Como era previsível, a passagem por Marabá do governador do Pará, Simão Jatene, foi marcada por diversas manifestações contrárias ao tucano. O governador veio à cidade ontem (7), ostensivamente, para entregar 10 leitos no Hospital Regional e assinar duas ordens de serviços, mas na prática o objetivo era alavancar a candidatura de seus apadrinhados na região. Em Marabá, Jatene veio der "aquela força" ao ex-prefeito e candidato ao mesmo cargo, Tião Miranda, claramente identificado como o "homem de Jatene" na cidade e que depois de ser considerado franco favorito à vitória, vem apresentando quedas acentuadas e constantes nas pesquisas de opinião. Há quem aposte que já não estará na frente nas próximas pesquisas que serão divulgadas.
Além de perder rapidamente pontos preciosos junto à opinião pública, Tião vê que é justamente João Salame, deputado estadual e líder da luta em favor de Carajás, aquele que mais cresce na preferência popular. Tendo rompido publicamente como o governador do NÃO, João credencia-se como a contraposição exata a Tião e colhe os justíssimos frutos decorrentes de sua coragem de peitar os poderosos de Belém.
Ontem no aeroporto com cartazes e palavras de ordem, integrantes do grupo Carajás e Tapajós Vivos!, dos mais influentes nas redes sociais, lembraram que Jatene foi o articulador da verdadeira guerra em que ele transformou a discussão sobre a criação do Estado do Carajás e, claro, mostraram como Tião, já chamado de "Tião do NÃO", é seu êmulo em Marabá.
Na página do Grupo Carajás e Tapajós Vivos!, um de seus integrantes publicou o mural que ilustra este texto, no qual está registrada para sempre a consequência da política de confronto estabelecida pelo governador que pode ter impedido a divisão, mas rachou o Pará. Que a Polícia Militar seja mobilizada para impedir o contato do governador com o povo que governa é algo vergonhoso!
Mesmo sem ter feito grandes coisas pela região do Carajás, Jatene sempre foi bem recebido em Marabá e região. Depois que todo o peso do cargo de governador do Pará foi usado para tentar esmagar outros paraenses, que cometeram o único crime de querer a emancipação administrativa de duas regiões que Jatene é incapaz de cuidar, não parece possível que no curto prazo Jatene, o PSDB e quem quer que a eles se alie, possam mostrar a cara nas eleições na região do Carajás sem que sejam apontados como contrários à Carajás, na prática contrários à vontade de 95% da população.
Um fosso está definitivamente estabelecido entre aqueles que defendem Carajás e aqueles aliados à Jatene e ao PSDB. Querendo o bônus de nomear até vigia de escola pública estadual e todas as benesses (republicanas ou não) que o Poder oferece, estes quase-carajaenses precisam entender que haverão de arcar com o ônus de serem considerados as "traíras" do Tocantins. É o preço que deverão pagar por serem "influentes" junto à Jatene.
Por outro lado, o governador tucano deveria preocupar-se mais com seu próprio futuro. Mesmo vitorioso eleitoralmente no Plebiscito de dezembro passado, Jatene restou derrotado politicamente, a maioria de seus candidatos simplesmente não consegue decolar em seus municípios e não são poucos os tucanos que já cogitam apresentar outro nome para representar o partido nas eleições de 2014. Para alguns, até mesmo aderir ao projeto do PMDB, com Helder Barbalho à frente já não parece tão ruim.
Tudo isso me parece bastante dentro do previsível.
Leitores antigos do blog sabem que desde sempre insisto que Jatene não "ganhou" as eleições de 2010. Foi Ana Júlia quem as perdeu!
Às vésperas do pleito daquele ano ninguém dava uma pataca pelas chances de Jatene. Os problemas de relacionamento interno do PT, e deste com seus aliados, construíram a janela de oportunidade para a tucanada amplificar os "defeitos" do governo de Ana Júlia. A coisa colou, mas, ao contrário de eleições anteriores nas quais os tucanos buscavam elaborar um plano mínimo de gestão, desta vez, como ninguém acreditava que Jatene pudesse ir muito longe, plano algum foi elaborado. A surpresa foi tão grande que a ela seguiu o desespero de montar o que chamo aqui no blog de "Condomínio Pará", rateando os espaços do governo com seus aliados.
Como cada aliado (partido ou pessoa), sentiu-se imprescindível à "governabilidade", tratou de transformar cada cargo ou órgão público em "seu feudo". Disto decorrem mazelas, como a ausência de um projeto global que dê consequência às políticas governamentais e oportuniza enormes chances de corrupção
Resumindo: Jatene governa por espasmos, sendo meramente reativo na maioria das grandes questões e as decisões estratégicas que toma (ser contra Carajás e Tapajós ou criar a "Taxa da Mineração"), parecem ser tomadas mais com o fígado que com o cérebro.
As manifestações de ontem deveriam servir para que Jatene refletisse sobre aquele velho aforisma segundo o qual "quando a cabeça não pensa, o corpo padece". Desde que candidatou-se, em 2010, Jatene vem demonstrando ter mais sorte que juízo. Aos poucos, sua sorte parece estar acabando.
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