Na sexta-feira (6), Ismael de Sousa Guimarães, mototaxista, acabou falecendo depois que colidiu (literalmente) com um micro-ônibus da Central das Cooperativas de Vans.
No mesmo dia, os mototaxistas protestaram interditando ruas, promovendo o caos e, por muito pouco, novas mortes não ocorreram.
Os mototaxistas foram em busca do motorista do micro-ônibus. Como não o encontraram, atearam fogo no veículo às proximidades do Cemitério Municipal de Parauapebas, na rodovia Faruk Salmen.
A explosão de violência fez o sistema de segurança se mexer. O delegado Antônio Miranda acabou convocando mototaxistas e vanzeiros para uma reunião hoje (9). Miranda dirá aos mototaxistas e vanzeiros que não pretende deixar impune os crimes que foram praticados. Sobre o incêndio criminoso Miranda já disse que os responsáveis estão sendo identificados e serão responsabilizados pelo crime. Está certíssimo.
Mas, está claro que um dos maiores desafios do futuro prefeito de Parauapebas é ordenar o transporte de passageiros. Com mais de 250 mil habitantes e recebendo quase 100 famílias por dia, a cidade precisa pensar seu futuro a partir de conceitos como mobilidade e acessibilidade. Motos e vans, ainda que possam suprir de forma crítica a demanda atual, são incapazes de atender com eficiência uma cidade que não para de crescer. A crise atual reflete isso e exige das autoridades municipais um tratamento imediato, no sentido de conter os ânimos dos mais exaltados e restaurar o império da Lei. Mas, é preciso ter uma visão estratégica capaz de projetar um sistema de transporte que priorize o passageiro e garanta ao cidadão pagador de impostos acesso a um transporte coletivo decente que, com certeza não será feito por motos ou vans!
Por muito tempo tenho acompanhado a discussão em torno deste assunto.
Entre os que defendem a utilização de motos e vans como meios de transporte de passageiros, ouço sempre o argumento da "geração de empregos" para motoqueiros, motoristas e cobradores. Suprimidos estes "serviços", teríamos uma horda de desempregados. Tais "serviços" cumpririam assim uma "função social".
Este argumento não se sustenta.
De cara, ninguém escolhe ser "mototaxista" ou "vanzeiro". São as contingências da vida e a necessidade de prover "o de comer" que os levou a exercer estas funções. Podem, portanto, encontrar outra atividade que possam exercer sem colocar em risco a vida (própria e de terceiros).
Por outro lado, quando muito estas "categorias" somam duas mil pessoas atendendo de forma incrivelmente ruim as demais 248 mil que, direta ou indiretamente, precisam dos serviços de transporte de passageiros. Estabelece-se, assim, uma espécie de "subversão" do princípio democrático da afirmação da vontade da maioria: dois grupos pequenos, mas fortemente organizados e muito barulhentos, fazem refém uma comunidade inteira, impõem sua agenda e nos obrigam a todos na aceitação de seus termos, seja no que diz respeito à qualidade e preços dos serviços que prestam, seja nos métodos que utilizam para reivindicar.
Qualquer que seja o vencedor do pleito de outubro deste ano, não poderá evitar confrontar estes interesses corporativos caso queira beneficiar de forma efetiva o conjunto da sociedade. De uma certa maneira, o próximo prefeito de Parauapebas precisará escolher se governará para o cidadão, o eleitor, o homem-átomo, o sem-partido, o contribuinte ou para os grupos de pressão. Uma escolha que parece óbvia, mas que nem sempre é feita de forma acertada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário