10 de agosto de 2012

Relação entre Veja e Cachoeira era profunda, diz revista

A "Síndrome da Sexta-feira" continua assombrando o Brasil. Basta aproximar-se o final de semana para políticos e jornalistas começarem a se perguntar o que vem mais por aí.
Nesta sexta (10), a revista Carta Capital mostra que as relações entre Veja e o chefe mafioso goiano Carlos Augusto Ramos, o Cachoeira, eram muito mais profundas do que se podia imaginar e principalmente, muito mais intensa e nebulosa que o devido decoro exige.
Veja, sempre tão ansiosa para ser fiscal da conduta alheia, escorrega na ética quando alia-se objetivamente a um conhecido contraventor.
Somente Veja e Demóstenes Torres juram que não sabiam das peripécias de Cachoeira! Nem os senadores da República, sempre tão corporativos e ansiosos por acreditar em qualquer história para boi dormir, caíram nessa!
Mas, para Veja tratava-se de uma relação "necessária". A revista precisava ser íntima do criminoso para denunciar os crimes. Coincidência que Veja denunciasse exatamente aquelas pessoas consideradas adversárias do bando de Cachoeira.
Como tantos outros eventos neste caso do Cachoeira, o comportamento de Veja tem um certo eco n'O Poderoso Chefão, de Mario Puzzo. No romance um capitão da polícia, corrupto até a medula, passa a ser guarda-costa do "turco" Solozo, um chefete mafioso. Segundo seu raciocínio, um policial acompanhar um criminoso não trará maiores problemas. "Afinal, sempre vou poder dizer que ele era meu informante".

O comportamento de Veja em relação a Cachoeira é bem parecido. O conteúdo de gravações feitas pela Polícia Federal mostram a relação profunda do diretor da sucursal de Veja em Brasília, Policarpo Junior, com o quadrilha do bicheiro Cachoeira. Flagrado, pensa que basta alegar que Cachoeira era seu informante!
A relação entre eles aparece em uma série de interceptações telefônicas realizadas durante as operações Vegas e Monte Carlo. O objetivo básico da ligação entre os dois, conforme a reportagem de Leandro Fortes, era manter o fluxo de informações para a revista contra alvos específicos. Em troca, Policarpo informava o grupo de Cachoeira sobre o que seria publicado.
Um momento crucial foi a conversa entre Policarpo e Cachoeira no dia 26 de julho de 2011. O jornalista pede ao contraventor para grampear um parlamentar da base governista, o deputado Jovair Arantes (PTB-GO). Em suma, o diretor da Veja queria saber o que Arantes conversava com os dirigentes da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), ligada ao ministério da Agricultura.
Na próxima quarta-feira 14, o deputado Dr. Rosinha (PT-PR), deve ir ao plenário da CPI do Cachoeira para apresentar um requerimento de convocação de Policarpo com base nas informações da Polícia Federal.
Ah, sim, no livro de Puzzo vê-se o destino do capitão de polícia. Ele é assassinado friamente por Michael Corleone, em uma cena que tornou-se clássica do filme de Coppola (o sangue que jorra da garganta do policial sobre o prato de spaghetti é algo fabuloso). Quanto ao destino de Veja, quem sabe?
Veja trechos da conversa entre os fratelli Policarpo e Cachoeira:




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