25 de agosto de 2011

O jogo ainda não foi jogado. Agora é que as regras estão estabelecidas

Queridíssimos,
O texto, como podem ver, é um tanto longo. Mas são preciso muitas palavras para chegarmos ao SIM, que afinal é única palavra que importa para todos nós, não é?
Abraços.

Nenhuma campanha escapa ilesa de uma derrota judicial. Os danos são maiores quando o frisson causado pela magnitude da matéria a ser julgada eleva a expectativa do resultado ao patamar de "bala de prata", de arma secreta capaz de, com um só disparo, deixar prostrado o adversário, garantindo a vitória.
Infelizmente, nem sempre é assim que as coisas acontecem e a decisão de ontem do Supremo precisa ser entendida como uma derrota. Não compreender a natureza das coisas é o primeiro passo para o fracasso.
Contudo, vocês verão ao longo do texto, essa derrota tem contexto e cabe àqueles comprometidos com a criação dos novos Estados a decisão sobre o que fazer a partir de agora. Os covardes dirão: "Perdemos"; os teimosos dirão: "Nem começamos a brigar".
Acreditem, sou muito teimoso.
Confesso que não acreditava no julgamento da ADI antes do plebiscito de 11 de dezembro. Entendia que o STF tenderia a não debater a matéria para não parecer ter tomado uma decisão casuística que beneficia obviamente um dos lados de um processo eleitoral já em curso.
Por outro lado, apontei aqui no blog a preocupação que, caso julgasse, o STF deveria, por razões diversas (relacionei algumas), ser contrário a ADI.
Na madrugada de sábado para domingo (21) postei um texto (Leia Aqui) no qual referia o julgamento por parte do STF e externava minha preocupação com o "dia seguinte" à decisão. Após historiar a trajetória da ADI, afirmei que "caso o Supremo acate as razões apresentadas pelos carajaenses o novo Estado seria um fato dado, uma vez que no sudeste do Pará é certa a vitória do “sim”. Resta-nos esperar e torcer. Mas os líderes do movimento a favor de Carajás precisam estar preparados para a “botar o bloco na rua” independente do resultado desse julgamento. Cada dia de inércia faz com que deixemos de ganhar milhares de votos que podem nos fazer falta no dia 11 de dezembro. Confiar e investir na decisão judicial é importante e fundamental, mas, não podemos esquecer que esse movimento precisa ganhar corações, mentes e votos de todos os que vivem nesta região e talvez de muitos que vivem fora daqui. E para isso só existe um mecanismo: a boa e velha política, aquela feita com panfletos, carros de som e povo nas ruas."
Como negar que a decisão nos mantém em óbvia desvantagem quando comparados com o colégio eleitoral de Belém?
Contudo, a decisão do Supremo está longe de encerrar a disputa. Não estamos diante de "um jogo jogado".
A partida sequer começou. Na verdade, agora é que as regras foram estabelecidas.

O gosto desagradável do revés sofrido ontem no Supremo não pode ser o álibi para omissão ou desalento.
Qualquer um com o menor discernimento sabe muito bem a dimensão da disputa e as complicadas batalhas que precisam ser travadas.
Insisto que o confronto judicial era (e continua sendo) importante, mas o desfecho dessa disputa se dará no dia 11 de dezembro e será resultado da maior ou menor capacidade que tivermos de "fazer política".
Fazer política significa unir esforços e, passando por cima das diferenças político-partidárias e ideológicas, uniformizar os discursos e partir para o confronto direto contra os que querem manter o status quo.
Esse confronto precisa acontecer em todos os terrenos.
Ainda somos tímidos na ocupação de espaços nas redes sociais da Internet, essas ferramentas fantásticas que tem como principal marca a instantaniedade. Usar de forma eficiente esses mecanismos é essencial.
Ao mesmo tempo é necessário agregar as organizações da sociedade civil que atuam no Tapajós e Carajás. Existem mais de mil ongs atuando na Amazônia, grande parte delas sediadas no Pará e mais especificamente nos dois novos Estados. É preciso que seja elaborado um conjunto de propostas que as contemple e as comprometam com a construção desse projeto.
Algo semelhante acontece com setores como serviços e comércio. Precisa ficar claro para o empresariado local quais as reais vantagens que terão a partir do momento que os dois Estados forem criados.
Enquanto Belém transforma em "pop-stars" até seus cantores de churrascaria e com eles faz barulho, os artistas das duas regiões ainda não foram chamadas, por exemplo para participar da elaboração de uma proposta de política de cultura dos novos Estados.    
Não contesto o protagonismo da classe política. Contudo, as lideranças políticas precisam entender que esses Estados somente serão criados se tivermos a capacidade de oferecer a cada segmento da sociedade um papel relevante na nova ordem que se pretende criar.
Precisamos lembrar que os números e os fatos estão ao lado dos que lutam pela criação dos novos Estados. A melhor forma de combater o discurso sentimentalóide baseado na visão errônea e ufanista de um "Pará grandioso" (na verdade, grande e abandonado), será a racionalização da discussão. Contra o melodrama belenense que fala em "perda" de regiões nas quais 99% deles jamais sequer pisou, precisam ser usadas a exatidão dos números (sejam aqueles da nossa miséria cotidiana induzida por escolhas tendenciosas e coloniais, sejam aqueles que apontam para um futuro promissor para os três estados) e a clareza dos fatos. Contudo, não adianta nada termos os números e os fatos se ninguém, além de nós mesmos, souber disso.
Nosso trabalho precisa ser catequético e sistemático.
Precisamos ser ouvidos pelo eleitorado de Belém que está sendo bombardeado por informações incorretas repassadas por políticos que objetivam apenas aumentar seus respectivos cacifes na disputa à Prefeitura de Belém (TODOS os principais líderes que se auto-proclamam "defensores do Pará", são candidatos à prefeito de Belém).
O revés hoje foi grande. Entretanto, é justamente em momentos como esses que as verdadeiras lideranças devem perceber que para alcançar o Poder precisam delegar poderes, agregar pessoas, atribuir competências e fornecer os meios para que os fins sejam alcançados.
Nada na política se faz através do voluntarismo. As "massas não se levantarão" se não houver quem as provoquem e organizem seus esforços. Os votos não chegarão às urnas se não tiver quem os conquiste. Este é o teste de fogo para os que querem construir verdadeiramente os novos Estados. Dependemos neste momento daqueles que almejam liderar Tapajós e Carajás. Suas propostas precisam rápidas e corretas porque a história se faz quando a oportunidade encontra a competência.
Por fim, lembremos todos que não se pode jamais dar como perdido um jogo que sequer começou.

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