24 de novembro de 2018

PT reúne para avaliar eleição no Pará e decide por participar do governo de Helder Barbalho

Entre os dias 16 e 20 deste mês, os militantes mais graduados do Partido dos Trabalhadores (PT) no Pará, convergiram todos para Belém. A reunião do Diretório Regional da legenda, entre os dias 19 e 20, foi uma das mais concorridas e devidamente antecedida, nos dias 16 e 17 por reuniões das diversas "tendências" (grupos articulados internamente ao partido). Errou feio quem estava achando que o PT se reuniria apenas para lamber suas feridas e gritar por "Lula Livre".

As lideranças petistas trataram de avaliar o desempenho eleitoral do candidato ao governo, o senador Paulo Rocha e das chapas de deputados estaduais e federais da legenda, além de debater qual a posição do partido em relação ao governo de Helder Barbalho (na foto acima) e os desdobramentos nos municípios.

Em relação ao desempenho de Paulo Rocha os petistas avaliam que os poucos mais de 14% dos votos, mesmo sem ser algo espetacular, esteve longe de ser um fracasso. Entendem que batiam-se contra duas potentes máquinas partidárias devidamente azeitadas. Helder, ex-ministro dos governos Dilma e Temer, contava com uma excelente estrutura formada por quase duas dezenas de partidos e Márcio Miranda, presidente da Assembleia Legislativa, era o candidato oficial do governador Simão Jatene. Além do mais, o PT tinha como grande meta a disputa nacional e avalia que teria tido sucesso caso Lula tivesse sido candidato. Haddad, o improvisado candidato petista à presidência, ainda conseguiu muito ao perder de pouco para Jair Bolsonaro.

Mas, os petistas paraenses não ficaram remoendo muito a derrota nacional. Questões muito práticas estão em destaque nesses dias de transição e os petistas foram para outros pontos mais palpitantes.

Em relação aos deputados federais e estaduais, se a legenda não cresceu também não encolheu. Manteve a bancada de três deputados estaduais e dois federais, mesmo resultado alcançado no pleito de 2014. Eventuais críticas foram feitas a alguns candidatos que, em determinados municípios, optaram por apoiar candidatos a governador de outros partidos já no primeiro turno. Mas, na avaliação da maioria isso não foi generalizado e também não interferiu de forma decisiva no resultado final do pleito.

A questão que mais exigiu reflexão por parte dos petistas em Belém foi definir a posição da legenda em relação ao governo Helder. No primeiro turno, apesar de uma ou outra defecção, o PT esteve razoavelmente coeso, mas no segundo turno as diferenças se fizeram notar de forma acentuada. Apesar da maioria da legenda apoiar Helder Barbalho, setores influentes do PT acabaram aderindo à candidatura de Márcio Miranda. O racha impediu, por exemplo, que Paulo Rocha tivesse presença ativa na campanha de Helder no segundo turno, o que gerou certo aborrecimento na campanha do MDB e enfraqueceu o PT nas negociações durante a transição.

As posições apresentadas na reunião iam desde a oposição pura e simples, até a adesão ao governo do emedebista. Alguns chegaram a condicionar o apoio. Queriam que Helder aceitasse alguns pontos programáticos do PT. Porém, triunfou o bom senso. Considerando que não houve apoio formal e integral da legenda a Helder, seria impossível "emparedar" Helder. O emedebista sabe muito bem que o PT tem capilaridade em todo o Estado, no Congresso Nacional conta com votos suficientes para apoiar diversas iniciativas do Governo do Pará (com 20 milhões de reais em emendas individuais e 160 milhões em emendas de bancada, deputados federais podem ajudar bastante uma administração que terá pouquíssimos recursos para investimentos) e na Assembleia Legislativa, apesar de pequena, a bancada petista pode atrapalhar o governo. Por isso, e pela longa convivência mantida com o PT durante os governos Lula e Dilma, o MDB parece disposto a contar com os petistas.

A questão é até onde pode ir essa disposição do MDB de Helder.

Em um primeiro momento, a EMATER chegou a ser sugerida, mas foi delicadamente rejeitada. Deixada em situação de penúria pelos governos de Jatene, a empresa nem de longe poderia atender aos interesses dos petistas. Técnicos da EMATER avaliam que serão necessários pelo menos quatro anos de investimentos crescentes no órgão para colocá-la em condições razoáveis. Por outro lado, a Secretaria de Aquicultura, Pesca e Produção Rural (SEMPROR) é considerada muito mais interessante.

Em relação à SEMPROR dois problemas aparecem. Em primeiro ligar, ainda não se tem certeza se a atual estrutura da secretaria será mantida, sendo possível que ela volte a ser desmembrada para dar lugar a outros aliados e, em segundo lugar, setores dos produtores rurais que apoiaram Helder também reivindicam a secretaria. Esse impasse somente será resolvido nos próximos dias, quando Helder começar a anunciar seu secretariado.

Tendo decidido que nada impede a participação no governo, os petistas escalaram um de seus melhores articuladores para representar o partido nas conversas com Parsifal Pontes, coordenador-geral da equipe de transição e com o próprio Helder. Tem sido de Beto Faro, deputado federal reeleito, a responsabilidade de conduzir as negociações. Considerado um petista "orgânico" e com boa experiência em negociações delicadas, Beto precisará conseguir algum espaço capaz de abrigar representantes das principais "tendências", de preferência em uma secretaria de alguma expressão, mas isso parece razoavelmente possível neste momento.

Em relação à ocupação de espaços estaduais nos municípios, já visando o fortalecimento da legenda para as eleições municipais de 2020, o PT sabe que será algo bem mais complexo. As nomeações para cargos estaduais nas cidades do interior passarão necessariamente pela ponderação em torno das lideranças com inserção em cada localidade. Prefeitos, vereadores, deputados estaduais e federais que apoiaram Helder, haverão de ser ouvidos e cheirados em relação a esses cargos. Assim, pelo menos de início será difícil imaginar petistas ocupando cargos em cidades importantes como Parauapebas e Marabá, por exemplo.

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