8 de fevereiro de 2012

"Operação Biópsia" mostra que propinas, desvio de verbas públicas e nepotismo eram comuns na Associação de Combate ao Câncer em Goiás

Cobranças por consultas que deveriam ser realizadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e desvio de dinheiro que tinha como finalidade a compra de medicamentos usados no tratamento de câncer são apenas algumas das fraudes descobertas pelo Ministério Público Estadual (MPE) na gestão do Hospital Araújo Jorge. 
Segundo o site A Redação.Com, as investigações, que duraram mais de seis meses desencadearam cinco prisões e sete mandados de busca e apreensão cumpridos nesta terça-feira (7) e tiveram como alvo a Associação de Combate ao Câncer em Goiás (ACCG), podem encontrar problemas ainda maiores na entidade que gerencia o hospital.
Para o coodenador do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), Denis Bimbati, o tratamento no Hospital Araújo Jorge e na associação oferece atendimento diferenciado para seus pacientes. O retorno de consultas para pacientes atendidos pelo SUS chega a demorar nove meses, enquanto na rede privada o retorno pode ser feito até no mesmo dia. O promotor afirma que algumas denúncias relataram cobranças por fora do plano, para um atendimento mais rápido. Além disso, “vidas podem ter sido perdidas já que o dinheiro público era desviado”, lamenta.
O esquema de corrupção apontado pelo MP funcionava da seguinte forma: funcionários da ACCG eram contratados, com carteira assinada e além disso abriam empresas e se autocontratavam para prestar serviços diversos. Os repasses, por empresa, chegavam a 200 mil por mês. Bimbati diz ainda que uma funcionária contratada há cinco anos, com carteira assinada, mora no exterior. “As denúncias não param por aí, a associação banca ainda a pensão alimentícia de um filho de servidor no valor de R$ 3 mil”, completa o promotor.
De acordo com o MPE, caso as parcerias não existissem, a associação conseguiria fechar o mês sem dívidas, situação bem diferente do que acontece atualmente. Somente para a construção do prédio da ACCG foram gastos mais de R$ 2 bilhões e no local, atendimentos particulares eram feitos e o dinheiro ia para o bolso dos médicos. “Ainda não podemos dizer nomes, mas médicos eram sócios das empresas”, conclui Bimbati.
Para completar a situação, Denis afirma que o nepotismo era uma prática muito comum na associação. “Denominada como instituição filantrópica, a ACCG usava dinheiro público. Pelo menos pela moral, a situação deveria ser diferente.”
A operação no Araújo Jorge foi desencadeada nesta terça-feira pelo MPE em parceria com o Comando de Operações Especiais (COE), da Polícia Militar. No total, 65 homens participaram sendo 40 militares do COE, 15 do Serviço de Inteligência da PM e 10 promotores. Entre os presos, quatro funcionários da administração da ACCG e um empresário. Os nomes ainda são sigilosos já que as prisões são temporárias, de apenas cinco dias.
 De acordo com o Comandante de Missões Especiais, coronel Wellington Urzêda, ninguém precisou ser algemado e nem demonstrou resistência na prisão. Um dos detidos estava indo para Anápolis e voltou de forma voluntária ao ser acionado por um promotor. Até a tarde desta terça-feira, os detidos estavam na sede do MPE prestando esclarecimentos. Em seguida, seriam transferidos para a Casa de Prisão Provisória (CPP). Caso seja necessário, o prazo de cinco dias de prisão pode ser aumentado. Urzeda adianta ainda que outros podem ser detidos até quarta-feira.
Nas residências dos envolvidos foram apreendidos computadores, notas fiscais falsas de medicamentos que teriam sido comprados e outros documentos. “Por meio de tudo que apreendemos descobrimos novas fraudes que até então não sabíamos da existência. Tudo será minimamente analisado”, completa Denis Bimbati.

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