31 de março de 2012

A metamorfose de Haddad; ou Sob o signo desta nova divindade, O Marqueteiro

Fernando Haddad 2.0 (Foto: Daniel Teixeira/AE)

Aproxima-se o período eleitoral e, como se sabe, abre-se a temporada de adoração à deidade de nosso tempo: O Marqueteiro.
Quem almeja algum espaço junto aos candidatos não deve jamais, em tempo algum, nunca mesmo, ousar sequer imaginar contestar O Marqueteiro, escrito assim mesmo com a primeira em maiúscula, para frisar sua precedência sobre todos os demais itens e membros das campanhas eleitorais.
É d'O Marqueteiro a primeira e a última palavras sobre o que deve vestir, calçar, comer e falar o candidato. A depender do cliente, O Marqueteiro é mais importante até que o próprio candidato!
O jeito de andar, a forma de apertar as mãos dos eleitores, a presença (ou ausência) da família do candidato na campanha, nada, nada mesmo escapa ao olhar demiúrgico do Marqueteiro.
E como toda deidade, O Marqueteiro tem seus cânones a regulamentar certos procedimentos. Candidato branco, camisa azul; candidato negro, camisa amarela. Terno marrom, nem pensar! Sapato usado, mas não muito gasto!
Tudo isso para, na melhor vertente, atrair o eleitor; na pior, enganá-lo escandalosamente.
Vejam o caso de Fernando Haddad, o moço que por força da vontade de Lula será o candidato petista à prefeitura de S.Paulo pelo PT.

Por ordem de seu Marqueteiro, o conhecido João Santana, emagreceu dez quilos, tornou-se abstêmio e cortou os cabelos algo "garotão-hippie-descolado-de-mais-de-40-anos" que antes usava. Tudo para agradar certas "faixas preferenciais" de eleitores (mulheres, jovens, etc.). Sim, porque O Marqueteiro trabalha com "categorias" estanques. "Mulheres de 25 a 40 anos" ou "jovens de 16 a 24 anos com nível médio", e por aí vai.
Tudo friamente planejado para levar o moço à vitória!
Haddad mudou para ficar diferente do "doce" Gabriel Chalita, candidato do PMDB, aquele favo de mel, cheio de boas ideias e elevados propósitos que adora auto-referência a ponto de escrever duas teses de doutorado tão parecidas que parecem iguais. Não importa se Haddad é incapaz de distinguir Itaim-Bibi de Itaim Paulista! O Marqueteiro está pronto para resolver esse problema!
Neste aspecto, coitado do José Serra. Feio de doer, com um carisma de um saco de batatas e aqueles olhos esbugalhados a saltar das órbitas, o tucano estaria fadado a ocupar um dos últimos lugares na preferência do eleitor.
Mas, como dizia Geraldo Veloso, ex-prefeito de Marabá, eleição não é concurso de miss!
Há que se ter, por mínimo que seja, algum conteúdo.
E o Marqueteiro, esta expressão divina da "mudernidade", entre tantos milagres, ainda não é capaz de transformar, em escala industrial, um saco vazio em uma cornucópia de conhecimento.
Sei que chegará o dia em que até isso será fabricado. Neste futuro sombrio, não precisaremos mais de partidos, eleições, votos, eleitores... Bastará a Pesquisa, expressão maior e razão de ser desta deidade O Marqueteiro!
Felizmente, por ora, ainda vige a principal norma da democracia: um homem, um voto ou cada cabeça, uma sentença. E que cada candidato gaste tempo, saliva e sola de sapato em busca de ganhar o voto de confiança de Sua Excelência, o Eleitor.
Atentai, candidatos! Ter ao seu lado O Marqueteiro é bom, mas não é suficiente. Melhor é ter a capacidade de fazer a boa e velha Política, aquela baseada em articulações, acordos, ideias, pé no chão e povo na rua.

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