Roberto Stuckert Filho/Presidência da República |
Mas, foi mais ou menos isso que acabou acontecendo quando Dilma encontrou Angela.
E eu, quem diria, estou com Dilma, neste pito bem dado nas economias centrais que, para debelar a crise decorrente da irresponsabilidade de seus governos, decidiram ser ainda mais irresponsáveis, danaram-se a imprimir dinheiro e saíram a jogar no mercado um quaquilhão de euros, criando uma série de distorções na formação dos preços.
Ontem (5), na Alemanha, Dilma rasgou a chita. Chamou de "tsunami monetário" a injeção de quase 7 trilhões de euros nas economias europeias em crise. Tudo patrocinado pela União Europeia, que é tutelada pela poderosa Alemanha, de Angela Merkel.
Claro, a chanceler não gostou e cobrou de Dilma a redução das barreiras protecionistas brasileiras. Angela disse que "Nós (ela e Dilma) vamos discutir a crise e as preocupações de cada uma. A presidente falou que está preocupada com um "tsunami de liquidez". Do nosso lado, nós estamos olhando onde estão as medidas protecionistas unilaterais".
Dilma logo depois respondeu: “Quando [se] expande nessa proporção, a massa monetária produz dois efeitos, um é a desvalorização artificial da moeda. Porque a desvalorização não artificial da moeda é produzida por ganhos de competitividade das economias domésticas, essa equivale a uma barreira tarifária e todo mundo se queixa de barreira tarifária, de protecionismo, e isso é uma forma de protecionismo”. Dilma completou: “Tem um outro problema sério, cria-se uma massa monetária que não vai para a economia real, ela produz bolha, especulação”.
Dilma defendeu, corretamente, a retomada dos investimentos na Europa, como saída para a crise.
Neste debate é claro que Dilma tem razão. O câmbio artificial é, neste momento, a barreira protecionista mais eficaz e estúpida que pode ser usada. Não é à toa que EUA e China discutem o assunto há quase uma década. Com o câmbio em desequilíbrio, o real valoriza-se frente ao euro e ao dólar, com isso os produtos brasileiros acabam mais caros e perdem mercados.
Mas, como frisou hoje a economista Miriam Leitão, o Brasil precisa reconhecer que a redução de nossa competitividade é decorrência, também, de problemas domésticos até aqui sem solução. A infraestrutura de transporte, a enorme carga tributária, a insegurança jurídica e a corrupção são mazelas que incorporam o chamado "custo Brasil", reduzem nossa capacidade de oferecer mais e melhores produtos e serviços no exterior e reduzem a força de atração de investimentos internacionais.
Mas, ainda assim, estou com Dilma!
Além do mais, convenhamos, Dilma é um tanto mais bonitinha que Angela. E como sabem, tenho um fraco muito forte pela beleza!
Faço uma única ressalva: Espero que a determinação em defender posições corretas não fique restrita aos confrontos com governos das economias centrais. É exigível que Dilma demonstre a mesma coragem para criticar governos totalitários, ainda que dirigidos por amigos seus ou de Lula, como os da Venezuela, Equador e Cuba, por exemplo. Não adianta falar grosso com a Alemanha, parceiro comercial fundamental do Brasil e falar fino com a Bolívia, por exemplo, que nos rouba instalações industriais sem que seja penalizada.
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