20 de junho de 2012

Vale a pena ler: Veja como alunos de escola pública se preparam para lançar satélite em órbita

Eles não são doutores do MIT, não trabalham para a Nasa, nem fazem pós graduação em um programa milionário de alguma das agências espaciais espalhadas pelo mundo. A turma, que há quase dois anos estuda técnicas para construir uma peça aeroespacial e maneja tecnologia específica para lançar um satélite em órbita, o Tancredo I, é formada por meninos e meninas de 12 anos da Escola Municipal Presidente Tancredo Neves em Ubatuba, São Paulo. Sim, 12 anos. Estão no oitavo ano do ensino fundamental e vêm, principalmente, da comunidade de baixa renda vizinha à escola.
Sem que soubessem, porém, um mundo de oportunidades iria se abrir a partir de fevereiro de 2010, quando uma notinha publicada em uma revista de ciências caiu nas mãos do professor de matemática Candido de Moura. O texto falava que uma empresa na Califórnia estava vendendo kits que permitiam a construção de satélites de pequenas dimensões e que, depois de pronta, a peça poderia ser lançada no espaço.
Moura resolveu tentar comprar o kit para construir o satélite com os alunos. “Eu gosto dessa parte prática. Não queria fazer esses exercícios de sala de aula que vêm prontos, com número preparado para a resposta não dar valor quebrado”, afirma o professor. Ele telefonou para a empresa, disse que queria comprar. A recepção foi calorosa, mas veio com um aviso. “Eles ficaram empolgados com a perspectiva de ter meninos de 10 anos construindo o satélite, mas avisaram que precisaríamos de ajuda técnica para colocar o projeto em prática”.
Moura tinha então três problemas para resolver: reunir gente que tivesse vontade de tocar o projeto, conseguir financiamento de US$ 8.000 para comprar o kit e, por fim, ter a ajuda de quem entendia do assunto para o desenvolvimento do conhecimento específico. O primeiro, diz o professor, foi o mais fácil, afinal não era difícil juntar pessoas interessadas em construir um satélite. O segundo, que era verba, também se resolveu com o contato com patrocinadores. Para vencer o terceiro desafio, bateu à porta do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), foi recebido com entusiasmo e fechou a parceria.
Desse ponto até o início do trabalho com os alunos, foram meses lidando com o ir e vir de papeis para firmar convênios e trazer o que os EUA chamavam de “tecnologia sensível” para a América Latina. Enquanto resolvia a parte burocrática, Moura começou a sensibilizar os alunos com filmes sobre missões aeroespaciais bem e mal sucedidas, para despertar na turma o interesse pelo assunto. Com todo o projeto devidamente autorizado e regulamentado, revelou o plano para os meninos, que aceitaram o desafio. Começaram, então, os treinamentos para transformar o kit em um satélite. “É preciso ajustar o projeto, soldar os componentes que vêm no kit, comprar algumas peças no mercado”, afirma o professor.

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