No poema de Haroldo de Campos, as palavras manejadas por um mestre |
Recebi a manifestação elegante e educada de Luciano Guedes que segue abaixo. Comento em seguida.
"Prezado Rebelo.Infelizmente você me interpretou mal hoje. Fui acionado pela manhã para tomar providências a respeito de mais um conflito em uma propriedade rural. Segundo informações trabalhadores estariam sendo torturados por homens armados que invadiram a sede da fazenda Cedro. Amigo, é inaceitável que em pleno século XXI pessoas estão matando outras de forma brutal, animalesca, e as autoridades ( o poder público ) nada faz... Imagina que estamos em uma guerra civil silenciosa e nada fazemos... Isto me deixa frustrado como político de um Estado Brasileiro que não se tem o respeito pela vida...
Não estou aqui discutindo as razões e a questão social... nada disto justifica a violência...
Criei então um paralelo, comparando " enquanto milhares de pessoas oram no Cirio em Belém, no Sul do Pará transcorre a guerra civil silenciosa". - sei que também não concorda com isto e precisamos nos unir nesta cruzada pela PAZ... PAZ NO CAMPO E NAS CIDADES... A violência no campo também chegou a níveis inaceitávies e a impunidade é a regra... Precisamos todos estarmos juntos neste grande desafio que é o de criarmos 3 novos Estados a partir do Estado do Pará, pois assim aproximamos as políticas públicas dos cidadãos e certamente teremos melhores condições de vida para o nosso povo.
Desejo sucesso no seu trabalho e que continue com a sua postura de questionador das relações sociais e apoiador da redivisão territorial do Pará .
atenciosamente
Luciano Guedes"
Eis-me aqui:
Reli o texto "A invasão da "Cedro" - Sobre anjos, demônios, homens e um Estado ausente"(leia aqui). E não creio que tenha interpretado erroneamente as palavras de Guedes.
Na verdade, a manifestação do prefeito e presidente da AMAT era apenas um gancho a dar vida à crônica.
Vejam lá que a ÚNICA ressalva que fiz à reclamação de Guedes foi no tocante ao paralelismo entre a violência no campo e a festa religiosa. E o fiz porque entendo que, ao contrário de fortalecer, acabou enfraquecendo a denúncia.
Foram diversos os usuários do microblog Twitter a criticar a referência ao Círio de Nazaré.
Estamos aqui a usar palavras; e palavras, acima de tudo, trazem consigo a carga do simbolismo, portanto usa-las com zelo é fundamental.
O fato denunciado era de tal gravidade que a menção à festa maior do Pará, além de desnecessária, soou como chacota ou sarcasmo, que cabe na boca de um polemista mas é dispensável nas palavras de uma autoridade como Guedes. Não discuto o seu objetivo. Aponto apenas como suas palavras foram recebidas.
Em outra vertente, entendo que o ÚNICO LADO decente para se estar em litígios de qualquer natureza, e em especial os litígios agrários, é o LADO DA LEI.
Guedes fez o certo ao reivindicar a presença da força policial e eu disse isso com todos os efes e erres.
No mais insisto que não se pode demonizar os movimentos sociais, sejam eles formados por posseiros do MST ou por fazendeiros. Ambos articulam-se politicamente e estão certos em fazê-lo. A poderosa Confederação Nacional da Agricultura (CNA) não é em nada menos influente que a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG) e é positivo que assim seja. Um sistema de pesos e contra-pesos é essencial para o jogo democrático.
Ainda, movimentos sociais não são "ontologicamente" certos ou errados. É na ação cotidiana que se comprovam legítimos (ou ilegítimos) e essa legitimidade quase sempre é definida pelas armas que escolhem para defender direitos que julgam possuir.
Citei no texto anterior um incidente recente envolvendo guardas ilegalmente armados que expulsaram posseiros em Santa Maria das Barreiras. Como é fácil depreender, estavam à serviço de um fazendeiro. Por conta desse fato não se pode imputar a TODOS os fazendeiros a pecha de criminosos.
Ora, o mesmo argumento vale para os posseiros. A ação criminosa de alguns não pode tornar a reivindicação por terra inválida.
Deixo claro também, lá como cá, que no vácuo criado pela omissão do Estado viceja a insegurança jurídica que leva à violência.
Concluo este texto reafirmando que não existem anjos ou demônios neste debate. Apenas homens abandonados pelo Estado que deveria ser o mediador dos interesses em conflito mas que quase sempre brilha pela ausência.
Quanto a minha posição sobre a criação dos Estados do Carajás e do Tapajós, bom, basta vasculhar as minhas palavras contidas no blog para ver qual é.
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