Amanhã será um dia decisivo para as negociações em torno do documento final da Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável. É o último dia de negociações do comitê preparatório da Rio+20. Apesar de assumir a presidência da conferência no dia seguinte e ter o poder de submeter um novo texto, o Brasil não fará isso, garantiu nesta quinta-feira (14) o embaixador Luiz Alberto Figueiredo Machado, negociador-chefe do País.
"O Brasil não apresentará novos textos. O texto que existe é o da negociação. É muito natural que surjam rumores de que o país-sede tenha um texto na manga, mas não é o caso. É natural que, em sua função de presidência, o País busque sugerir opções de resolução para casos específicos onde não há acordo. Uma coisa não se confunde com a outra", declarou o embaixador.
Figueiredo Machado assegurou que o segundo dia de negociações apresentou avanços. Embora tenha dito na abertura da conferência que 25% do texto estava acertado, nesta quinta-feira o embaixador evitou fazer projeções de quanto do documento está pronto. "Eu não tenho números hoje. Nós trabalhamos com hipótese de que negociações acabarão amanhã. Caso isso não ocorra, o Brasil vai auxiliar as negociações assumindo a coordenação e buscando encontrar pontos de convergência entre as várias posições. É a nossa função buscar explorar junto aos nossos parceiros vias de acordo sem abandonar a postura de Brasil como membro. Temos que também vestir o chapéu da presidência, que é uma postura de meio termo. Mas nos interessa um documento final forte".O embaixador refutou afirmações de que estaria sendo criada uma rivalidade entre países desenvolvidos e emergentes nas discussões sobre o acordo. "Existem temas que são de negociação, onde surgem alianças e divergências. Existem temas que o G77+China (o grupo dos países em desenvolvimento) se alia à União Europeia e outros aos Estados Unidos. É normal que haja alianças entre grupos, mas não é necessariamente disputa entre grupos de norte e sul", garantiu.
Figueiredo Machado assumiu que há uma dificuldade muito grande de convencer os países desenvolvidos a assumir compromissos de investimento quando estão passando por uma crise econômica forte, mas diz que vem tentando exortar-lhes a pensar a longo prazo. "Não há dúvidas que há uma retração forte de países antes doadores que se veem com dificuldades até de justificar internamente uma postura mais solidária. Não tendo os meios, como vamos nos comprometer com ações? Isso faz parte das negociações, encontrar maneiras", afirmou o embaixador. "Não podemos ficar reféns de uma retração gerada por crise financeira nos países ricos. Temos de pensar no longo prazo e não em crises que poderão estar ultrapassadas em um ano ou dois".
Vinte anos após a Eco92, o Rio de Janeiro volta a receber governantes e sociedade civil de diversos países para discutir planos e ações para o futuro do planeta. A Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, que ocorre até o dia 22 de junho na cidade, deverá contribuir para a definição de uma agenda comum sobre o meio ambiente nas próximas décadas, com foco principal na economia verde e na erradicação da pobreza.
Composta por três momentos, a Rio+20 vai até o dia 15 com foco principal na discussão entre representantes governamentais sobre os documentos que posteriormente serão convencionados na Conferência. A partir do dia 16 e até 19 de junho, serão programados eventos com a sociedade civil. Já de 20 a 22 ocorrerá o Segmento de Alto Nível, para o qual é esperada a presença de diversos chefes de Estado e de governo dos países-membros das Nações Unidas.
Apesar dos esforços do secretário-geral da ONU Ban Ki-moon, vários líderes mundiais não estarão presentes, como o presidente americano Barack Obama, a chanceler alemã Angela Merkel e o primeiro ministro britânico David Cameron.
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