28 de agosto de 2011

Caos na Saúde - Ofício e suspeita de politicagem complicam ainda mais o caso

Na edição de ontem d'O Liberal reportagem revela que desde o dia 06 deste mês a UTI Neonatal da Santa Casa já operava muito além de sua capacidade. Ofício encaminhado ao Secretário Estadual de Saúde Hélio Franco pela diretora do hospital Maria do Carmo Lobato afirma que naquele dia já estavam internados 114 crianças, sete a mais que a capacidade da unidade. Outros oito aguardavam na sala de parto que leitos fossem liberados, desses quatro estavam entubados.
Já tive oportunidade de comentar este caso aqui em outros posts. Não mudo minha opinião.
É irrelevante saber que as crianças já estavam mortas ao chegar ao hospital. Nada é capaz de elidir o fato de que uma paciente grávida pediu socorro e o Estado literalmente fechou-lhe a porta na cara. Apenas para exercitar os neurônios, digamos que as crianças estivessem vivas ainda quando a mãe procurou auxílio. Considerando que havia ordem para restringir o acesso ao hospital, as crianças teriam morrido e, ainda que atendidas também morreriam uma vez que não havia leito disponível na UTI desde o dia 6 de agosto.
Contudo, não é assim que pensa Hélio Franco. Para ele o caso dos gêmeos não tem relação com o caos no setor que ele administra. Para Franco a culpa é do porteiro, que cumpriu a ordem de fechar os portões e da diretora que deu a ordem. Entenderam? Na cabeça de Franco para que a Saúde no Estado fique perfeita basta repreender o porteiro e exonerar a diretora! Simples assim.

Mas, sempre que um problema complexo recebe uma resposta simples eu ligo meu radar porque a trombada entre o discurso e os fatos é certa.
Franco está revisitando o discurso de ocasião. "Sentimos muito"; "esperemos que nunca mais se repita"; "somos solidários com a perda sofrida por esta família". Apenas frases feitas, capazes de encaixar-se em qualquer situação de crise. Estão na mesma prateleira de "determinei apuração rigorosa dos fatos" e "vamos punir os culpados de forma exemplar". Ou seja, nada mudará.
A coisa fica ainda mais grave quando sabe-se que a mesma paciente foi recusada em outro hospital estadual, o "Gaspar Vianna". Curiosamente, naquele caso não se ouviu falar de qualquer providência contra a diretora do hospital, Ana Lydia Cabeça.
Outra reportagem d'O Liberal afirma que Ana Lydia foi poupada por ter Jáder Barbalho como padrinho.
E assim, o Governo Jatene está perdendo aos poucos a oportunidade de trazer à luz o verdadeiro estado em que se encontra a Saúde Pública em todo o Pará e propor alternativas e soluções.
Momentos de grave crise como esses precisam ser aproveitados. As perdas humanas são irreparáveis, mas o episódio precisa servir ao menos para criar novos protocolos de atendimento, destinar recursos emergenciais para a aquisição de leitos em hospitais particulares, criar programas de médio e longo prazo que redimensionem os gastos na Saúde Pública e, principalmente, investigar a destinação dos recursos públicos nos últimos anos.
Ano passado o Estado gastou pouco mais um bilhão de reais na área da Saúde. Esse dinheiro todo não foi suficiente para impedir que crianças precisem dividir encubadoras nos hospitais públicos e que outros recém-nascidos façam fila no aguardo de leitos. Para onde foi toda essa dinheirama? Quanto foi corretamente aplicado? Quanto foi desperdiçado ou desviado? Quem desperdiçou ou desviou? Quantos estão sendo investigados? Quantos foram punidos?
Era sobre esses problemas (que exigem respostas nada simples) que Hélio Franco deveria se debruçar.
Longe de mim defender a diretora da Santa Casa. Sequer a conheço. Mas, a menos que um laudo psiquiátrico comprove sua insanidade, não imagino porque cargas d'água ela neglicenciaria no exercício das suas funções. O ofício enviado ao Secretário parece vir de alguém preocupado com as graves consequências decorrentes da falta de estrutura em seu local de trabalho.
É muito fácil exonerar servidores sem padrinhos fortes, pedir "mil desculpas" e culpar o porteiro. Basta a caneta cheia de tinta, ter uma boa assessoria de imprensa e muita cara-de-pau  Difícil é ter coragem para enfrentar e resolver os verdadeiros problemas. Enquanto isso, o caos na saúde segue fazendo vítimas.

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