20 de março de 2013

À noite, Secretário de Segurança do Pará garante "um delegado por município até o fim do ano". De manhã é desmentido pelos fatos!

O secretario de Segurança Pública do Estado do Pará, Luis Fernandes foi o entrevistado, no primeiro bloco do programa Argumento, de ontem (19), apresentado por Mauro Bonna e transmitido pela RBATV para todo o Pará,  O que se viu, previsivelmente, foi a descrição de um cenário com acentuados tons de rosa. Protocolarmente, Fernandes admitiu "alguns problemas", para em seguida deitar falação sobre os "altos investimentos que o Governador Simão Jatene" está fazendo no setor.
Fernandes afirmou que assassinato de policiais é balela (segundo ele, foram apenas dois casos em 2012 e um, até agora, em 2013); que serão alugadas 1.000 viaturas e compradas 400 motos; que o monitoramento por câmeras será ampliado e que o contingente efetivo da PM será ampliado em mais de 5 mil homens.
Fernandes desfiou este rosário de "bondades" sob o beneplácito de Bonna. O sempre tão incisivo - e por vezes chato - entrevistador, diante de Fernandes tornou-se manso tal qual um cordeiro e no mais das vezes "levantou a bola" para o secretário de Jatene chutar de primeira. Tivesse sido ensaiada, a entrevista não poderia ser mais "amigável".
Faltaram perguntas óbvias: se tudo vai bem, por que o Pará ostenta índices "alagoanos" de homicídios? Por que, em Paragominas uma mulher tem 7 vezes mais chance de ser agredida que em qualquer outra cidade do País? Por que bancários, comerciantes e vivem em "estado de sítio", sem saber se voltarão vivos para casa, ao final de um dia de trabalho? Por que Marabá perde, para o crime e para as drogas, centenas de jovens e adolescentes a cada ano? Por que os moradores de bairros periféricos que utilizam os micro-ônibus sabem que, a qualquer momento, podem aparecer na TV como vítimas de sequestros ou virar reféns de um "de menor"? Quem é o feliz proprietário da empresa que alugará 1.000 carros para Jatene? Estaremos diante de uma nova "Delta", empresa-amiga do tucanato? Por que o sistema de monitoramento por câmeras não consegue passar da divisa Belém-Ananindeua?
Contudo, o pior estaria por vir.
Fernandes tratou de afirmar que não faltam delegados e que as delegacias estão quase todas funcionando com "equipes completas" - contariam com delegado, escrivão e investigador, tudo dentro da normalidade. A Segurança, aos olhos de Fernandes, é show de bola! Garantiu que até helicópteros estão disponíveis para combater o crime!
Bastaram sete horas para que o secretário de Segurança fosse amplamente desmentido. Na manhã de hoje (20), a TV Liberal mostrou que são mais de 40 (QUARENTA) os municípios que não contam com um delegado sequer! Alguns delegados chegam a responder por cinco ou seis municípios. Claro que aparecem apenas quando um crime grave é cometido. Como não moram no local, "fazem" a ocorrência e vão embora. Deixam de ser delegados e tornam-se "anotadores", a registrar para a posteridade os corpos que a irresponsabilidade do Governo do Pará deixou espalhados. As chances de elucidar os crimes são as mesmas que tem o Sargento Garcia para capturar o Zorro. Delegacias permanecem fechadas - na capital e no interior - durante à noite. Plantão 24 horas, nem pensar. JATENE MANDOU CORTAR. Pior: a história de, ainda este ano, oferecer um delegado a cada município, é ficção barata, sem qualquer chance de se realizar. Ainda que aprovados fossem chamados ou novo concurso realizado, seriam necessários meses, quase ano, para que os bacharéis fossem treinados e estivessem aptos ao exercício do cargo!
Fernandes não foi contraditado por Bonna e deve ter saído da RBATV satisfeito consigo mesmo e quem sabe, ido ao Benjamin, restaurante trés chic do todo-poderoso secretário de Estado Sérgio Leão para saborear um stinco de carneiro de forno acompanhado de arroz de lentilhas. Por tantos e tão bons serviços prestados - ao tucanato, bem dito - Fernandes bem que merece! Vai um petit gateau, aí, secretário?

Um comentário:

  1. Parabéns, Wilson! Dos blogs que eu acompanho o seu foi o único que se chocou com a entrevista bizarra de ontem. Na boa, a entrevista foi patética. O entrevistador não fez se quer uma questão relevante para o estado. Ficaram quase um bloco inteirinho só falando da importância da Delegacia de Crimes Ambientais (quero deixar claro que TB acho importante) sendo que em Marabá, a segunda cidade mais violenta do país, não tem sequer uma divisão de homicídios que funcione. O pobre do delegado plantonista tem que, além de realizar o trabalho de expediente (atendimento ao público em geral) também que fazer os flagrantes e as investigações... Isso é impossível. Depois a população cobra que crimes sejam esclarecidos, mas esclarecer como? Infelizmente isso não é divulgado na mídia. A Tv Liberal mostrou a situação de algumas delegacias em Belém, que não tem delegados no período de noite. Uma pena eles não virem para Marabá para mostrar a situação caótica em que se encontra a segurança pública. Infelizmente a imprensa local, principalmente as que cobrem a editoria de polícia, se preocupam apenas em dizer quantas pessoas foram assassinadas, roubadas, furtadas e estupradas (mtos até "gostam" qdo acontecem crimes terríveis que possam estampar seus noticiários sensacionalistas), mas se esquecem do outro lado social da informação, que é o de mobilizar a sociedade por melhorias. Uma cidade como Marabá não pode continuar sem uma delegacia de homicídios que funcione 24h por dia, pois antigamente ela funcionava, mas em horário comercial. Os homicídios que aconteciam durante a noite ou a madrugada ficavam sem receber a devida atenção. Por favor blogueiro, chame a atenção das autoridades competentes. Prestes a completar 100 anos, Marabá não tem o que festejar. Inauguração de relógio... meia dúzia de shows... nossa cidade merece muito mais do que isso.

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