31 de agosto de 2011

Kassab diz que Dia do Hetero contraria interesse público ou Em defesa do Dia do Saraiva

Vejam essa (no Globo.com/G1), comento logo em seguida:
"O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, vetou o projeto de lei 294/2005, do vereador Carlos Apolinário (DEM), aprovado em 2 de agosto pela Câmara Municipal de São Paulo, que instituiu na cidade o Dia do Orgulho Heterossexual. Nas razões de veto encaminhadas ao presidente da Câmara Municipal de São Paulo, José Police Neto, Kassab afirmou que o projeto de lei é "materialmente inconstitucional e ilegal, bem como contraria o interesse público."
Kassab afirma mo texto que a ideia de comemorar o Dia do Orgulho Heterossexual e associar a prática à defesa da moral e dos bons costumes significa dizer, por via contrária, que a homossexualidade seria contra a moral e os bons costumes.
"Não é necessário fazer grande esforço interpretativo para ler, nas entrelinhas do pretendido preceito, que apenas e tão só a heterossexualidade deve ser associada à moral e aos bons costumes, indicando, ao revés, que a homossexualidade seria avessa a essa moral e a esses bons costumes", diz o texto.
O veto também diz que o texto da “justificativa” que acompanhou o projeto de lei por ocasião de sua apresentação descreve, em vários trechos, condutas atribuídas aos homossexuais, todas impregnadas de sentimentos de intolerância com conotação homofóbica."
Segundo Kassab, "o projeto parece tão somente instituir e acrescentar mais uma data comemorativa ao calendário de eventos da cidade de São Paulo, o que seria plenamente legítimo, na realidade não se reveste da simplicidade que aparenta ostentar, circunstância que, por certo, explica a sua enorme repercussão, majoritariamente negativa."

Eis-me aqui

Muita calma nessa hora. O assunto é espinhoso e não queremos nos ferir, não é?
Dizer que é o projeto é "materialmente inconstitucional e ilegal" é tolice. Não existe ofensa à Constituição quando o que se pleiteia, essencialmente, é que o Município inclua no seu calendário de eventos um dia em homenagem aos heterossexuais, nos mesmos moldes que a Municipalidade concede aos gays.
Quanto à existência de "interesse público" no caso, concordo plenamente com Kassab. Não vejo nenhum interesse público em louvar-se através de "um dia" a opção sexual de quem quer que seja (lembrem-se, crianças, sexo sempre com camisinha e com o livre consentimento de pessoas que possam da-lo!). Ocorre que, visto ser oferecido aos gays o direito ao "seu dia", como negar aos héteros o mesmo direito? O pau que bate no Chico também bate no Francisco. Em juridiquês chama-se "tratamento isonômico".
Quanto à obrigar a Prefeitura de São Paulo na defesa da "moral e dos bons costumes", não vejo como possa esta formulação apresentar defeito. Ou então devemos considerar a hipótese de que a Prefeitura de Kassab não pretenda defender esses valores, o que é ridículo, porque mesmo aqueles imorais e de péssimos costumes alardeiam que se acham embebidos nas águas puras da moral e dos melhores costumes.
Vejam, caríssimos, que mundo estranho este que construímos.
A discussão toda é estúpida e sem sentido.
Que relevância existe no "dia do orgulho gay"? Nenhuma. Sendo a ideia enfrentar a discriminação e o preconceito, fracassa redondamente. Em certos casos, nas paradas gays que marcam a data, em vista de atos mais heterodoxos praticados pelos manifestantes, é capaz de açular ainda mais a bílis dos reacionários. No mínimo, tais atos são tratados com jocosidade pela maioria da população. Quem lucra com isso é o mercado que "vende" esses eventos de todas as formas possíveis.
Que relevância tem o "dia do orgulho hétero"? Nenhuma. Trata-se da demarcação de um "campo ideologizado", de forma canhestra e rombuda. Nada acrescenta ao processo civilizatório que este País ainda precisa construir. Estabelece diferenças pseudas com base no preconceito e faz uma clivagem social absurda.
Quem lucra com isso são os políticos da direita mais reacionária que ainda rosnam contra as liberdades duramente conquistadas nos já distantes anos 80.
No mundo ideal esses "dias" não precisariam existir. Teríamos todos a consciência de que é muito melhor viver e deixar viver. Que cada homem seja senhor de seu destino, respeitadas as leis e os direitos de todos os demais é o sonho que os verdadeiros humanistas sempre trouxeram consigo.
Infelizmente, não vivemos no mundo ideal. E neste mundo imperfeito Kassab errou feio. Acaba pagando um tributo caro para parecer "politicamente correto" aos grupos de pressão. Para melhorar sua avaliação Kassab não precisa desse tipo de proselitismo. Poderia começar investigando rapidamente e de forma transparente como os cunhados de Geraldo Alckmin puderam sonegar mais de cem milhões de reais bem debaixo de seu nariz ou porque o seu novo partido, o PSD, está sendo acusado de fraude nas filiações que fez com fito de alcançar registro no TSE. Faria assim melhor figura e deixaria que homos e héteros tenham os "seus dias" para celebrar.
De minha parte, entendo como necessário que decrete-se no País inteiro, urgentemente, o "Dia da Tolerância Zero com a Estupidez" que também pode ser chamado de "Dia do Saraiva". Neste dia todos os políticos do Brasil serão obrigados a ficar em silêncio obsequioso e bem longe de suas canetas por 24 horas. Já imaginaram que alívio?

Um comentário:

  1. Essa coisa de dia de hetero e os caras que querem continuar no armario.
    Agora vai precisar de um dia para os caras sairem as ruas gritando palavra de ordem: huhhuhuuu eu sou maço.

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