27 de dezembro de 2011

No debate sobre crescimento econômico não há lugar para desdém

Tucanos e petistas andam se estranhando nas páginas dos jornais e na web. Os dois grupos que de tão parecidos um com o outro, nunca se deram muito bem, agora ameaçam ir às vias de fato.
Tudo por conta da nova classificação do Brasil no ranking das maiores economias do mundo. A "Pátria Amada" alcançou o 6º lugar e ultrapassou a Grã-Bretanha. A última vez que havíamos frequentado o "clubinho" dos 10+ foi há quase quarenta anos, durante o "Milagre Brasileiro" comandado por Delfim Neto, durante a Ditadura Militar. Depois disso, o Brasil andou vagabundando por aí e chegou a cair para o 20º lugar, abatido pela combinação perversa de inflação e recessão na década de 80.
Mas, por que brigam estrelados e bicudos?
Nota-se um certo despeito dos tucanos. "É, estamos em 6º na produção de riquezas, mas somos o 84º no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH). Devíamos nos envergonhar!", diz a tucanada.
No lado da turma da estrelinha, permeia o ufanismo. "O Brasil está em boas mãos. Nas mãos do 'povo brasileiro'", diz a propaganda oficial. Já a propaganda do PT mostra como tudo está melhorando graças, claro, ao engenho e às artes dos petistas.
Quem quebrou um tanto esta escalada entre o despeito e o ufanismo foi o sempre ponderado Guido Mantega. Mostrou, ontem, que ainda levará um certo tempo para, mantidos os fundamentos econômicos e os índices de crescimento, alcançarmos "padrões europeus" de desenvolvimento humano. Aliás, Mantega, seguindo a recente tradição brasileira, lembra Malan e Palloci. Condução econômica sem trancos ou "planos mirabolantes".
Ontem, o que se via era uma "guerra" de propaganda.
Hoje, gente mais responsável como Miriam Leitão, tratou de colocar as coisas em seu devido contexto.
Devemos comemorar?
Claro! E muito!
A capacidade de gerar riqueza do Brasil jamais foi questionada. A discussão era se poderíamos fazer isso de forma constante. A resposta está aí. Sim, podemos!
O governo fez a sua parte. Controlou a inflação, manteve câmbio flutuante, independência do Banco Central e política de responsabilidade fiscal agressiva como os pilares da economia. O mercado fez o resto.
Milhões de pessoas foram trazidas para o mercado de trabalho e, por decorrência, para o mercado de consumo. Em menos de duas décadas, a política econômica iniciada com FHC e aperfeiçoada sob Lula e agora Dilma, foi capaz de tirar da extrema pobreza quase dois terços dos 50 milhões de miseráveis brasileiros. Não é pouco. Portanto, não há lugar para desdém.
Por outro lado, o desafio agora é, acima de tudo, o que fazer para manter o País no topo. Dentro em breve ultrapassaremos a França, mas seremos superados pela Índia.
Não por coincidência, a Índia vem investindo há pelo menos 15 anos na chamada "economia do conhecimento"! Forma uma legião de mestre e doutores todo ano.
E aí está o grande gargalo que limita o crescimento brasileiro. A precariedade da educação no País é flagrante. Trata-se de uma crise perene no âmago do próprio sistema de ensino. Diz-se que gastamos pouco com educação. É verdade. Mas, é verdade também que gastamos mal.
A forma de compartilhar responsabilidades entre União, Estados e Municípios na educação, tem se mostrado ineficiente.
A ausência de um currículo mínimo nacional no ensino fundamental gera enormes discrepâncias entre estados, entre cidades de um mesmo estado e entre escolas de uma mesma cidade.
O salário dos professores, escorados no Piso Nacional, é constantemente ignorado pelos governadores e prefeitos. Recentemente, o governador do Pará alegou que "quebraria" o Estado caso pagasse R$ 66 de aumento para cada professor. Apesar de haver uma determinação do Supremo Tribunal Federal para que seja integralizada essa diferença, não se cogitou qualquer punição ao governante. Ora, norma sem sanção é inócua. Assim, o discurso de "todos pela educação" fica valendo só até a página três!
Elevar o investimento em educação é preciso, mas é preciso ter coragem para propor novas formas de organizar o ensino.
É isso ou o crescimento econômico será efêmero, fruto mais de acaso e sorte que de esforço e engenho. Reformar a educação brasileira é muito mais importante e complexo que, por exemplo, reformar a política brasileira. Será obra para ser executada por muita gente. A família e os profissionais da área precisam envolver-se, mas está claro que será do Governo Federal que devemos ver o primeiro sinal de que o assunto agora será prioridade para valer.
Por fim, seria profundamente injusto não colocar na lista de responsáveis por esse fabuloso desempenho os agentes econômicos brasileiros. Produtores rurais, industriais, prestadores de serviços, comerciantes e banqueiros fizerem o dever de casa. Aprendemos com os anos de inflação a fazer "economia de guerra", enxugando custos, incorporando novas ferramentas gerenciais, buscando formas novas de fazer, enfim, o "País do Futuro" deixar para trás o estigma de "País Sem Futuro" que quase nos abateu.
Por tudo isso, tucanos e petistas deveriam fazer as pazes. São "quase-irmãos"! Está provado que dar seguimento ao que presta e reparar o que tem defeito é melhor que colocar abaixo a casa.
Viemos muito bem até aqui, mas é preciso perseverar gerando empregos, distribuindo riqueza e, principalmente, formando uma nova geração de cidadãos plenos em conhecimentos e direitos. Eis aí a agenda para os próximos 20 anos!
Portanto, não há tempo para desdém. Temos muito a fazer.

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