17 de novembro de 2012

Mais esperança e menos sofrimento, pede Dilma à países europeus


Na Folha de São Paulo, hoje (17):
A presidente Dilma Rousseff cobrou neste sábado dos parceiros europeus, em especial de Espanha e Portugal, que abram "um horizonte de esperança" para suas sociedades, em vez de oferecer "apenas perspectivas de mais anos de sofrimento".
A crítica da presidente às políticas de rigor fiscal, quando excessivas e generalizadas, foi feita na primeira sessão plenária da 22ª Cúpula Iberoamericana, na presença de quatro chefes de Estado/governo de países que estão fazendo exatamente o contrário do que prega Dilma: Anibal Cavaco Silva e Pedro Passos Coelho, presidente e primeiro-ministro de Portugal, Mariano Rajoy e Juan Carlos 1º, presidente do governo e rei da Espanha, respectivamente.
A presidente demoliu, ponto a ponto, a política hoje hegemônica na Europa. Começou citando "os enormes sacrifícios" impostos a esses países, na forma "de reduções de salários, desemprego e perda de benefícios".
O pior, para a presidente, é que tais sacrifícios não estão dando os resultados desejados. Ao contrário, está havendo "crescimento do deficit fiscal, e não sua redução".
Na verdade, o que está crescendo em países sob regime de austeridade é a dívida pública. O deficit cai, mas não está sendo reduzido na proporção desejada, tanto que vários países já abandonaram a meta de chegar a curto prazo a um déficit de 3% do PIB (Produto Interno Bruto).
Dilma insistiu em que a "contração fiscal exagerada" não só "não é a melhor resposta" como pode agravar a recessão -precisamente o que está ocorrendo tanto em Portugal como na Espanha, entre outros países europeus.
Os números divulgados na quinta-feira pela Comissão Europeia mostram, de resto, que os 17 países da eurozona voltaram à recessão, com uma queda de 0,1% no terceiro trimestre, na comparação com o trimestre anterior, depois de um retrocesso de 0,2% no segundo trimestre.
Dilma recorreu ao exemplo da América Latina quando da primeira cúpula iberoamericana, em 1991. "Os governantes de então, aconselhados pelo Fundo Monetário Internacional, acreditavam, erradamente, que apenas com drásticos e fortes ajustes fiscais poderíamos superar com rapidez as gravíssimas dificuldades econômicas e sociais nas quais estávamos mergulhados. Levamos assim duas décadas de ajuste fiscal rigoroso tentando digerir a crise da dívida soberana e a crise bancária que nos afetava e, por isso, neste período, o Brasil estagnou, deixou de crescer e tornou-se um exemplo de desigualdade social".
A receita de Dilma é, obviamente, crescimento, sempre seguindo o exemplo latino-americano dos anos 90: "Nossos esforços só resultaram em solução quando voltamos a crescer".
Engatou então com a previsível autopropaganda: "Pagamos a dívida externa e acumulamos quase US$ 380 bilhões de reservas e mudamos nosso modelo de desenvolvimento, ao compatibilizar crescimento econômico, contas públicas robustas, controle da inflação e distribuição de renda".
Dilma lembrou ainda um ponto particularmente complicado para Espanha e Portugal, ao dizer que as medidas adotadas "não afastam a desconfiança dos mercados e, mais importante ainda, não afastam a desconfiança das populações".
De fato, um dia antes da chegada da presidente a Cádiz houve greve geral seguida de gigantescas manifestações em toda a Espanha e, com menor intensidade, também em Portugal. Dilma lembrou que "o Brasil tem implementado medidas de estímulo econômico sem comprometer a prudência fiscal", mas nem por isso deixou de ser atingido pela crise, "através da redução dos mercados internacionais".
Sobrou uma crítica também para a Alemanha, o país que determina a rigidez das políticas adotadas pela Europa, embora não haja menção nominal a ela. Disse Dilma que é urgente que "os países superavitários também façam a sua parte, aumentando seu investimento, seu consumo, e importando mais".

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