7 de fevereiro de 2012

Omissão do Estado e burocracia destroem a floresta e matam os homens na Amazônia


Graças mais uma vez ao amigo e blogueiro Wanterlor Bandeira, pude ler o excepcional texto da bela Eliane Brum, jornalista e documentarista das boas, que mostrava a saga de dois lavradores que denunciaram a exploração ilegal de madeira em áreas de proteção ambiental na Amazônia. Um está morto e outro foge dos bandidos que denunciou.
Eliane Brum volta à carga e mostra que a inação das autoridades brasileiras é objetivamente cúmplice dos crimes ambientais e oferece a cabeça dos denunciantes em uma bandeja de prata aos seus algozes. Um troço de assustar qualquer um.
Na matéria publicada na revista Época desta semana, vê-se que o Ministério Público Federal (MPF), tão ativo quando o assunto é combater Belo Monte (um tema que renda manchetes internacionais), é omisso na hora de combater o roubo de madeira nobre que sustenta os "bacanas" da Pauliceia. Vê-se também que o ICM-Bio, que sempre dá as caras para justificar sua "grande preocupação com a preservação ambiental", punindo micro e pequenos produtores rurais, afirma que não tem responsabilidade alguma na solução do caso. Por fim, o que não se vê é saída para o problema.
A reportagem de Eleiane Brum mostra que pratica-se o jogo mais popular do Brasil, o "jogo de empurra", no qual as autoridades de diversas esferas mandam o problema de uma lado para o outro sem solução visível.
A questão da exploração comercial e sustentável da Amazônia é, sem dúvida, complexa. Mas, está longe de ser insolúvel. Bastaria que Governo Federal, Estados e Municípios estivessem em sintonia no sentido de coibir abusos e proteger os elos mais fracos da sociedade amazônida, por um lado; e em outra vertente, apresentassem um projeto viável de desenvolvimento para o micro e pequeno produtor rural da Amazônia que desestimulassem a prática de atividades criminosas.
Dou como exemplo um projeto do Governo do Estado do Pará criando na gestão da ex-governadora Ana Júlia Carepa (PT) e que o atual governador Simão Jatene mantém. Trata-se do Pará Rural. Com recursos do Banco Mundial, dispõe de mais de US$ 100 milhões para financiar projetos de investimentos produtivos (PIP's) coletivos. Os juros são mínimos e, a depender do caso, inexistentes. Os prazos são dilatados, podendo chegar a dez anos para pagar. Tudo parece muito bom, não é?
Não, não é!
A burocracia é tão grande, as exigências são tantas e a falta de costume do colono amazônida com o crédito coletivo é tão absoluta que, passados três anos desde a implantação do programa, menos de 15% dos recursos chegaram realmente nas mãos dos produtores. Para se ter uma ideia, no anos passado todo, apenas 14 PIP's foram aprovados pelo Pará Rural em todo o Estado!
Convenhamos, assim fica difícil manter a floresta em pé e os colonos vivos!
Está claro, queridos. O que destrói a floresta não é o fogo ou a moto-serra. O que mata os lavradores da Amazônia não são as balas dos pistoleiros. 
O que destrói a mata e mata os homens é a omissão e a burocracia de um Estado ausente e, em última análise, cúmplice da criminalidade que sustenta as elites econômicas do País.





 

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