28 de novembro de 2018

Para quem acha que mudança climática é "dogma marxista", que sentido faria sediar COP-25? É Bolsonaro fazendo "bolsonarice"!


O Brasil desistiu em sediar a COP-25, conferência das Nações Unidas para discutir as mudanças climáticas. Nesta quarta-feira (28), o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) assumiu que a desistência brasileira foi um pedido seu ao atual presidente Michel Temer. "Houve participação minha nessa decisão".

Onix Lorenzoni (DEM), que coordena a transição e futuro ministro da Casa Civil, chegou a negar participação dos bolsonaristas na decisão, mas foi imediatamente desmentido por seu chefe. Outro futuro ministro, Álvaro Antônio (PSL), que ocupará o Ministério do Turismo, chegou a festejar a COP-25 como forma de atrair estrangeiros ao Brasil. Teve que se desmentir após ser informado que o chefe havia vetado a realização do evento no Brasil.

Pode causar estranheza a alguns a desistência brasileira. Mas, não deveria.

Desde a campanha e durante toda esta interminável "transição", Bolsonaro tem feito pregação estúpida contra o multilateralismo, as Nações Unidas, os acordos internacionais e desdenhado da necessidade em discutir a questão das mudanças climáticas.

Bolsonaro já disse ter a intenção de abandonar os acordos de Paris e agora diz que a COP-25 discutiria assuntos relacionados à soberania nacional sobre a região que denomina de "Triplo A" - Andes, Amazônia e Atlântico. Isso simplesmente não é verdade.

Outro argumento, a falta de recursos, também não é verdadeiro. Os recursos já estavam devidamente alocados e previstos inclusive na Lei de Diretrizes Orçamentárias que orienta a elaboração do Orçamento de 2019.

Decisões dessa natureza devem tornar cada vez mais difícil a inserção brasileira nas relações com outros países e poderão ter repercussões econômicas sérias no curto prazo. As posições brasileiras historicamente prezavam pelo fortalecimento da política internacional de preservação ambiental, redução de emissões de poluentes e produção de energia limpa. Isso abria portas para os produtos nacionais e tornava o Brasil protagonista em diversas mesas internacionais.

Caso siga nessa trilha - e nada indica que mudará de rumo - o governo Bolsonaro será cada vez mais identificado com a devastação ambiental e com o desprezo aos órgãos multilaterais. Em consequência, começará a perder espaço global e investimentos. A Noruega, por exemplo, duramente criticada por Onix Lorenzoni, é responsável pela manutenção do Fundo Amazônia e já prevê reduzir paulatinamente o repasse de recursos ao Brasil.

Não se espante se em breve tivermos forte boicote internacional à carne brasileira, em especial, aquela produzida na Amazônia.

A decisão de Bolsonaro tem forte conteúdo "ideológico" e está em linha com o que pensa (?) o chefe do novo regime. Não por acaso, o escolhido para chefiar o Ministério das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, considera a questão climática "dogma marxista" e pretende "varrer do Itamaraty a ideologia comunista".

Estamos trocando uma alegada - e não provada - "ideologia marxista", por outra ideologia. Desta feita teremos a nos guiar a "ideologia da porraloquice direitista bolsonarista". Não iremos longe.

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