12 de novembro de 2011

No Rio, PM marca hora para invadir favela. Isso adianta?

Logo mais começa a "ocupação" com hora marcada da polícia do Rio na Rocinha, uma das maiores favelas do mundo.
A ação terá a cobertura midiática extrema que esses atos costumam receber, mas o distinto público tem o direito de perguntar: E isso adianta?
Infelizmente, esses atos espetaculares, feitos para gerar manchetes positivas para o governador Sérgio Cabral e imagens para telejornais têm pouca eficiência.
O tráfico e as milícias continuam a operar com liberdade mesmo nas favelas que receberam as tais Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs).
Isso acontece, fundamentalmente, porque até hoje não foi possível construir uma estratégia de segurança que torne dispensável a prisão de bandidos, grandes ou pequenos. Nem os sempre criativos cariocas conseguiram bolar um jeito de reduzir criminalidade sem prender traficante. E isso essas operações ainda não fizeram.

Dias atrás, a Polícia Federal prendeu um dos figurões do narcotráfico no Rio. As fotos do bandido encolhido no porta-malas de um carro correram mundo. Mas, a captura de "Nem da Rocinha" não consegue esconder o fato que, no Rio, a PM prende pouco. Enquanto isso, para reduzir seus índices de violência, precisa recorrer a falsificações de estatísticas.
No Rio, além de entrar na favela (os politicamente corretos chamam de "comunidade"), é preciso desmobilizar o exército do tráfico que tem óbvias ligações com a banda podre da PM carioca e não permitir que a criminalidade migre para outros bairros. Da última vez, no morro do Alemão, ficaram famosas as imagens de bandidos correndo para outras "comunidades". Só a polícia carioca não sabia da existência daquela rota de fuga. Assim, convenhamos fica difícil levar a sério esse tipo de operação que além de colocar em risco a vida de policiais e moradores, nada acrescenta à segurança pública. Assemelha-se em tudo à inglória tarefa de enxugar gelo.
Em São Paulo, o enfrentamento segue outra linha.
Ações menos espetaculares são realizadas todos os dias pela Polícia Militar que mais prende bandido no País. Os números de homicídios em São Paulo despencaram de 20 por cem mil habitantes no início desta década, para menos de 9 por cem mil ano passado. Sem precisar recorrer à maquiagem. Um feito e tanto.
Outros estados vêm optando pela estratégia paulista. O problema (sempre tem um problema, não é?), é que prender marginal custa caro. Demanda recursos humanos e financeiros que, quase sempre, estão longe do alcance dos governos estaduais.
O Pará é um exemplo disso.
Não se pode negar que existe disposição da cúpula da Segurança Pública paraense para botar a tropa na rua a prender bandidos. Ocorre que, mesmo se o Pará fosse tão "pujante" e "rico" como quer a propaganda anti-desenvolvimento da "Turma do Não-Não", ainda sim precisaria de mais recursos para seguir prendendo marginais.
Era neste ponto que deveria entrar o Governo Federal.
Uma política de segurança pública que merecesse o nome deveria prever investimentos maciços em parcerias que envolvessem a Polícia Federal, os serviços reservados das Forças Armadas e as Polícias Estaduais.
Mas, isso não acontece.
Sem um política de segurança pública nacional, o combate à criminalidade depende da vontade, disposição, capacidade operacional e estratégica de cada governo estadual. Como as desigualdades entre os estados são enormes, são enormes também as dificuldades que encontram para garantir a segurança dos pagadores de impostos.
Nos Estados Unidos, antes do "11 de setembro", cada agência de segurança operava de forma segmentada. Assim, algumas tiveram acesso a informações que, caso tivessem sido reunidas e analisadas em conjunto, teriam evitado o ataque ao WTC. Lá, eles costumam aprender com seus erros. Unificaram procedimentos, passaram a compartilhar informação, mudaram a legislação e passaram a operar com níveis mais confiáveis de análise de risco.
A isso dá-se o nome de Inteligência.
No Brasil, ainda existem rivalidades tolas mesmo entre as polícias civil e militar de cada Estado, a PF se recusa (com motivos ou não) em compartilhar informações com outros órgãos de segurança e o Governo Federal com a velocidade de um cágado distribui caraminguás para financiar a Força Nacional de Segurança, uma tropa de difícil mobilização, manutenção dispendiosa e de eficiência restrita.
A isso dá-se o nome de estupidez.
Toda vez que vejo a polícia agir torço para que dê certo. Seja no campus da USP, na Pratinha, no Bairro da Paz ou na Rocinha, jamais vou torcer pelos bandidos.
Mas, a verdade é que a cada ação de seu Cabral no Rio de Janeiro fico com a sensação de que ele pretende continuar enxugando gelo e, o que é pior, ele está adorando fazer isso e não dá sinais de que irá mudar a estratégia.

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