Como não existe "fração de eleitor", é mesmo metade da população que ainda não teve paciência ou vagar para analisar os candidatos.
Portanto, apressados, nada de interditar o debate.
Este jogo sequer começou.

Tomemos como exemplo o líder na pesquisa Ibrape/CT, Tião Miranda. Há três anos que "até as pedras do leito do Tocantins" sabem que será candidato à prefeito. Corre sem ser fustigado este tempo todo e tem no atual prefeito, Maurino Magalhães, seu melhor cabo eleitoral (tanto pelo que faz de certo e não divulga, quanto pelo que não faz!). É voz corrente nos bastidores que aferições anteriores já registraram percentuais ainda maiores de intenção de votos para Tião. Não duvido.
Ocorre que esta paz experimentada por Tião, como toda paz, é precária. Dura até que comece de verdade a disputa. A partir daí o que se verá é a imputação de erros (fictos ou reais) ao ex-prefeito e atual deputado estadual. A proximidade com Jatene, o "governador do Não à Carajás", a qualidade e a utilidade de suas obras, os seus gastos quando gestor, a falta de recursos carreados para Marabá via emendas parlamentar, a opção de não integrar o comando da campanha do SIM no Plebiscito, tudo isso e muito mais será munição a ser usada pelos seus opositores e que, de uma forma ou de outra, balizarão a opinião do eleitor.
Uma coisa é passar três anos sem ser fustigado. Outra coisa é passar três meses sobre profundo questionamento.
Por outro lado, esta pesquisa poderá ser usada para tentar inviabilizar a candidatura de João Salame. Explico. João deve saber que suas chances de derrotar Tião crescem na medida exata em que partidos estratégicos como o PMDB, PV e PT aceitarem engrossar a corrente já praticamente formada por PPS e PDT. Sem a unidade desses cinco partidos a tarefa de João fica extremamente penosa. Ele corre contra o tempo para chulear esta aliança ampla, garantir tempo de televisão e financiamento para a campanha. Estratégia, propaganda e recursos, como se sabe, andam juntos na política. Melhor posicionado na pesquisa, Salame deveria ser a aposta óbvia dos demais partidos que sabem não ter espaço com Tião. João tem a competência para ser prefeito, adquiriu musculatura com sua condução correta na campanha do Plebiscito e é experiente o suficiente para tecer as alianças necessárias Mas, infelizmente a política não é tão cartesiana assim. Por isso, cabe a João Salame intensificar seus contatos, costurar com maior rapidez seus acordos e estabelecer desde logo as bases de sua candidatura. Além das ações nos bastidores, João precisa dizer claramente em que seus planos, projetos e gestão distinguem-se daqueles de Tião. O eleitor de Marabá precisa ouvir de João a crítica ao passado e ao presente, mas acima precisa ouvir o que pode esperar para o futuro. A liderança ajustada durante o Plebiscito trouxe João até a faixa dos 20% de aceitação. Mas, será sua capacidade de gerar no eleitor o encantamento com o futuro que poderá levá-lo a vencer as eleições.
O PMDB, por outro lado, sob a liderança de Nagib e Asdrúbal, dizia que pretendia ter Ítalo como candidato próprio mas que esta candidatura "precisaria ter viabilidade". Quando político usa esta expressão ele quer dizer "que possa vencer". E sabe-se que Ítalo, malgrado seja um dos melhores nomes que Marabá tem para ocupar o cargo de prefeito, não apresentou até aqui sinais de que possa se tornar "viável". Abandonada a alternativa Ítalo, restam ao PMDB o apoio a João, ao PT, a Maurino ou ainda a Tião.
Com João as conversas avançam lentamente, mas avançam, ainda que uma conclusão esteja ainda distante.
Por outro lado, soube de boa fonte que até o final do mês pelo menos dois ministros de Dilma tratarão da sucessão em Marabá e o próprio Zé Dirceu já teria garantido apoiar a candidatura de Luiz Carlos e buscaria aproximá-lo do PMDB. Besta é quem duvida da força do PT. Só para lembrar aos tucanos, hoje correia de transmissão do PTB em Marabá, Ana Júlia surrou Jatene aqui.
Por outro lado, pergunto-me qual princípio o PMDB violaria caso optasse por apoiar Tião Miranda. Chego à conclusão que nenhum. Dizem que Nagib "não gosta" de Tião. Ora, sinceramente, em política de nível elevado, quando os prêmios são tão relevantes, não consigo ver um político experiente e pragmático a dizer "eu não gosto de você" para justificar uma dissidência. Nagib dirá sim a Tião pelos motivos que diria sim a Luiz, João ou Maurino, ou seja, caso perceba que 1) isso garantiria sua própria reeleição e 2) garantiria a eleição de uma bancada relevante na Câmara com a consequente "ocupação de espaços" na futura administração.
Maurino por outro lado aparece com 6% na pesquisa Ibrape/CT. Morto e enterrado, certo? Errado!
Peguem as pesquisas em abril de 2008, em Belém. Duciomar, então prefeito e candidato à reeleição, aparecia com os mesmos ridículos 6 ou 8 pontos percentuais. Valéria Pires Franco aparecia como a grande favorita com mais de 30%. Em agosto, na primeira pesquisa Ibope, Dudu já aparecia tecnicamente empatado com Valéria, mas numericamente à frente, com 24% contra 21% da mulher de Vic. Em outubro, abertas as urnas e contados os votos, Dudu conseguiu mais de 36% dos votos, Priante ficou em segundo lugar e Valéria nem do segundo turno participou!
O que aconteceu neste período?
Dudu percebeu que era preciso corrigir os rumos da administração, traçar uma política agressiva de comunicação e trazer para si partidos e pessoas relevantes na cidade. Adaptou-se, modificou-se e conseguiu reverter um quadro que todos consideravam perdido.
Digo isso porque acho tolice ignorar a força da estrutura de uma prefeitura, qualquer prefeitura, grande ou pequena, e de um prefeito que realmente queira ganhar uma reeleição. Mas, Maurino precisa decidir se, afinal de contas, quer ou não disputar para valer este pleito.
Querendo, tem à disposição um vasto arsenal. Ao longo desses anos já vi muitos políticos em ação. Alguns são ótimos estrategistas, outros ótimos oradores, outros ainda são cerebrais, mas são poucos aqueles capazes de estabelecer uma relação direta como o "povão". Acredito que Hélio Gueiros, dentre os que conheci pessoalmente tenha tido este perfil. Maurino também é assim. Por algum mistério arcano, ele consegue identificar-se e ser aceito entre os mais simples. Trata-se de uma arma poderosa. E além disso, tem a caneta cheia de tinta.
Na próxima segunda-feira, com o afastamento prévio de sete ou oito secretários municipais ocorrido nesta semana que passou, para disputar as eleições, abre-se uma janela de oportunidade para Maurino incorporar ao governo outros partidos e pessoas. Irá ele explorar isso? Caso faça, os efeitos serão quase que imediatos. Qual dos demais candidatos tem esta oportunidade ao alcance das mãos? É correto desprezar um candidato que tem essa prerrogativa? Creio que não.
Para fechar, Maurino passará a contar com um forte aliado na Câmara Municipal. Miguelito, duvido que alguém discorde, é um dos políticos mais experientes de Marabá. Fez uma administração exitosa à frente da SDU e demonstrou coerência e lealdade ao garantir seu apoio a Maurino. De volta à Câmara, Miguel, vereador mais votado em 2008, conta com uma tribuna privilegiada e que não poderá ser ignorada, além disso seu partido, o PP, é um dos mais organizados da cidade. Um reforço e tanto para a administração de Maurino.
Conclusão
Como se vê a pesquisa Ibrape/CT, ainda que consideremos como absolutamente fidedigna, é bem pouco conclusiva. Não esgota o assunto, senão o realimenta. Trata-se, como toda pesquisa, de um fotograma do momento atual que pode, no máximo, indicar os rumos que cada candidatura pode seguir para buscar a vitória no ainda distante 7 de outubro.
Insisto: Que os correligionários de Tião digam ser este um "jogo jogado" estão cumprindo o seu papel; que eu ou você acreditemos nisso será uma rematada tolice. João Salame e Maurino Magalhães, ainda bem, estão vivos neste jogo e caberá a eles, através de suas escolhas e estratégias, credenciarem-se como oponentes de fato ao favorito. Digo ainda bem, porque a razão de ser da democracia é a contraposição de ideias, valores, projetos. Seria pernicioso para Marabá se este sonho distópico "do candidato único e imbatível", que alguns pretendem construir como unanimidade, se tornasse realidade.
Não tivesse outra utilidade, pelo menos esta remanesceria à pesquisa Ibrape/CT. Através dela, lendo-a sem  dogmatismo, é possível perceber que a política está mais viva do que nunca em Marabá e que a disputa acontecerá de forma efetiva e conseguirá mobilizar a todos, cada qual escolhendo seu lado e trabalhando por seus candidatos, tudo como deve ser em um regime democrático. Afinal, precisamos eleger um prefeito, não um monarca!

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