Eu poderia dizer que a notícia da desistência de Faisal Salmen (PSDB) em concorrer a uma vaga na Câmara Municipal de Parauapebas provocou um cataclismo na política da cidade. Que virgens imolaram a castidade pelas ruas da medina. Que suicidas rituais explodiram-se da Cidade Nova ao Bairro da Paz. Que o desespero tomou conta dos moradores do burgo e que todos invocaram Alá, o Grande, o Misericordioso, para que os protegessem de tão grande tragédia.
Ocorre que nada disso aconteceu!
A renúncia é apenas o desdobramento lógico da rota de colisão traçada pelo próprio Faisal em relação à direção do PSDB, desde as eleições de 2010 e foi encarada com naturalidade pela direção do PSDB.
Vejam bem.
Depois de fechar acordo para apoiar o deputado federal Wandenkolk Gonçalves, nas eleições gerais de dois anos atrás, Faisal acabou costurando acordo com Nilson Pinto. Passadas as eleições, Wandenkolk assumiu a coordenação do PSDB em toda a região de Carajás e, claro, destituiu Faisal da presidência do PSDB em Parauapebas, colocando em seu lugar José Rinaldo. Além de reduzir a influência de Faisal no partido, Wandenkolk, acertadamente, acenou com uma possível oxigenação do ninho tucano.
Faisal jamais engoliu a decisão.
Acredito que a coligação com o PSD, de Valmir da Integral, visando as eleições deste ano, tornou a coisa ainda mais difícil para o ex-prefeito, ex-secretário municipal, ex-deputado e ex-marido de Bel Mesquita.
Sem espaço na campanha, Faisal provavelmente calculou que menos espaço teria em um hipotético governo de Valmir. Antes de renunciar o ex-candidato ameaçou deixar a legenda. Foi avisado que o PSDB pediria imediatamente o mandato com base no estatuto da fidelidade partidária. A renúncia seria a forma de Faisal mostrar-se imprescindível à campanha de Valmir.
Criada a crise, Faisal esperava uma corrida desesperada de lideranças para demovê-lo da decisão. E isso não aconteceu!
Ao contrário.
Conversei pela manhã com Zé Rinaldo (na foto acima) e outros dois líderes tucanos. Todos mostraram muita serenidade ao comentar o assunto.
Como sempre cortês e educado, Zé Rinaldo mostrou-se resignado com a decisão de agora ex-candidato. Concorda que os estimados 2.400 votos que Faisal traria farão falta ao PSDB. "Todo voto a menos faz falta", disse. Segundo ele, esta possibilidade já vinha sendo avaliada pela direção dos tucanos há bastante tempo e não chegou a ser surpreendente. "Era algo mais ou menos esperado. Ainda bem que foi no início da campanha", disse.
Mas, Zé Rinaldo formula uma avaliação positiva do episódio e baseia-se em três motivos:
Em primeiro lugar, a renúncia aconteceu no início da campanha, dando tempo para que a coligação reordene sua estratégia e estabeleça novas metas.
Em segundo lugar, a saída de Faisal dá novo ânimo aos candidatos do PSDB, na medida em que todos (ou quase todos) podem pleitear uma vaga e sair à cata dos "órfãos" e "viúvas" de Faisal.
Em terceiro lugar, a desistência de Faisal não implica na transferência do ex-candidato de "mala e cuia" para a candidatura de Coutinho. Além disso, ataques vindos de Faisal sempre parecerão expressões de "rancor".
Parece-me a forma educada de dizer "vá em paz"!
Zé Rinaldo, na forma direta que lhe é peculiar, não deixa de reconhecer que existem problemas na campanha de Valmir, como de resto todas as candidaturas os têm.
Mas, argumenta que "mesmo com problemas, Valmir segue com mais que o dobro de intenções de voto em relação ao segundo colocado. Então, a campanha não pode estar tão ruim assim".
Confesso que esperava uma certa arrogância entre os tucanos. Afinal, na última pesquisa que se tem notícia, o candidato à prefeito tinha mais de 40% das intenções de voto. Mas, aqueles com quem conversei hoje mostraram uma curiosa lucidez. Sabem que estão na frente, mas dizem que a campanha será duríssima e que será sempre difícil derrotar uma aliança formada por PT e PMDB. Diria que percebi um otimismo sob controle. Não sei se o mesmo espírito move os outros membros da direção da campanha de Valmir, mas deveria ser. Como se sabe, " resultado de eleição e mineração, só depois da apuração".
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