Vejam lá.
Sou informado pelo ótimo Blog do Estado que afinal Lúcio Flávio Pinto resolveu participar do debate sobre a criação dos Estados de Carajás e Tapajós.
Antes de seguir, um parêntese. Costumo ler o que Lúcio Flávio escreve. Apesar da sua postura um tanto “palmatória do mundo” na linha do se “hay gobierno, soy contra”. Acho meio farisaica e infantil essa posição. Governos, como pessoas e empresas, erram e acertam. É do jogo. É da vida. Quem, como nós, pretende entender e analisar os fatos precisa estar pronto para aplaudir ou criticar. O exercício da “lapidação” deixo aos fundamentalistas islâmicos dos quais quero distância.
Mas, voltando a Lúcio e seu texto...
Lúcio coloca-se claramente contrário a Carajás e Tapajós.
Li com atenção a longa peroração e vocês podem ler a íntegra aqui.
Ressalto apenas alguns tópicos que acredito mereçam grandes ressalvas.
Como sempre ele vai de vermelho e eu de preto.
Ficou longo (como sempre), mas confio que vocês não perderão nada em lê-lo.
Boa leitura.
Lúcio - Argumentos em favor da separação se sustentam em quase obviedades: o Pará é grande demais; Belém já demonstrou sua incapacidade para bem administrar as áreas mais distantes do Estado; e cada uma dessas partes formou identidade própria, seja pela migração intensa (caso de Carajás) como por uma aspiração secular (o Tapajós), que se realizou apenas pela metade, quando o país admitiu a autonomia da parcela ocidental da Amazônia, com a criação da província do Rio Negro (depois Estado do Amazonas, a seguir subdividido em Roraima, Acre e Rondônia, enquanto do Pará nascia o Amapá).
Eu – No debate Lúcio pretende transformar CONSTATAÇÕES FACTUAIS em “obviedades”. A manobra é necessária para tentar tornar menos legítima a reivindicação. Manobra astuta, mas que não se sustenta. O gigantismo do Pará é APENAS UMA DAS RAZÕES QUE FUNDAMENTAM A CRIAÇÃO DOS NOVOS ESTADOS; Quanto à incapacidade de Belém e sua “elite” (da qual faz parte Lúcio Flávio ou pelo menos dela tornou-se porta-voz), isto comprova-se todos os dias nas duas regiões. Tornam-se “obviedades” desprezíveis apenas para quem, como Lúcio Flávio vive à sombra das mangueiras, almoçando no “restô refrigerado” da Assembleia Paraense trocando tapas com o clã Maiorana que por sinal apóia a manutenção desse Pará “grande” e incompetente.
Quanto à “aspiração secular” do Tapajós, esta afirmação está no texto como um “canto de sereia” que tem a pretensão de iludir os tapajoaras. Lúcio repercute apenas um discurso que começa a ganhar corpo em Belém sobre ser “legítimo” o desejo dos tapajoaras. Desse raciocínio malandro decorre que constituir Tapajós é “legítima aspiração”; já construir Carajás seria um crime. A visão patrimonialista das elites belenenses não deixa por menos: Trata-se de criar uma cisão na união de esforços entre Carajás e Tapajós, vendendo o peixe estragado segundo o qual Belém apóia Tapajós contra Carajás, obrigando Tapajós à reciprocidade. Uma rematada tolice que merece ser sempre refutada.
Lúcio - Uma questão grave se transformou em disputa de geral de campo de futebol e extensão das medíocres disputas excaramuças (sic) paroquiais.
Eu - Está perdoado o lapso do jornalista na grafia de ESCARAMUÇAS. O resto do raciocínio, não. Quanto à rasa discussão até então mantida, isso deve-se à elite belenense que Lúcio, apesar de esmurrado por ela, defende. Quem propôs o slogam “Não e Não”? Quem interditou o debate de idéias baseando-se no “paraensismo”, no “papa-chibesismo”? Do lado de cá números, alternativas para o desenvolvimento, proposta de ação integrada; do lado de lá criminalização da reivindicação, leviandades e tentativa de manipulação do eleitorado de Belém por candidatos à prefeito. “Disputas paroquiais”? Em Belém Zenaldo, Pimentel, Edmilson travam o quê? “Disputa republicana de alto nível”? Ora, faça-me o favor.
Lúcio - As lideranças, coniventes com esses paradoxos, ou que lhes deram causa, são as mesmas que carregam os estandartes das campanhas territoriais. Subordinam as teses aos seus interesses de tal forma que não conseguem ter unidade e nem se interessam por aumentar a consciência dos seus companheiros de luta. Querem massa atrás de si, como em todas as eleições, que mudam os nomes para manter as situações.
Eu – Lúcio comeu algo que lhe assentou muito bem. Como seriam coniventes ou lhes dariam causa quando jamais uma liderança oriunda de Carajás sentou-se à cadeira de Governador do Estado? Quando jamais Carajás e Tapajós conseguiram ser maioria ou pelo menos ter parlamentares em número relevante na Câmara Federal e na Assembleia Legislativa. Nessas duas regiões a cada eleição trava-se uma verdadeira guerra sem quartel para impedir que os votos de Carajás e Tapajós elejam figuras que trabalharão para perpetuar a submissão das duas regiões aos desígnios de Belém. Lúcio precisa vir mais vezes à Carajás. Garanto que sua integridade será preservada nesta terra que ele chama de “incivilizada”.
Lúcio - O que eles mais deviam corrigir, é justamente o que mais negam: uma nova organização espacial para viabilizar os três Estados que surgiriam desse desenho irracional. O Tapajós sofrerá da mesma macrocefalia do atual Pará, enquanto Carajás será uma satrapia dos “grandes projetos”, ou da antiga Companhia Vale do Rio Doce, mais ao molde do “desenvolvimento desequilibrado corrigido” do que o atual Pará.
Eu – Lúcio aderiu ao discurso fácil e sem profundidade que ele diz combater. O tamanho de Tapajós volta à baila (incrível como a elite belenense tem essa estranha fixação por tamanho; uma coisa meio infantil do tipo “o meu é maior que o seu”). Ora, Tapajós terá 70% de seu território ocupado por Áreas de Proteção Permanente (APP). Isso lhe permitirá ser um “estado-verde” por excelência. As possibilidades de manejo sustentável da floresta e dos rios, combinada com a exploração do eco-turismo serão forte alavancas de desenvolvimento do futuro estado; combine a isso a produção de grãos e Tapajós torna-se viável; Quanto à “satrapia” da Vale, Lúcio ainda está com a cabeça no século passado. A relação com a Vale jamais será pacífica, mas as lideranças políticas e empresariais de Carajás começam a descobrir maneiras de extrair da empresa os ressarcimentos devidos. E esse jogo de pesos e contra-pesos tende a intensificar-se com a criação do Estado do Carajás. Lúcio nos julga submissos. Ele nos tem em conta muito baixa. Típico da arrogância belenense. Quais avanços na relação com a Vale foram propiciados pela intervenção dos políticos belenenses ele não diz e não diz por que não existiram.
Lúcio - Qualquer que venha a ser o desfecho desse novo momento da história brasileira, uma coisa é certa: se houver mudança, nada mudará; se não houver mudança, as portas da transformação terão sido abertas porque a situação não regredirá ao status quo ante pelo menos num ponto: de que as coisas que estão assim só têm que continuar assim como estão. Eu – As amarras ideológicas oprimem o cérebro de Lúcio. A profundidade de sua análise, inferior a de um pires, o obriga a este malabarismo lingüístico para não reconhecer que Carajás e Tapajós REPRESENTAM O MAIOR PROJETO DE DESENVOLVIMENTO PARA TODA A REGIÃO NORTE e que, em caso de derrota, essas duas regiões terão perdido as condições históricas para sua emancipação e precisarão de mais 20 anos para reapresentar esse projeto. Entenderam a beleza do raciocínio deste Colosso à serviço da "Turma do Contra"? Para tudo mudar basta que aqueles que defendem Carajás e Tapajós DESISTAM DE SUAS REIVINDICAÇÕES! "Rendam-se e as 'portas da transformação' estarão abertas para vocês!". Comigo não, violão!
Lúcio - O interior compreendido por Tapajós e Carajás poderá, enfim, conquistar o poder executivo estadual, complementando a consolidação do poder que já possui no legislativo paraense, majoritariamente formado por políticos do interior. Eu – Mano, é isso que dá exagerar no Black Label! Quer dizer que depois de termos sido derrotados, ganharemos o Governo do Estado? Que “poder” possuímos no legislativo paraense? As duas regiões somadas elegeram 17 deputados estaduais de um total de 41 deputados! Dos 17 deputados federais apenas 6 apoiam Carajás e Tapajós! Ao contrário, é voz corrente na capital do Pará que aqueles que se expuseram defendendo Carajás e Tapajós terão sérios problemas para eleger-se novamente e quem tem mais que um par de neurônios funcionando sabe que o Governo do Estado pode tornar muito dura a vida de um parlamentar.
Bem, Caros e Caras, aos poucos vão saindo das tocas esses arautos que decidiram integrar a vanguarda do atraso. Quem tiver a pachorra para ler o texto integralmente verá que quase 2/3 dele é dedicado a uma certa historiografia muito peculiar. Aquilo não está ali por acaso. É uma espécie de placa a sinalizar que ali está um "doutor" em Pará a pensar e refletir sobre o nosso destino. Trata-se de uma tentativa de "legitimação pelo saber". Comigo não cola. Tolices são tolices quando saem da boca de uma criança ou quando são proferidas por doutores insensatos. A diferença é que à criança resta a desculpa da imaturidade e nos doutores fica patente o raciocínio tosco ou a má-fé explícita. Alguns usam o conhecimento para iluminar caminhos. Outros preferem usar o que sabem para tornar ainda mais penosa a caminhada. Lúcio Flávio poderia ter feito análise mais consistente da questão. Preferiu o caminho mais fácil. Uma pena. Sai deste debate bem menor do que entrou.
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