6 de março de 2012

Dilma rasga a chita na Alemanha: "Expansão monetária é barreira protecionista e aumenta especulação"

Roberto Stuckert Filho/Presidência da República

Quem as vê assim tão sorridentes não imagina que acabaram de trocar puxões de cabelo, não é?
Mas, foi mais ou menos isso que acabou acontecendo quando Dilma encontrou Angela.
E eu, quem diria, estou com Dilma, neste pito bem dado nas economias centrais que, para debelar a crise decorrente da irresponsabilidade de seus governos, decidiram ser ainda mais irresponsáveis, danaram-se a imprimir dinheiro e saíram a jogar no mercado um quaquilhão de euros, criando uma série de distorções na formação dos preços.

Ontem (5), na Alemanha, Dilma rasgou a chita. Chamou de "tsunami monetário" a injeção de quase 7 trilhões de euros nas economias europeias em crise. Tudo patrocinado pela União Europeia, que é tutelada pela poderosa Alemanha, de Angela Merkel.
Claro, a chanceler não gostou e cobrou de Dilma a redução das barreiras protecionistas brasileiras. Angela disse que "Nós (ela e Dilma) vamos discutir a crise e as preocupações de cada uma. A presidente falou que está preocupada com um "tsunami de liquidez". Do nosso lado, nós estamos olhando onde estão as medidas protecionistas unilaterais".
Dilma logo depois respondeu: “Quando [se] expande nessa proporção, a massa monetária produz dois efeitos, um é a desvalorização artificial da moeda. Porque a desvalorização não artificial da moeda é produzida por ganhos de competitividade das economias domésticas, essa equivale a uma barreira tarifária e todo mundo se queixa de barreira tarifária, de protecionismo, e isso é uma forma de protecionismo”. Dilma completou: “Tem um outro problema sério, cria-se uma massa monetária que não vai para a economia real, ela produz bolha, especulação”.
Dilma defendeu, corretamente, a retomada dos investimentos na Europa, como saída para a crise.
Neste debate é claro que Dilma tem razão. O câmbio artificial é, neste momento, a barreira protecionista mais eficaz e estúpida que pode ser usada. Não é à toa que EUA e China discutem o assunto há quase uma década. Com o câmbio em desequilíbrio, o real valoriza-se frente ao euro e ao dólar, com isso os produtos brasileiros acabam mais caros e perdem mercados. 
Mas, como frisou hoje a economista Miriam Leitão, o Brasil precisa reconhecer que a redução de nossa competitividade é decorrência, também, de problemas domésticos até aqui sem solução. A infraestrutura de transporte, a enorme carga tributária, a insegurança jurídica e a corrupção são mazelas que incorporam o chamado "custo Brasil", reduzem nossa capacidade de oferecer mais e melhores produtos e serviços no exterior e reduzem a força de atração de investimentos internacionais.
Mas, ainda assim, estou com Dilma!
Além do mais, convenhamos, Dilma é um tanto mais bonitinha que Angela. E como sabem, tenho um fraco muito forte pela beleza!
Faço uma única ressalva: Espero que a determinação em defender posições corretas não fique restrita aos confrontos com governos das economias centrais. É exigível que Dilma demonstre a mesma coragem para criticar governos totalitários, ainda que dirigidos por amigos seus ou de Lula, como os da Venezuela, Equador e Cuba, por exemplo. Não adianta falar grosso com a Alemanha, parceiro comercial fundamental do Brasil e falar fino com a Bolívia, por exemplo, que nos rouba instalações industriais sem que seja penalizada.

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