Algumas vezes bate um certo tédio quando tenho que repisar certos assuntos aqui no blog.
Ainda não contei, mas tenho certeza que durante quase um ano - que o Contraponto completa dia 14 deste mês - formam mais de uma centena as vezes em que mostrei a situação insustentável da Saúde Pública aqui no sudeste do Pará.
Ainda esta semana, quando o governador tucano do Pará, Simão Jatene, visitou Marabá para entregar 10 novos leitos de UTI para o Hospital Regional do Sudeste (HRS), tive a oportunidade de frisar que a quantidade era irrisória diante das nossas necessidades.
Mostrei na ocasião que tendo que atender 26 municípios, o HRS tem como potenciais pacientes mais de 1.500.000 pessoas. Conta para isso com 38 leitos de UTI e 77 leitos de enfermaria. Os números são de tal sorte desproporcionais que qualquer comentário sobre eles é ocioso.
Por conta disso, deste descaso, desta atitude de "tanto se me dá" por parte das autoridades, pessoas morrem na região do Carajás.
Hoje (11), o jornal Correio do Tocantins, em matéria assinada por Ulisses Pompeu, mostra a luta desesperada pela vida que trava um recém-nascido.
Prematuro, com apenas 5 meses de gestação, pesando 465 gramas e medindo menos de 30 centímetros, o garoto, que ainda não tem nome precisa de um leito em uma Unidade de Terapia Intensiva Neonatal (UTI-N). Caso não consiga a vaga, morrerá em oito dias. E não há vagas nas UTIs do HRS!
A família não tem condições de remover a criança para outro município. Até o momento em que escrevo o Governo do Pará não manifestou-se no sentido de garantir um leito na Santa Casa de Misericórdia, em Belém ou em qualquer outro hospital.
Espero, sinceramente, que as autoridades já tenham conseguido resolver o problema.
Mas, ainda que salvem este pequenino, é certo que centenas de outros se perderão enquanto o problema estrutural - a crônica falta de recursos para a Saúde Pública - não for resolvido.
Em dezembro do ano passado, durante a discussão do Plebiscito que pretendia criar os Estados do Carajás e Tapajós travamos este debate. Um representante das elites belenenses, contrário à criação de Carajás, chegou a fazer um cálculo mórbido sobre qual a "taxa de mortalidade aceitável", para justificar a manutenção deste Estado paquidérmico.
Nós, que vemos na criação do Carajás a grande chance de redenção de nossa região, demonstramos que se nem mesmo a enorme concentração de leitos na região do entorno de Belém fez melhorar a saúde pública, o que dizer de Carajás e Tapajós, atendido com as migalhas que caem das mesas dos poderosos de Belém?
Alguns dirão que a Saúde Pública é ruim em todo o País. E é verdade. Merecíamos, considerando os impostos escorchantes que pagamos, algo muito melhor. Mas, também é verdade que, em alguns lugares, e a região do Carajás é um deles, a coisa é ainda pior. Sempre friso aqui que "governar é fazer escolhas". E, infelizmente, o governante do Pará, ao colocar-se contra a criação de Carajás, optou por governar de costas para Marabá e região.
Daí a necessidade de construirmos nossa própria história, determinarmos nossas prioridades, gerirmos os nossos recursos. Daí a necessidade de estabelecermos o Estado do Carajás.
Fazendo pouco ou quase nada (e apenas por Belém e pela região do Parazinho), Jatene tenta manter-se vivo politicamente.
Enquanto isso, um garoto sem nome, porque o Estado não cumpre sua missão, luta desesperadamente para manter-se vivo, literalmente.
Pergunto aos diversos advogados que leem o que escrevo: nada pode ser feito? Nenhuma norma foi ofendida pela conduta do Governador do Pará, do Prefeito de Marabá ou de qualquer outra autoridade? Quem pode ajudar? MP, Defensoria, quem?
Caso alguém se interesse em ajudar, a criança e a mãe Aline Lima Rocha, segundo a reportagem de Ulisses Pompeu, estão internados no Hospital Materno Infantil, em Marabá, onde os bravos médicos já fizeram tudo o que podiam para garantir a vida da criança. Agora, como sói dizer-se na região do Carajás, "é entregar para Deus".
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