28 de fevereiro de 2012

Anac não tem como garantir segurança de voos no País, diz especialista

No Diário do Pará, por Cláudio Darwich, hoje (28):
Quatro acidentes aéreos em fevereiro no Pará: isso não pode ser normal. Dia 8, um bimotor cai na baía do Guajará, em Belém; dia 16, em Cametá, cai outro bimotor, com quatro mortos; dia 22, um helicóptero faz pouso forçado em Marituba; e dia 25 mais um bimotor cai no Acará, com mais três mortos.
Piloto aposentado em 2005, Carlos Camacho é hoje um dos principais especialistas em segurança de vôo no Brasil e diretor do Sindicato Nacional dos Aeronautas. Camacho concedeu entrevista ao jornalista Cláudio Darwich, do DOL, por telefone, de São Paulo. Ele assegura que há pilotos sem habilitação, aeronaves sem condições e o pior: é impossível a Anac garantir a segurança de quem precisa voar. A entrevista foi publicada hoje na coluna Mauro Bonna, do DIÁRIO DO PARÁ.

As medidas necessárias de segurança estão adequadas na nossa região?
CARLOS CAMACHO - Como um todo ainda não. A Anac precisa de um número de profissionais, investigadores e inspetores muito maior do que hoje ela tem. No passado, os militares da Força Aérea Brasileira cobriam todo o território nacional fazendo este tipo de fiscalização. Hoje, não estando mais na mão dos militares, a Anac tem a obrigação de efetuar as fiscalizações e acompanhamentos das aeronaves. Este é um ponto que a Anac deveria esclarecer.
Mas estas fiscalizações acontecem ou não?
CAMACHO - Nosso entendimento é que ainda tem muita aeronave circulando em situações que, se passassem realmente por uma fiscalização, elas não poderiam estar voando. São pilotos com credenciais vencidas e manutenções que não foram bem feitas.
Existem pilotos com documentação vencida?
CAMACHO - Sim, não é novidade para nós que pilotos estejam voando, muitas vezes com habilitações que não são as suas próprias, especialmente na região Norte e Nordeste do país.
O sr. conhece algum caso concreto disso?
CAMACHO - Um exemplo que ficou conhecido por toda mídia foi o de um acidente com helicóptero no litoral da Bahia, no qual o piloto e dono do helicóptero não possuía habilitação. Mas ele tomou por empréstimo a habilitação de outro piloto, o que é ilegal. A Anac, quando tem conhecimento, consta-me que vai atrás, mas duvido que ela consiga alcançar todo o território nacional, levando em consideração o número de pilotos e profissionais em todo o Brasil.
Então é impossível a Anac garantir a segurança dos voos?
CAMACHO - A Anac é pequena para o tamanho do Brasil. A Anac teria que chegar à realidade nacional e aí sim ter um acompanhamento de perto, mais próximo. Muitas aeronaves que deveriam estar no solo, dentro de uma oficina de manutenção, podem ser encontradas voando em nosso país.
Quais os riscos no atraso da manutenção destas aeronaves?
CAMACHO - Tanto o avião quanto o helicóptero são muito sensíveis à manutenção. Em determinado período, aquele componente, aquela peça, deve ser substituída, não se deve voar com peças que não sejam projetadas e construídas para aquele determinado equipamento. Por exemplo, não se deve utilizar peças automotoras em aviões ou helicópteros.
Quais são hoje os principais problemas da categoria dos aeronautas?
CAMACHO – A concorrência, principalmente no setor de táxi aéreo, é muito grande. O custo de peças ainda é muito elevado. Há dificuldades de liberar estas peças e o interesse dos empresários do setor no lucro é bastante acentuado. Grande parte dos empresários está muito mais focada nos lucros do que na segurança. São situações, circunstâncias, que somados que provavelmente contribuem para que um acidente aconteça.

Nenhum comentário:

Postar um comentário