10 de novembro de 2011

"Dilma, eu te amo", disse Lupi, o bravateiro. Dilma, decorosa, não comentou


Depois de dizer que só sairia do cargo "abatido a bala", o ministro do Trabalho, Carlos Lupi, pediu desculpas à Dilma. Em depoimento à Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara, nesta quinta-feira, ele recuou para tentar se manter no cargo – mas cometeu um novo excesso ao tentar agradar a chefe: "Eu gosto de fazer o debate, às vezes exagero", afirmou. "Peço desculpas públicas. Presidente Dilma, me desculpe, eu te amo".
O PDT, partido do ministro, ameaçou abandonar a base aliada caso Lupi fosse exonerado. O ministro bravateiro conseguiu reunir apoio suficiente para isolar os deputados Paulinho da Força e Brizola Neto que lhe fazem oposição interna.
O pedetista também garantiu ter aumentado o rigor sobre repasses a organizações não-governamentais (ONGs) e tentou se descolar das graves revelações feitas por VEJA a respeito da cobrança de propina dentro da pasta: "Se alguém fez algo no Ministério do Trabalho é individual e que pague", disse. O problema é que os desvios eram operados por assessores diretos do ministro – ou seja: na melhor das hipóteses, Lupi não controla nem mesmo os subordinados próximos, o que seria sua obrigação.
Apesar de admitir que pode ter havido irregularidades "na ponta", Lupi garantiu que o PDT nada tem a ver com os desvios: "Corrupção dentro do Ministério do Trabalho, do meu partido, não há. Eu afirmo: não há", declarou. Ele se disse vítima de uma campanha organizada: "Incomoda a muita gente um jornaleiro chegar aonde chegou", afirmou.
Lupi, que falou durante quatro horas, abusou dos auto-elogios, disse que "adora" o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e tentou ainda desqualificar os autores da denúncia: "Duas vozes são de entidades que não receberam dinheiro porque tiveram o pagamento cortado", relatou. O ministro fingiu desconhecer que isso apenas confirma o relato de VEJA, já que o ministério apontava irregularidades para depois cobrar propina para regularizar a situação das ONGs.
O deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO) sugeriu que o ministro se afastasse do cargo: "Não pode pairar sobre a gestão de Vossa Excelência qualquer dúvida", observou. "A honra de Vossa Excelência é maior do que o cargo". Já o líder do PSDB, Duarte Nogueira (SP), criticou a postura do ministro: "Ele fala muito e responde pouco. É um fanfarrão", classificou.
Defesa - Lupi afirmou nesta terça-feira que, se houve desvio de recursos em sua pasta,  eles foram feitos "em nome pessoal". Tentando se segurar no cargo, o pedetista garantiu ter apoio de seu partido e disse que não cogita deixar o cargo – nem temporariamente. Em entrevista concedida nesta terça-feira em Brasília, Lupi declarou:"Para me retirar, só abatido a bala".
Conforme relatos de diretores de ONGs, parlamentares e servidores públicos, o esquema no Ministério do Trabalho funciona assim: primeiro o ministério contrata entidades para dar cursos de capacitação profissional e, depois, assessores exigem propina de 5% a 15% para resolver 'pendências' que eles mesmos criam.
O Instituto Êpa, sediado no Rio Grande do Norte, foi um dos alvos do achaque. Depois de receber, em dezembro de 2010, a segunda parcela de um convênio para a qualificação de trabalhadores no Vale do Açu, a entidade entrou na mira dos dirigentes do PDT. O ministério determinou três fiscalizações e ordenou que não fosse feito mais nenhum repasse à ONG. Ao tentar resolver o problema, os diretores do instituto receberam o recado: poderiam regularizar rapidamente a situação da entidade pagando propina. 
Dilma tentou minimizar nesta quinta-feira o escândalo que assola o Ministério do Trabalho desde que VEJA revelou um esquema de pagamento de propina em troca de convênios com organizações não-governamentais (ONGs). “Não tem crise com o ministro do Trabalho”, afirmou a presidente depois da cerimônia de ampliação do Supersimples, no Palácio do Planalto. “Um líder gaúcho disse o seguinte: 'o passado, passou'”. Essa foi a primeira vez que a presidente falou publicamente sobre o assunto.Dilma preferiu não responder à declaração de amor. “Vocês acreditam mesmo que eu vou responder nessa altura do campeonato?”, questionou aos jornalistas. “Me desculpa”.
(Com informações de Veja.com)

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