A Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) apuram denúncias de enriquecimento ilícito de José Francisco das Neves, o Juquinha, ex-presidente da Valec, empresa pública federal responsável pela construção de ferrovias no país. Segundo a investigação, o patrimônio do engenheiro civil, preso na manhã de quinta-feira (5) durante a Operação Trem Pagador, saltou de cerca de R$ 500 mil para R$ 60 milhões, em 14 anos.
Em entrevista na quinta-feira, o procurador da República Hélio Telho disse que o patrimônio de Juquinha é incompatível com o salário que recebia na Valec. Questionado sobre o valor do salário, ele respondeu apenas que seria menos de R$ 20 mil.Parte do patrimônio estaria em nome de familiares de Juquinha e de uma empresa do filho. Entre os imóveis listados pelo delegado da PF Eduardo Teles, responsável pelas investigações, estão três casas em um condomínio de luxo em Goiânia e fazendas em Goiás e Tocantins.
“Os familiares não exerciam atividade econômica que justificasse o patrimônio”, alegou o delegado. Os bens da família estão bloqueados. A suspeita é que eles tenham sido adquiridos com dinheiro desviado da Valec, por meio de sobrepreço na compra de material e contratação de serviços para a construção da Ferrovia Norte-Sul.A suspeita de superfaturamento teve início no trecho 4 da obra, entre os municípios goianos de Santa Isabel e Uruaçu. De acordo com as investigações, houve subcontratação irregular de empresas. Os serviços de terraplanagem e a colocação de dormentes estariam superfaturados. A PF estima que o prejuízo aos cofres públicos gire em torno de R$ 100 milhões.
Na manhã de quinta-feira, PF e MPF deflagraram a Operação Trem Pagador. Cerca de 70 policiais cumpriram quatro mandados de prisão temporária, sete mandados de condução coercitiva, 14 mandados de busca e apreensão e sequestro de 15 bens imóveis em seis municípios de Goiás e duas cidades de São Paulo.
Além de Juquinha, foram presos a mulher dele, o filho e um sócio do filho. Se os indícios forem confirmados, ele deverá responder pelos crimes de formação de quadrilha e lavagem de dinheiro.
O advogado do suspeito, Eli Dourado, afirmou que entrararia com habeas corpus ainda na quinta-feira, mas depois de visitar o cliente na sede da PF, em Goiânia, disse que entrará com o recurso nesta sexta-feira (6).
De acordo com Dourado, não há provas contra ele. "Todas as vezes que ele foi solicitado, compareceu ao Ministério Público." Para o defensor, a prisão é "injusta, descabida e espetaculosa".
No ano passado, Juquinha foi afastado do cargo, no Ministério dos Transportes, após denúncias de sobrepreço na construção da Ferrovia Norte-Sul. Nos últimos oito anos, a Valec, a estatal que cuida das ferrovias no governo, acumulou denúncias de mau uso do dinheiro público. Durante este tempo, a empresa foi comandada por Juquinha.
Em julho de 2011, o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento (PR-AM), deixou o cargo após denúncias sobre um suposto esquema de superfaturamento em obras envolvendo servidores da pasta. A crise se agravou após suspeitas de que o filho do ministro tenha enriquecido ilicitamente em razão do cargo do pai.
Juquinha das Neves é o atual presidente regional do PR em Goiás. Ele já exerceu mandato de deputado e é ex-presidente da Companhia Energética de Goiás (Celg).
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