Imagine a situação caótica que vive uma empresa na qual o presidente não pode visitar as filiais porque não é bem visto pelos demais gerentes.
Esta é mais ou menos a situação do PSDB no Pará.
A presidência da sigla está nas mãos de Zenaldo Coutinho que, tomado por um surto de "belensismo", decidiu liderar a cruzada contra Carajás.
Com isso as portas do Oeste e do Sudeste do Pará encontram-se devidamente fechadas para o moço.
Nem mesmos caminhões de "miçangas" e "espelhinhos" distribuídos por Jatene seriam capazes de tornar aceitável a presença de Zenaldo por essas plagas.
O resultado é o caos reinante dentro do ninho tucano.
Zenaldo foi eleito presidente com a missão de reestruturar um partido que, acostumado a ser governo, esfacelou-se durante os quatro anos do governo de Ana Júlia.
Aqui, antes de prosseguir, vale a pena um parêntesis histórico.
Os tucanos, desde a época de Almir Gabriel, fizeram a opção preferencial por controlar prefeitos e vereadores, a maioria vivendo com pires na mão sempre à espera dos óbulos que vez por outra os "sinhozinhos" lá de Belém lhes mandavam.
Distantes dos movimentos sociais e sem qualquer consistência ideológica, os tucanos fora do poder viram essas "bases" sofrer um rápido processo de diluição.
Quatro anos depois do "furacão Ana", o campo tucano estava arrasado. Por mais que seja desagradável ouvir, Jatene tem razão quando diz que os políticos vieram a reboque do crescimento de sua candidatura.
Já escrevi aqui no blog e reitero: Jatene não ganhou por suas poucas virtudes; Jatene ganhou pelos muitos erros políticos de Ana e de seu grupo.
O governo de Ana com todos os defeitos, não foi muito inferior ao primeiro governo de Jatene. Portanto, não foi apenas a questão administrativa que apeou o PT do poder estadual. Foi a luta política dentro e fora do PT que o derrotou.
Ana acabou sendo largada no meio do caminho por aliados internos e externos. Diga-se ainda que o instinto de sobrevivência, tão presente entre os políticos, falou mais alto e os fez abandonar o barco de Ana assim que perceberam o perigo de naufrágio.
Ao ganhar as eleições Jatene decidiu construir esse "condomínio" que vemos hoje formado em sua maior parte por partidos que estiveram com Ana.
PMDB, PR e PTB acabaram sendo chamados para formar a tal "base aliada". Essa manobra que visa a atração de novas forças para garantir a "governabilidade" é sempre recomendável, desde que o partido do "chefe" esteja robusto e em condições de impor suas opções dentro do governo.
Ocorre que o PSDB, como vimos, estava em ruínas e sem as condições mínimas para sequer disputar a hegemonia dentro do governo. Basta lembrar que os tucanos conseguiram eleger apenas cinco deputados estaduais, o pior desempenho desde 1994, deixando Jatene sem base parlamentar na Assembleia Legislativa.
O resultado é o que se vê.
O protagonismo do PMDB é reflexo dessa total diluição do PSDB. Tanto é verdade que o próprio governo de Jatene encontra-se a um passo de um confronto aberto com o grupo Maiorana por conta dessa proeminência do partido dos Baralho.
Foi esse o contexto da eleição de Zenaldo para a presidência dos tucanos. Ele teria a missão de estruturar o partido visando as eleições 2012 quando o partido poderia recompor sua base de vereadores e prefeitos. Para isso deveria peregrinar pelo estado inteiro, reorganizando os diretórios, valorizando antigas lideranças, atraindo novos quadros e estabelecendo áreas de atuação para os parlamentares estaduais e federais.
Ocorre que Zenaldo foi tomado pela ambição de voltar a ser candidato à prefeito de Belém e viu na realização do plebiscito sobre a criação de Carajás e Tapajós a chance de assumir um lugar de destaque no jogo que parecia ter apenas Arnaldo Jordy e Edmilson Rodrigues como grandes competidores.
Sem poder transitar nas regiões de Carajás e Tapajós, Zenaldo acabou comprometendo o crescimento do PSDB e pode por tabela comprometer até mesmo as chances de reeleição de Jatene em 2014. Zenaldo não conhecia essas regiões, também não era conhecido fora de Belém e cercanias. Agora mesmo é que não será.
Para tentar diminuir o prejuízo e já pensando no "dia seguinte" ao plebiscito, Jatene decidiu tomar duas providências.
Na esfera administrativa optou por recriar as "Secretarias Especiais", colocando nelas lideranças tucanas com ordens de elaborar novas políticas de governo e acelerar a implantação das já existentes.
No âmbito partidário resolveu criar os Zonais do PSDB no Sudeste e no Oeste, que terão a mesma conformação dos Estados do Carajás e do Tapajós e na prática terão autonomia para organizar o partido nos municípios e encaminhar os pleitos diretamente ao governo, esvaziando o poder de Zenaldo. Trata-se do reconhecimento formal de que Zenaldo "ciscou para fora" e já não agrega o partido.
Foi a fórmula encontrada para tentar dar algum rumo ao voo dos tucanos. Nada garante que terá sucesso.
A verdade é que sem bases sociais ou políticas, passados oito meses o PSDB ainda está longe de assumir o governo junto com Jatene e, graças a desastrada atuação de Zenaldo na presidência do partido, pelo menos dentro do PSDB os Estados do Carajás e do Tapajós já estão criados.
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