O secretário de Educação Básica do Ministério da Educação, César Callegari, admitiu hoje que o ensino médio do País enfrenta dificuldades que vão desde a formação dos professores até a qualidade do material didático. Segundo ele, essa etapa de ensino teve grandes avanços nos últimos anos, principalmente relacionados à ampliação dos índices de acesso, mas ainda precisa de melhorias de qualidade.
“A imensa maioria professores do ensino médio tem hoje curso superior, o que é um avanço. Mas muitos deles não têm a habilitação especifica para a matéria que lecionam. Em algumas matérias, ainda há deficit de docentes. Em química, física e matemática, por exemplo, faltam 170 mil professores”, afirmou o secretário à Agência Câmara, que também disse que o Ministério da Educação (MEC) vem adotando medidas de estímulo à formação desses profissionais.
Já a qualidade do material didático oferecido aos alunos, segundo Callegari, deverá melhorar já a partir do ano que vem, pois o MEC passará a exigir que os conteúdos teóricos e os exercícios de cada disciplina sejam articulados entre si. Ou seja, um exercício de física poderá abordar aspectos filosóficos, um texto de história poderá tratar de gramática, entre outras possibilidades.
A mudança vai ao encontro da proposta do Conselho Nacional de Educação já anunciada pelo MEC de reunir as atuais 13 disciplinas do ensino médio em quatro grandes áreas. César Callegari fez questão de esclarecer que a medida não deve diminuir a carga de estudo dos estudantes nem a quantidade de disciplinas. “A cada dia que passa, o mundo produz mais conhecimento, e não podemos pensar que o jovem brasileiro tem de ter menos conhecimento que o colega dele, que é norte-americano, coreano, chinês ou francês”, argumentou.
Para a deputada Dorinha Seabra Rezende (DEM-TO), no entanto, a medida é um “atropelo”. “Não adianta produzir um material integrado se os professores não terão como utilizá-lo, já que hoje a formação é basicamente de especialistas. A tendência é que o material seja subutilizado”, alertou.
Dorinha e Callegari participaram da primeira audiência pública da comissão especial de reformulação do ensino médio da Câmara, que deve realizar outros encontros, além de seminários em todo o País. O objetivo é chegar a uma proposta de mudança do atual modelo de ensino. Segundo o presidente do colegiado, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG), o grupo deverá concluir o projeto em até seis meses.
Na audiência, Callegari também voltou a afirmar que o MEC pretende substituir a Prova Brasil pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para o cálculo do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). A justificativa é que o exame atual é feito de forma amostral. Em 2011 foram 70 mil inscritos, por exemplo. Já o Enem foi prestado por 1,5 milhão de estudantes.
O anúncio da medida já havia sido feito em agosto, logo após a divulgação dos resultados do Ideb de 2011. Entre 2005 e 2009, o Ideb alcançado pelas escolas públicas passou de 3,1 para 3,4, em uma escala que varia de zero a dez. Mas a nota parou de evoluir a partir de 2009. Além disso, em nove estados (Acre, Maranhão, Espírito Santo, Pará, Alagoas, Paraná, Paraíba, Bahia e Rio Grande do Sul), o ensino médio chegou a retroceder em comparação com 2009.
O presidente do Instituto de Ensino e Pesquisa (Inep), Luiz Cláudio Costa, que participou da reunião de hoje, afirmou que a mudança não deve interferir no resultado geral do Ideb. “A questão é conseguir fazer modificações na prova de forma que ela possa avaliar com precisão também a escola. Hoje, o foco do Enem está no aluno. Estamos estudando como fazer essa mudança” disse.
Para Dorinha Seabra Rezende, que é uma das vice-presidentes da comissão especial do ensino médio, a medida só terá bons resultados se o governo conseguir integrar o currículo das escolas ao que é cobrado hoje no Enem. “Hoje, o ensino médio tem uma lógica e o Enem tem outra. Se as matrizes curriculares não forem acopladas, o ensino médio pode virar somente um cursinho preparatório de vestibular”, alertou.
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