Como era previsível, a luta por Marabá, esta linda e tão maltratada Província Rebelde, mostra-se cada vez mais renhida. Sem índices razoáveis de popularidade, a candidatura de Maurino Magalhães parece agonizar. O protagonismo, neste momento, é todo de Tião Miranda (PTB), candidato apoiado ostensivamente pelo governador Simão Jatene, e no polo oposto, de João Salame (PPS), credenciado por sua postura firme e correta a favor do Estado do Carajás.
Mas, eis que divago... Este cotejamento, garanto a vocês será assunto para outro momento.
O busílis aqui é outro.
Minha expectativa que as batalhas jurídicas ficassem restritas aos naturais entreveros entre os dois principais candidatos a prefeito mostrou-se incorreta.
Hoje, Tião Miranda ingressou com uma representação contra, pasmem, o Blog Hiroshi Bogéa Online, um dos mais acessados da região do Carajás.
Na representação, Tião, através de sua coligação, pede direito de resposta, multa e que o blog seja retirado do ar. O motivo?
Bom, Hiroshi publicou, a pedido do autor, uma CARTA DEVIDAMENTE ASSINADA, de Wendel Lima Bezerra, professor da rede municipal e estadual de ensino e um dos coordenadores do Sintepp, sindicato que congrega os trabalhadores na educação contendo duras críticas a Tião.
Li e reli a bendita carta. Fui em busca de algo que pudesse ensejar o pedido de medidas tão drásticas por parte de Tião Miranda.
Garanto-lhes que não vi NADA que pudesse justificar a corrida à Justiça, em particular para buscar punir o blog ou seu administrador.
Vejam bem:
1 - Não se trata de texto anônimo. A carta é ASSINADA por Wendel e até mesmo os trechos grifados, o foram pelo autor, como frisa Bogéa logo no início da postagem.
2 - Ainda que, só para argumentar, o texto trouxesse alguma ofensa, Tião deveria interpelar o autor, não o blogueiro.
3 - Segundo os critérios de relevância e pertinência, a carta de Wendel tem óbvio valor jornalístico. É relevante discutir o passado dos candidatos quando apresentam-se para dirigir a cidade; e é pertinente que um educador, notadamente um líder sindical, exprima publicamente sua discordância com aquela candidatura que ao seu paladar não agrada.
Não sei se Wendel também foi interpelado pelos advogados de Tião, mas custo a crer que a Justiça venha a acolher na totalidade os pedidos formulados na Inicial.
Consideremos que Tião ainda tenha chance de ganhar esta disputa, apesar de ver João Salame cada vez mais próximo depois de pulverizar uma diferença que chegava a quase 30 pontos em menos de sessenta dias.
Pergunto então, que tipo de prefeito seria Tião, caso eleito? Sendo ainda candidato, quer tirar blog do ar por conta de uma carta. O que faria então aos desavisados que ousassem criticar sua eventual gestão?
Alguém precisa informar ao candidato de Jatene que não é assim que toca a banda. Bonito seria Tião gastar um pouco de seu vasto conhecimento para refutar, com argumentos e fatos, as críticas que recebeu. Duvido que Hiroshi Bogéa lhe cerceasse o direito de replicar. Estaríamos diante do delicioso exercício do debate franco de ideias e visões de mundo, algo enriquecedor para todos.
Ao contrário, a posição de Tião ao exigir que o blog seja retirado do ar deixa claro um viés preocupante. O candidato surge como alguém com elevada sensibilidade à crítica e sem disposição ao diálogo, avesso à interlocução. E isso não é bom.
Prefeito é aquele que quer cuidar de gente, aquele que se mostra capaz de construir consensos e que não investe na geração de conflitos. É perigoso confundir autoridade, algo bom e necessário, com autoritarismo. Ao homem público não é dado o direito de sentir-se uma estátua, porque, como disse Gorender, "estátuas são, a rigor, irretocáveis". Tolerar e interiorizar as críticas são posturas mais que necessárias, exigíveis de quem pretende representar uma coletividade, em especial, uma tão complexa quanto esta que conforma Marabá.
Para encerrar, lembro aqui trecho de um voto proferido pelo Ministro Menezes Direito, na Suprema Corte. Disse Sua Excelência ao defender a Liberdade de Expressão que “o preço do silêncio para a saúde institucional dos povos é muito mais alto do que o preço da livre circulação de ideias”. Que este siga sendo o lema deste País!
Daqui deste bloguinho, a solidariedade ao confrade Hiroshi Bogéa.
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