Na sexta-feria (26) Hiroshi Bogea em seu blog publicou "Idiotice ao cubo". No texto, Bogea faz referência à forma preconceituosa com que Carlos Kayath referiu-se a Marabá quando noticiou a morte de um trabalhador rural. No entendimento de Bogea, o título do texto de Kayath ("Marabala"), não deixa dúvidas a respeito da visão do autor sobre nossa região.
Para Kayath, ao grafar "Marabala" a imagem mental que lhe ocorre é de uma terra sem lei, na qual bárbaros entregam-se alegremente às chacinas e a violência é desmedida. Enquanto Belém é tratada por epítetos como "Mangueirosa", "Cidade Morena"e "Metrópole da Amazônia", para Marabá sobre "Marabala".
Na verdade, para muitos que se julgam "formadores de opinião" entre os belenenses, o território paraense divide-se em dois: Belém (que para eles estende-se do centro até, no máximo, o bairro do Marco) e aquilo que eles denominam "interior do Estado".
É justamente aí, nesta visão distorcida e certamente preconceituosa, que reside a origem de todas as mazelas que afligem não apenas Carajás e Tapajós, mas todas as demais regiões do Estado.
Para não ficar no diletantismo, vamos aos fatos.
No post "Pará, Carajás e Tapajós - Com esses números não dá para manter a família unida" (Leia Aqui), divulguei os números do estudo final do IDESP (os dados estão disponíveis no site do Instituto) sobre os efeitos da criação do Carajás e Tapajós. Basta que usemos apenas alguns deles para perceber como os políticos belenenses, esta pseudo-elite destrambelhada, com suas escolhas infelizes, nos obrigam a viver em um cenário de violência.
A partir dos anos 80 a região do Carajás teve forte crescimento demográfico. Enquanto a população de Belém (e a região do Novo Pará) cresceu em média 66% em três décadas, aqui crescemos mais de 160% no mesmo período.
Com mais pessoas para cuidar passamos a ter mais demandas, contudo, ao invés de aumentar os gastos do Estado na região, em setores essenciais, por incrível que pareça diminuíram.
Na Educação, em 2010, na região do Novo Pará o Governo do Estado gastou 1 bilhão e 500 mil reais. Aqui, em Carajás foram gastos apenas 20 milhões de reais. Enquanto o Novo Pará conta com 6.991 escolas, Carajás tem apenas 1.993 estabelecimentos de ensino.
Da carência de ensino decorre a desqualificação da mão-de-obra do Carajás para o mercado de trabalho. Por conta disso, o Novo Pará detém 668 mil postos de trabalho (ou 70% do total do Estado). No Carajás existem apenas 185 mil empregos formais (ou 19% do total).
Por outro lado, o Estado destaca-se pela ausência no que diz respeito à Segurança Pública na região do Carajás. No ano de 2010 foram gastos na região do Novo Pará cerca de 265 milhões de reais com Segurança Pública. Para Carajás, no mesmo ano, foram destinados 13 milhões de reais.
É esta combinação perversa de ausência de educação, baixa oferta de empregos e ausência do aparelho de repressão à criminalidade que explicam o crescimento da criminalidade. Prestem atenção a estes números. Quando analisamos os dados apenas de homicídios vemos que o Novo Pará com 19,4 assassinatos por grupos de 100 mil habitantes, em 2009, já está muito além do aceitável segundo a Organização Mundial da Saúde (para a OMS o índice tolerável é de 10 homicídios por grupo de 100 mil habitantes). Então, o que dizer do Carajás que apresentou 55,3 homicídios por grupo de 100 mil habitantes? Aqui trava-se uma guerra cotidiana e como as estatísticas mostram que 87% das vítimas está na faixa etária de 16 a 25 anos, a ausência do Estado favorece a dizimação dos adolescentes e jovens desta região.
Dois terços ou 66% dos cargos públicos do Estado do Pará estão nas mãos de políticos belenenses ou de seus apadrinhados. Disso decorre que, para atender aos seus "currais eleitorais", os tais operam violenta concentração de investimentos na capital do Pará. Essa concentração ocorre há várias décadas sem ter ser interrompida. E se depender dos belenenses assim permanecerá para sempre.
Kayath deprecia a região do Carajás como um todo e Marabá em especial. Segue o mesmo caminho do vereador de Belém, Nadir Neves, que responsabilizou os "forasteiros" pela criminalidade na região e tem como proposta a ideia de jerico de "fechar" as fronteiras do Estado para os migrantes. Eles não estão sozinhos. Kayath e Nadir Neves apenas representam o pensamento preconceituoso e reacionário que grassa na capital quando o assunto é Carajás e Tapajós.
Como se vê o preconceito e a desinformação ofendem. Pior do que isso, chegam a matar.
Ainda bem que contra esses venenos existe um antídoto poderoso: a informação.
Se nos calarmos, quem vai falar por nós?
Pense nisso.
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